Blog do José Cruz

Como a graça camufla “a gravidade da coisa”

José Cruz

Quando a coisa tá complicada faça graça com ela. A graça que você faz com a coisa minoriza a gravidade da coisa

A mensagem estava entre tantas notícias que li e ouvi, neste fim de semana, relembrando lições Chico Anísio, muitas produzidas em tom sério  de crítica, que ele fazia com saber.

Sábio ministro Aldo Rebelo, que, imagino, conhecia a citação, pois humor é o que ele tem usado ao explicar problemas na preparação para a Copa.

E, entre uma graça e outra, transmite-nos o sentimento de tristeza ao vermos o tema sério tratado de forma fútil, vindo de onde se esperava autoridade e rigor.

Enquanto isso:

O companheiro Vinicius Segalla, do UOL Esporte, informou que o Ministério do Esporte pagou R$ 242,5 mil para a empresa HWC Empreendimentos organizar uma única entrevista coletiva, que apresentou Pelé como embaixador do Brasil para a Copa de 2014, no dia 29 de julho do ano passado, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

A mesma empresa, porém, já possuía um contrato com o Ministério do Esporte, no valor de R$ 338.982,42, para a prestação de ''serviços técnicos para organização e realização de eventos''.

A despesa foi feita fora da matriz de responsabilidades e o TCU não ficou sabendo da generosidade ministerial.

Memória

Vejam como o circuito vai se fechando: há três anos o Tribunal de Contas da União cobra do Ministério do Esporte o planejamento dos segundo e terceiro ciclos da Copa 2014, com os respectivos responsáveis por assuntos como segurança, saúde, telecomunicações etc. E proibiu despesas fora da matriz de responsabilidades.

Mas o Ministério não cumpre a ordem. O próprio TCU já revelou em seu último relatório que a impressão é que a pasta de Aldo Rebelo não atenderá à determinação, fundamental para o controle dos gastos públicos e transparência nas despesas do governo.

Assim…

Lendo a notícia de Segalla, observa-se que faz sentido a resistência do Ministério, para que contratos possam ser feitos às escondidas, longe do controle oficial. O que é, sem dúvida, um ousado deboche na tentativa de desmoralizar o poder do TCU.

Paralelamente, justificam-se os discursos e entrevistas do ministro Aldo Rebelo, como a que foi comentada pelo jornalista Walter Guimarães, aqui publicada, em que ele faz graça com a “cultura do atraso brasileiro”.

Ou seja, em momento grave e inoportuno o ministro tenta ser engraçado no melhor estilo Chico – “quando a coisa está complicada faça graça com ela”. Mas, com isso, nos dá a dimensão do desmando que se tornou o planejamento bilionário da Copa, com riscos para o superfaturamento e o roubo, como já previu o deputado Romário.