Blog do José Cruz

Arquivo : março 2012

Romário, a estranha ausência da estrela
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José Cruz

Romário, o deputado carioca do PSB que –  com razão –   critica frequentemente a falta de transparência nos gastos públicos para a Copa 2014, com repercussão internacional, inclusive, foi o principal ausente nos debates de quarta-feira, na Comissão de Turismo e Desporto da Câmara dos Deputados.

Numa audiência pública, o ministro Valmir Campelo, do Tribunal de Contas da União, foi à Câmara para falar justamente sobre o que Romário critica: gastos e transparência.

Romário passou rápido pelo plenário da Comissão, assinou o livro de presença e se mandou. Isso é comum na Casa.

Logo ele, Romário, que há uma semana declarou que “a Copa será a maior roubalheira do mundo”…

E disse mais, que dos 513 deputados,  “400 não querem saber de nada. Nada mesmo”.

O “Baixinho” – com licença, excelência –  perdeu a oportunidade de conhecer detalhes da fiscalização, aumentar conhecimentos sobre o assunto e esclarecer dúvidas. O ministro relator da Copa estava com documentos das auditorias realizadas desde 2007, com respostas a todas as indagações e disposto ao diálogo.

Danrley, ex-goleiro do Grêmio, também teve passagem meteórica pela Comissão. Saiu antes mesmo de começarem os debates.

                                                              Romário e Deley: bocas fechadas

Já o deputado Deley, ex-craque do Fluminense, não apareceu, assim como Popó, suplente da Comissão, mas presidente da Frente Parlamentar do Esporte, e, por isso, interessado direto no assunto.

Em resumo, Valmir Campelo falou para meia dúzia de deputados. Em pouco mais de uma hora a reunião estava encerrada. O diálogo com o Legislativo foi protocolar, só isso.

Realidade

O Congresso Nacional vive momento de “arrumação” e de entendimentos com o Palácio do Planalto para acertar bases aliadas. Em outras palavras estão ajustando o “toma lá dá cá”. Ou o “é dando que se recebe”.

Além disso, há articulações políticas para as eleições municipais deste ano, o que deixa os demais assuntos nacionais em segundo plano.

Mas no caso da Copa no Brasil estamos tratando, prioritariamente, de um assunto que consumirá R$ 33 bilhões dos cofres públicos.

E o TCU tem feito trabalho intenso e detalhado sobre as obras em andamento, a fim de evitar repetições do Pan 2007, conforme lembrou o ministro Campelo. Naquele evento, pagou-se por serviços não realizados, por material não entregue e o superfaturamento em muitas obras foi real.

Omissão

O que temos, por enquanto, é omissão das excelências. Não só pela enrolação no voto do Projeto Geral da Copa, mas pela falta de envolvimento efetivo nas questões que não são só esportivas, mas da economia nacional como um todo. E, principalmente, da oportunidade de se testar a real transparência dos gastos governamentais.

Silêncio parlamentar… logo deles, que são os representantes de quem, na verdade, está pagando esta conta bilionária, o contribuinte-eleitor.


Copa 2014: TCU ameaça multar Ministério do Esporte por atrasos no planejamento
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José Cruz

Depois de três anos de cobranças e a 15 meses da abertura da Copa das Confederações, no Brasil, os ministros do Tribunal de Contas da União (TCU) decidiram ameaçar o Ministério do Esporte de aplicação de multas por omissão constitucional.

A pasta, dirigida desde outubro pelo ministro Aldo Rebelo, resiste apresentar a matriz de responsabilidade dos dois últimos dois ciclos de planejamento para a Copa 2014.

Esses ciclos envolvem, entre outros investimentos, as áreas de saúde, telecomunicações e segurança.

Em resumo: o TCU quer saber qual dos três níveis de governo – municipal, estadual e federal – será responsável por obras e liberação dos recursos. Mas faltam informações que o ministério esconde.

Decisão máxima

Diante dessa omissão, a principal corte de fiscalização dos gastos públicos no país partiu para a ameaça extrema:

“…notificar o Ministério do Esporte que novo descumprimento  da deliberação (pedidos do TCU) pode redundar na aplicação de multa aos responsáveis, tal qual estabelece o art. 58, inciso IV da Lei 8.443/92”.

A determinação está no Acórdão 563/2012 do Tribunal de Contas, aprovado em 14 de março deste ano.

Fugindo da transparência

O relatório, apresentado pelo ministro Valmir Campelo, designado pelo TCU para cuidar do assunto “Copa 2014”, foi claro na sua análise diante da omissão do Ministério do Esporte:

Nesse cenário, sem rodeios, a tônica do Ministério do Esporte é a seguinte: não se faz necessário que a matriz de responsabilidades conceba absolutamente todas as ações e gastos necessários para a realização dos jogos; e a disponibilização de um cronograma crítico a ser perseguido para a apresentação das providências relativas ao segundo ciclo não se fazem tão urgentes. A visão apresenta algumas recalcitrâncias com relação aos alertas e recomendações já veiculados pelo TCU”.

Ou seja, a turma do Ministério do Esporte que cuida da Copa 2014 – herança do ex-ministro Orlando Silva – não está nem aí para as determinações oficiais do controle dos gastos públicos.

Pior: foge de exigências constitucionais, faz o que bem entende. Tanto, que há três anos é cobrado e…

Lembranças do Pan

Em seu documento, Valmir Campelo também alerta que a falta desse planejamento é um risco ao desperdício do dinheiro público:

A matriz de responsabilidades completa é o documento que viabiliza a disponibilização à sociedade, no decorrer e ao final do evento, de todas as demonstrações financeiras dos gastos realizados. Até mesmo para evitar dispensas de licitações justificadas pela urgência de uma ou outra ação alegadamente não conhecida. Ou ainda, a assunção pelos cofres da União de providências não tomadas pelos parceiros estaduais ou municipais, tal qual ocorreu nos Jogos Panamericanos de 2007”.

Enquanto isso…

… o TCU cuida de outros dois processos que envolvem recursos de R$ 34 milhões, ambos já extintos, mas não esclarecidos pelo Ministério do Esporte.

O primeiro, com a Fundação Getúlio Vargas (R$ 10 milhões), “para monitorar os projetos para a realização da Copa de 2014”.

O segundo com o suspeito “Consórcio Copa” – que já foi motivo de reportagem do UOL Esporte –, com sede em São Paulo, no valor de R$ 24 milhões, também para monitoramento de ações da Copa do Mundo no Brasil.

É de estranhar que mesmo desembolsando R$ 34 milhões para dois órgãos especializados o Ministério do Esporte não tenha conseguido concluir o planejamento que lhe compete.

Palavra final

“Enfatizo que segundo as previsões do Ministério do Esporte – ainda no início do último ano (janeiro de 2011) – o primeiro ciclo da matriz estaria finalizado até 201; o segundo ciclo em 2011,  e o terceiro estaria em plena discussão neste ano, com previsão de término para 2013. Como se vê, existem atrasos, no que se refere ao término dessas previsões estratégicas. Um alerta ao Ministério do Esporte deve ser empreendido”, afirmou Valmir Campelo.

 


Cerveja, soberania e o pileque das excelências
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José Cruz

As excelências parlamentares debatem desde o ano passado sobre a venda de cervejas em estádios de futebol.

Sem acertar o passo, como de costume, a votação da Lei Geral da Copa, na Câmara dos Deputados, ficou para a semana que vem. O projeto ainda vai ao Senado Federal.

Porém, diante de tantos desencontros, deputados e governo têm um acordo:

“Os Estados que decidam” sobre vender ou não cervejas nos jogos da Copa 2014.

Levaram oito meses discutindo para, enfim, transferirem a responsabilidade da decisão aos estados-sedes da Copa.

Enquanto isso…

O Ato Olímpico para os Jogos Rio 2016 – que corresponde à Lei Geral da Copa – está em vigor desde 2009.

Foi aprovado sem qualquer barulho do Legislativo ou movimento popular, como os registrados agora, na tramitação da Lei Geral da Copa.

E no Ato Olímpico tem um artigo de arrepiar: o que transfere para a União (ou seja, para nós, contribuintes) o pagamento de eventuais prejuízos da Olimpíada Rio 2016.

Diz assim:

Art. 15. – Fica autorizada a destinação de recursos para cobrir eventuais déficits operacionais do Comitê Organizador dos Jogos Rio 2016, a partir da data de sua criação, desde que atenda às condições estabelecidas na lei de diretrizes orçamentárias e esteja prevista no orçamento ou em seus créditos adicionais.

Da mesma forma que a Lei Geral da Copa coloca a União como responsável por possíveis danos que a Fifa sofra no Brasil.

E ninguém gritou contra isso. Nenhum barulho, mobilização popular, votações adiadas, ameaças, nada!

Parece que a indignação à invasão ou agressão à nossa soberania concentra-se numa garrafa – ou lata –  de cerveja…

Sinceramente, essa turma só pode estar de pileque.

 


Aquele time afundou, mas a farra continua
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José Cruz

O time que começou o jogo da Copa 2014 no Brasil não está mais em campo.

Três dos quatro titulares, abaixo – Orlando Silva, José Roberto Arruda e Ricardo Teixeira (de costas) –  caíram vergonhosamente pelo mesmo motivo: denúncias de corrupção. Quanta coincidência!

Mas ficou este registro histórico do fotógrafo Fábio Rodrigues Pozzebom/ABR, de um tempo em que eles conseguiam rir. De quem?

 

Imagine o que Ricardo Teixeira teria dito para provocar gargalhadas

Para não perder a esportiva, escolha uma das alternativas ou acrescente a sua:

a)      Ai eu falei pro Sarney: esquece as denúncias daquele jornalista escocês, um tal  de Andrew Jennings… Ele e o Juca tão gagá…kkkkkkk

b)      Aí eu disse pro Lula: Vamos trazer a Copa pro Brasil … Vai ser uma festa!!!   kkkkkkk

c)       Aí eu perguntei pro Orlando Silva: Guardou a receita do Pan  2007? kkkk

d)   Ô  Arruda: o Campeonato Candango, que já tem 622 torcedores por jogo, tá merecendo um estádio para 72 mil pessoas… faz alguma coisa, pô!

Não dá pra rir,não. É de chorar.

. . . .

A foto, de Fábio Rodrigues Pozzebom/ABR , é de 26 de junho de 2008, no Palácio do Planalto.


Copa 2014: planejamento está atrasado três anos. TCU faz nova cobrança
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José Cruz

 A cobrança do Tribunal de Contas da União vem de 2009. Mas, até agora, a 15 meses da abertura da Copa das Confederações  –  de 15 a 30 de junho de 2013, em quatro capitais –  o governo federal não conseguiu concluir dois dos três ciclos de planejamento para a Copa 2014. Promete isso para em abril.

Com atraso de três anos no planejamento, esses ciclos cuidam, entre outras questões, da segurança, das telecomunicações, tecnologia da informação, saúde, fornecimento de energia etc. O primeiro ciclo definiu a responsabilidade dos governos federal, estaduais e municipais para as obras nos estádios, portos, aeroportos e projetos de mobilidade urbana. 

As informações estão no mais recente relatório do Tribunal de Contas da União, relativo a março.

Em 2009, o TCU pediu, entre outras providências, que o Ministério do Esporte – onde está o Comitê Gestor da Copa (Gecopa) informasse quais as áreas a serem incluídas na matriz de responsabilidade. Em vão. 

Oficialmente, a assessoria do ministro Aldo Rebelo informou que “As ações do segundo ciclo estão sendo discutidas no âmbito do Gecopa. Tanto o plano de segurança quanto o de telecomunicações estão em fase de finalização e serão deliberados pelo Gecopa em abril”.

 Riscos oficiais

Em junho de 2011, relatório do ministro Valmir Campelo, responsável pelo assunto Copa do Mundo, no TCU, já alertava para a gravidade do problema.

 “O Ministério do Esporte não cumpriu as determinações deste Tribunal. O gestor da pasta (Orlando Silva, à época) apenas encaminhou esclarecimentos para o não atendimento da deliberação”.

E fez uma previsão gravíssima:

“Depreende-se que o Ministério do Esporte, no papel de coordenador do Gecopa, não manifestou a intenção de determinar o cronograma de inclusão de ações na Matriz de Responsabilidades nem de fixar prazo fatal para a finalização deste instrumento de planejamento e controle das ações relativas à Copa do Mundo de 2014”.

 O planejamento dos dois ciclos é fundamental para que o governo determine quem será responsável pelas ações, assim como de onde sairá o dinheiro para os investimentos, como ocorreu no primeiro ciclo.

 Herança?

E 2011, escrevi sobre este assunto com base no relatório do TCU. Os riscos desses atrasos levam ao esgotamento de prazos, podendo se repetir o que vimos no Pan 2007. Naquela ocasião, sob alegação de “falta de tempo”, os gestores pularam etapas, suspenderam licitações, fizeram compras diretas e os preços foram para o espaço. Agora, estamos pagando a conta e voltamos ao mesmo caminho.

 Falta capacidade ao governo federal para elaborar o planejamento de suas obras, em três anos?

Ou será irresponsabilidade herdada da equipe do ex-ministro Orlando Silva e, aí, provocando a autoridade dos órgãos de fiscalização pública, como o TCU e a Controladoria Geral da União?

 Porque, na prática, ninguém será chamado às falas. O próprio Tribunal, no pós-Copa, reconhecerá que houve fraude, superfaturamento, desvio de verbas etc.

Mas os processos serão concluídos como tantos outros, sem responsabilizar ninguém. Por dois motivos: o governo não tem tradição em punir os maus gestores; outros escândalos, com certeza, levarão o torcedor-contribuinte a esquecer que os casos da Copa foram apenas mais um capítulo no país da corrupção.


Porta de saída
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José Cruz

Em 2001, o então presidente da CBF, Ricardo Teixeira, deu o seguinte depoimento à CPI da CBF Nike (*), na Câmara dos Deputados:

Deputado – Sr. Presidente, quanto tempo falta para terminar o mandato de V.Sa na CBF?

Teixeira – Dezembro de… Na realidade, primeira quinzena de janeiro de 2004.

Deputado – V.Sa. acabou de dizer, respondendo à pergunta anterior, de que não é candidato á reeleição.

Teixeira – A eleição da CBF, excelência, ela acontece seis meses antes do término do mandato. Isso é estatutário. eu já disse isso publicamente, já disse no depoimento da CPI do Senado, já disse em entrevistas que não sou candidato à reeleição.

Resultado

Por não cumprir a palavra, Ricardo Teixeira acabou saindo…. empurrado por denúncias de corrupção.

Dez anos depois das descobertas da CPI.

E, agora, sob a orientação do ex-ministro Orlando Silva que, por conhecer o caminho, o indicou a Ricardo Teixeira

    “A saída é por ali”.

 (*) do livro de Emile P.J.Boudens “A bola da paz e o mea-culpa de Ricardo Teixeira”


A Lei Geral da Copa: tentando entender os mistérios da liberação de bebidas
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José Cruz

Por Alexandre Guimarães

A tramitação da Lei Geral da Copa no Congresso Nacional já alcançou o status de folhetim dramalhão, cujo mote, apesar de várias inconstitucionalidades e concessões a uma entidade privada internacional, é a liberação ou não das bebidas alcoólicas nos estádios de futebol.

As idas e vindas do governo – batendo cabeça, até – mostram que o tema não é tão simples. Mas é óbvio o dever de o Estado restringir, ao máximo, o consumo de bebidas alcoólicas, como medida de interesse da saúde pública.

Estudo do Ministério da Saúde, publicado em 2009, constatou aumento no número de mortes por doenças relacionadas ao consumo de bebidas alcoólicas, saltando de 10,7 mortes por 100 mil habitantes, em 2000, para 12,64 mortes por 100 mil habitantes.

Por isso, a questão fundamental é de saúde pública e não de compromissos com entidades internacionais, que apenas passaram pelo País para recolher lucros (não há prejuízos de forma alguma para a FIFA). Em decorrência, deixam todo tipo de prejuízo para nós, brasileiros, cuidarmos.

Por conta da Copa, as discussões no Congresso Nacional sobre mortes em acidentes de trânsito e a Lei Seca foram deixadas de lado. Dizem que o público da Copa 2014 é diferenciado. Por quê? O brasileiro comum que frequenta os estádios por todo o País é pior? Não creio, pois o grave problema do alcoolismo independe de classes sociais ou quaisquer outros critérios que possam querer separar as pessoas.

Mas essa discussão deve se limitar ao governo e FIFA? Até o momento, ninguém trata do lobby das companhias de bebidas alcoólicas, força essa que sempre se moveu pelos corredores do governo, impedindo, por exemplo, a proibição de publicidade em televisões. É por isso que, hoje, qualquer criança ou adolescente sabe como se pode conseguir os melhores “gatas ou gatos”: basta tomar uma cervejinha qualquer. (Desculpem a ironia!)

Esqueceram, também, que a patrocinadora da FIFA é uma cerveja sem tradição no Brasil. Qual jogador ou artista vai ganhar a bolada (milhões de dólares, deixemos claro isso) para ser o divulgador da marca em nosso País?

Mas o folhetim “Lei Geral da Copa” ainda tem muitos capítulos pela frente.

Afinal, quem ganhará essa batalha? os “mocinhos” que querem manter a soberania nacional, legislando sobre o que interessa ao cidadão brasileiro e lutar contra a liberação “autoritária” de um mal ou os vilões,  que só  pensam nos próprios bolsos, festejando seus lucros, em detrimento do interesses do cidadão brasileiro? Sinceramente, tenho medo de ver a novela se transformar num antifolhetim.

Futebol e Carnaval

Finalmente, é oportuno lembrar que o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, chegou a comparar que proibir a venda de bebida na Copa seria como dissociar a bebida do Carnaval.

A diferença, contudo, é que podemos a qualquer momento proibir a bebida no Carnaval, se assim quiser o Estado, sem maiores questionamentos.

No entanto, no Carnaval Copa 2014, a Escola de Samba FIFA é quem quer dizer aos representantes do povo o que deve ser feito, atropelando a autonomia do governo numa legitima intromissão no Estado brasileiro. É uma inversão maluca de papéis que devemos nos opor e repudiar.

Alexandre Guimarães é consultor legislativo do Senado Federal


Copa 2014: notícia de um calote anunciado
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José Cruz

O secretário do estadual do Paraná para Assun­­tos da Copa do Mundo, Ma­­­­rio Celso Cunha (PSB), sugeriu que o Atlético-PR pegasse dinheiro em­­prestado do poder público pa­­ra a reforma da Arena, na expectativa de que a dívida deverá ser perdoada pelo governo federal.

Cópia do discurso de Celso Cunha, feito em 2010, para convencer a diretoria e os con­­selheiros do Atlético-PR a realizar empréstimo junto ao BNDES, foi parar nas mãos dos repórteres Adriano Ribeiro e carlos Eduardo Vicelli, do jornal Gazeta do Povo, de Curitiba.

A dupla publicou a reportagem na edição de domingo, com link para a declaração do secretário.

 “O que vai acontecer? Eu te­­nho quase certeza. Se os clubes forem assumir esses financiamentos (para obras em estádios) não vão pagar coisa nenhuma […] É claro que estou falando so­­bre suposição, mas eu acredito muito que vão perdoar essas dí­­vidas. Não vai ter como o go­­ver­­no co­­brar os clubes, quando o próprio Bra­­sil quer fazer a Copa do Mun­­do aqui”, disse Cu­­nha, pre­­vendo que, no fim das contas, o poder pú­­blico arcaria com to­­dos os gastos.”

Os repórteres foram ouvir Celso Cunha. Ele confirmou a declaração.

Previsão

Depois do fracasso da Timemania – loteria para cobrir o calote de clubes ao fisco – não tenho dúvidas de que o governo federal poderá, encerrada a Copa, dar a anistia prevista pelo secretário paranaense.

Se o Brasil vencer a competição, a anistia virá como “prêmio” ao esforço dos que contribuíram para o evento; se perder, será uma forma de compensar os gastos dos clubes. Sobre isso escrevi em 2010. Agora, dois anos antes da competição uma autoridade íntima da organização já faz a previsão.

Agora vai.


Copa 2014 coloca o governo contra a parede. O negócio é a Seleção
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José Cruz

Por Eduardo Manhães

O poder público banca a construção de estádios condenados ao abandono em Brasília, Cuiabá e Manaus; banca outra reconstrução do Maracanã e, por meio do BNDES e do Banco do Brasil, banca também o Itaquerão. Enquanto isso, o Congresso Nacional discute a venda de bebidas alcoólicas e a meia-entrada. Não deixa de ser uma boa piada de Tiririca.

Ou seja, os partidos aproveitam a necessidade de o governo de votar a Lei Geral da Copa para negociarem novos cargos. É o governo contra a parede. Ou negocia ou não se vota nada. Na prática é só isso que acontece.

Na verdade, o que seria do mais alto interesse público já foi resolvido: quando o Brasil se candidatou à sede da Copa 2014, assinou “garantias”, dando “proteções à exploração de direitos comerciais”.

Diante das falsas polêmicas, o próprio Ministro do Esporte pontificou que o Congresso Nacional deve honrar os compromissos assumidos pelo Estado brasileiro.

Enfim, embora a presidenta Dilma tenha resgatado a dignidade do Estado, não recebendo o Senhor Ricardo Teixeira e rebatendo com altivez as grosserias da FIFA, esse chute no traseiro nós e ela já levamos.

As “estranhas catedrais” decorrentes das “tenebrosas transações” já estão em curso. E a renúncia de Ricardo Teixeira pode, dentre outras coisas, também ser entendida como a oportuna saída de cena de quem, em razão de seu imenso, irrecuperável e justificado desgaste pessoal, apenas atrapalha a consumação de negócios cujas bases já estão todas acertadas.

Quando Romário disse que “vão roubar pelos cotovelos na Copa do Mundo”, só errou no tempo do verbo. Já foi “subtraída a pátria-mãe”.

Melhor seria antecipar a discussão dos Jogos Olímpicos para o traseiro não sofrer de novo. Pois Olimpíadas e Copa são eventos emblemáticos da estrutura esportiva internacional e do modo autocrático como a FIFA e o Comitê Olímpico Internacional operam –  a despeito das legislações nacionais, da soberania dos estados e apartados dos interesses das instituições locais, dos clubes formadores dos atletas utilizados em seus espetáculos (negócios) e representativos e reprodutores das paixões que legitimam seus empreendimentos.

Seleção, o grande “negócio”

Em excelente entrevista concedida ao site “Carta Maior”, o ex-presidente do Palmeiras Luis Gonzaga Belluzzo explicou:

Para entender o papel dele (Ricardo Teixeira) precisamos voltar no tempo, até a eleição de João Havelange na Fifa, em 1974, quando ele substituiu Stanley Rous. A partir dali houve uma mudança importante na administração do futebol, na relação com os patrocinadores. A direção do futebol deixou de ser feita de maneira amadora e se tornou um grande negócio, sobretudo para a área de marketing, que aproveitou o fato de o esporte ter se tornado uma impressionante manifestação de massa. Esse processo tomou corpo nos anos 80 e se acentuou nos 90“.

Em primeiro lugar, deve-se frisar que esse processo ocorre apesar de Ricardo Teixeira e não por causa dele. Mas é preciso destacar que do modo como as coisas foram conduzidas pela FIFA e pelas federações nacionais (a CBF, no nosso caso), esse grande negócio passou a ser a Seleção, suas competições e amistosos. Multiplicaram-se o número e os valores dos patrocínios direcionados às apresentações de seleções, que, aliás, passaram a ser várias (sub-20, sub-15, etc), bem como suas competições (torneios olímpicos, campeonatos mundiais das diversas categorias, copas continentais e das confederações). Sem falar nos amistosos.

O calendário que interessa é o dos selecionados.Tudo isso sem que os lucros sejam socializados com os clubes que formam e mantém os atletas. Situação que se agrava também pela apatia, pelo fisiologismo e pelas faltas de articulação e de perspectiva política dos dirigentes de clubes. Nas últimas décadas, portanto, Ricardo Teixeira e seus pares esmeraram-se em agravar a contradição que define a estrutura desportiva internacional: entidade rica e clube pobre.

Visto de um ponto de vista meramente tecnocrático, esse aumento de receita da CBF, advindo da exploração das seleções, é alardeado como demonstrativo de uma suposta competência gerencial de Ricardo Teixeira. O olhar da direita é assim, quantitativo. Por essa ótica, Pinochet e os generais do milagre econômico também foram competentes. A despeito da falta de transparência, do nepotismo da privatização imoral e patrimonialista dos lucros e da miséria das bases.

De um ponto de vista minimamente comprometida com a sociedade, com os clubes e com a formação de atletas, os 200 milhões que a CBF diz acumular, quando os clubes não conseguem sequer ficar em dia com a TIMEMANIA, são um escárnio. Uma demonstração inequívoca de descompromisso político e de incompetência gerencial. O olhar democrático é assim, qualitativo. Saber como é distribuída a riqueza acumulada, em que é reinvestida e que benefício social reproduz é fundamental para avaliar as administrações.

A organização da Copa do Mundo encarnação mais bem acabada do espírito privatista, autocrático e tecnocrático que domina as entidades esportivas e define suas estruturas.

Reduziram a atividade futebol ao negócio Seleção, pois o que interessa, o que está em jogo, literalmente, é o negócio. Não valem as leis do país, mas a lei da FIFA. É ela que impõe os seus instrumentos para que o “negócio” futebol prospere, a despeito das discussões e indignações da sociedade, como estamos vendo atualmente.

Mas já que é assim. Se o que importa é o negócio, e o negócio é a Seleção, pelo menos gastem milhões para oferecer ao selecionado brasileiro o que há de melhor. Contratem o Guardiola. Afinal, vendo o Barcelona jogar, a gente fica com a impressão que o “mano” da nossa gente é o Guardiola.

Eduardo Manhães é sociólogo;  foi diretor-executivo do Departamento de Futebol do Flamengo e é autor de dois livros, “A Política de Esportes no Brasil” e “João Sem-Medo”.


Copa 2014: desmandos, omissão e deboche
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José Cruz

Do deputado Romário à revista Veja:

O nosso atraso é um absurdo mesmo. A Copa até vai sair do papel, mas vão erguer uns puxadinhos aqui, fazer umas maquiagens ali. Tudo mais caro do que deveria por causa da pressa… Vai chover obra sem licitação e a corrupção vai correr solta”.

Mais adiante:

Dos mais de 500 deputados, uns 400 não querem saber de nada. Mas nada mesmo!”

Atenção, caro Leitor:

As manifestações não são do seu Zé, vendedor de pamonhas, ali na esquina. São do deputado Romário, que faz gravíssimas acusações à falta de ética parlamentar –  onde ele atua –  e que a corrupção é real, sem que o Congresso Nacional se interesse pelo assunto. As “excelências” não estão nem aí.

Novidades nessas declarações? Nenhuma.

O importante, isso sim, é que elas vêm de uma autoridade do Legislativo. São denúncias graves ao governo em geral e algo como uma prestação de contas ao eleitor do que vê e disso não compactua. Ato raríssimo entre políticos.

TCU

As palavras de Romário se confirmam nos relatórios do Tribunal de Contas da União sobre os preparativos para a Copa 2014.

Lá estão vários alertas de “sobrepreço”, ou seja, superfaturamento, e o risco de termos “elefantes brancos” em Manaus, Natal, Cuiabá e Distrito Federal.

Assim, são poderes da República – Romário, no Legislativo, e o TCU como órgão de fiscalização dos gastos públicos – que alertam:

“Vão nos roubar!”;   “O assalto é real!”.

Em outras palavras, o recado é exatamente assim.

Concreto

Exemplo concreto – além dos alicerces que dão lhe dão sustentação é o novo estádio Mané Garrincha, em Brasília, sobre o qual não me canso de citar.

O TCU escreveu que teremos uma obra inútil depois da Copa, pois serão 72 mil lugares para nada!

Ainda ontem publiquei que a média de público no Campeonato Brasiliense é de míseros 660 torcedores!!! É menos de 1% da capacidade do gigante onde Agnelo enterra dinheiro público.

Quem está ganhando o quê nessa obra que passará de R$ 1 bilhão?

E o que diz o Ministério Público do Distrito Federal sobre o assunto? Nada! Silêncio total! Estranho, muito estranho!

Quem tomou a providência de chamar o abusado governador e lhe determinar mudanças de rumo no projeto? O Palácio do Planalto, que sustenta o Distrito Federal com recursos para educação, saúde e segurança? Nem pensar!

E de quem se esperava uma reação enérgica, o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, dele vieram ironias à  expressão “elefante branco”.

Portanto, o contribuinte-eleitor está entregue aos desmandos do gestor público, à omissão parlamentar e ao deboche do ministro.

Que tal?