Tênis: no rumo da ditadura
José Cruz
Jorge Rosa pretende se perpetuar na presidência da Confederação Brasileira de Tênis (CBT), conforme se conclui na reportagem da Folha de S.Paulo desta terça-feira.
A convocação para a assembléia geral, hoje, em Curitiba, indica para mudança no estatuto, permitindo que Jorge Rosa dispute a terceira eleição, o que não é possível pelo texto em vigor.
Memória
Conheci Jorge em 2003, quando começou campanha para derrubar o então presidente, Jorge Nastás, que caiu em 2004, investigado por denúncias de corrupção.
Jorge foi várias vezes à redação do Correio Braziliense, onde eu trabalhava, divulgar sobre os processos contra Nastás, enquanto pregava renovação, mudanças no estatuto, moralidade, transparência, mandatos limitados a dois períodos etc e tal.
Prestigiado por colegas de federações com o mesmo pensamento e apoio de vários tenistas, Jorge chegou ao cargo. E mudou o estatuto, permitindo apenas uma reeleição, coisa rara entre as confederações.
A partir daí, Jorge precisava recuperar a credibilidade da CBT, que estava no buraco e nas páginas policiais. Logo a instituição que tinha como expoente nosso histórico tenista, Guga Kuerten. Aos poucos, Jorge foi conseguindo dar novo perfil à entidade, até chegar à parceria com os Correios, que rendeu R$ 4,2 milhões, em 2010.
Além disso, a CBT foi contemplada com outros R$ 2,3milhões do Ministério do Esporte, em vários projetos, assim como R$ 1,8 milhões da Lei Piva em 2011 e R$ 2,1 milhões prometidos para este ano.
Mudanças
Hoje, o cartola é investigado pela Polícia Federal, denúncias de corrupção. Mas, enquanto o processo tramita, o mais grave está na radical mudança de comportamento, a ponto de tentar alterar casuística e interessadamente o estatuto da CBT para dele se beneficiar.
É decepcionante – e revoltante – ver mais um cartola romper com a dignidade que anunciou e expor o autoritarismo que antes reprimia e contra ele se impôs.
A credibilidade que Jorge buscou construir nesses dois mandatos desabam com o golpe que articula, igualando-se a Nelson Nastás, que combateu com discurso de moral e ética, mas do qual se tornou discípulo, quer no continuísmo quer nas investigações policiais que enfrenta
Pior:
Jorge Rosa escreve, como personagem ativo e efetivo, mais um lamentável capítulo da história da gestão esportiva nacional, impregnada de continuísmos.
Repito: até na Ilha dos “Comandantes Castro” já se pavimenta o caminho da democracia, fixando-se prazos de mandatos, próprio das civilizações modernas e da competitividade às claras.
A se confirmar a mudança do estatuto na assembléia de hoje, teremos um golpe da minoria – formada pelos presidentes de federações. A traição aos que acreditaram que a democracia havia se instalado no tênis nacional será escancarada. Será um retrocesso, de repercussões negativas no país olímpico. É um comportamento debochado de quem deveria dar lições de respeito e democracia.
Não é demais lembrar que do alto de sua popularidade, o então presidente Lula da Silva proibiu que se falasse em mudança constitucional para beneficiá-lo, permitindo disputar uma terceira eleição. Resignado, cumpriu seus dois mandatos e se retirou do Palácio.
Preferências partidárias de lado, Lula deu exemplo de dignidade e respeito às leis, justamente o que falta ao esporte nacional, onde a elite ainda governa com a caneta, nos reportando ao triste período da ditadura.
Enfim, qual terá sido o valioso argumento de Jorge Rosa para conquistar – se é que isso ocorrerá – os votos dos presidentes de federações? Em caso positivo, valioso argumento, muito valioso, para se perpetuar como o novo Nastás do tênis