Blog do José Cruz

Arquivo : fevereiro 2012

Aldo Rebelo rescinde contrato com Instituto Cidade
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José Cruz

Depois de vários dias no noticiário policial, o Instituto Cidade, de Juiz de Fora, MG, perdeu o contrato com o Ministério do Esporte para produzir material esportivo, através do programa “Pintando a Cidadania”.

O  ministro do Esporte, Aldo Rebelo, determinou o fim do convênio de R$ 2,4 milhões entre os dois órgãos, com base em relatório de assessores do próprio Ministério e da Controladoria Geral da União – segundo informação da repórter Daniela Arbex, divulgadas no jornal Tribuna de Minas, de Juiz de Fora.

O Instituto Cidade, dirigido por José Augusto da Silva, militante do PCdoB deveria ter produzido mais de 130 mil unidades de material esportivo – bolas, bonés, camisetas, redes etc. No entanto o contrato não foi cumprido, pois os R$ 2,4 milhões destinados pelo Ministério do Esporte desapareceram da conta em três dias, parte destinado a uma conta de investimento e R$ 1 milhão para pagamento de credores.

Em 26 de dezembro de 2011, o Ministério identificou “robustos indícios de malversação do dinheiro público”. E sugeriu a imediata denúncia do convênio.

Explicações

“Em entrevista à Tribuna de Minas, na semana passada, José Augusto declarou que a fábrica de material esportivo, cujas atividades estão paralisadas desde 22 de dezembro do ano passado, já tem prontos em seu estoque interno 50% do material contratado. Ele também frisou que estava sendo “crucificado” antes de o processo terminar, já que “em nenhum dos convênios foi sugerido, até hoje, tomada de contas especial” – diz reportagem do jornal. O assunto está sob investigação da Polícia Federal.

José Augusto da Silva é ex-cabo eleitoral de Wadson Ribeiro, que recentemente foi demitido da Secretaria Nacional de Esporte, Educação, Lazer e Inclusão Social, do Ministério do Esporte, órgão responsável pelos repasses de dinheiro dos programas do Pintando a Cidadania.

Wadson, que obteve 54 mil votos na última eleição para deputado federal (ficou na suplência), era o candidato do PCdoB para a prefeitura de Juiz de Fora. Fontes daquela cidade informam que, agora, ele se candidatará a vereador.

Para saber mais: 

R$ 2,4 mi do Ministério do Esporte repassados a ONG de Juiz de Fora desapareceram em 3 dias

http://esporte.uol.com.br/ultimas-noticias/2012/01/25/r-24-mi-do-ministerio-do-esporte-repassados-a-ong-de-juiz-de-fora-desapareceram-em-3-dias.htm

Presidente de ONG de Juiz de Fora diz que R$ 2,4 milhões do Ministério do Esporte vão aparecer

http://esporte.uol.com.br/ultimas-noticias/2012/01/25/presidente-de-ong-de-juiz-de-fora-diz-que-r-24-milhoes-do-ministerio-do-esporte-vao-aparecer.htm

 


Tênis, lembranças e retrocessos
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José Cruz

Por Walter Guimarães

A proposta de continuidade de Jorge Rosa na presidência da CBT assusta, como também assusta verificar as arquibancadas do Graciosa Country Club, de Curitiba, completamente vazias durante os jogos da Fed Cup.

O Brasil sedia, nesta semana, o Grupo I das Américas, a 3ª divisão mundial. Na primeira rodada perdeu do Paraguai, hoje venceu a Venezuela e ainda irá enfrentar Colômbia e Bolívia.

As arquibancadas vazias podem demonstrar algo de errado na forma como é conduzido o tênis feminino brasileiro.

Em todo caso, o ranking mundial não demonstra, comprova. A melhor brasileira é a paulista Roxane Vaisemberg, número 298º do mundo. Será que oito anos à frente da CBT não foram suficientes para mudar este quadro? Parece que não, já que a luta da turma do Jorge Rosa é pela continuidade.

Entre as nove seleções que estão em Curitiba, apenas a do Canadá trouxe duas jogadoras entre as 100 melhores do mundo. Por outro lado, Bahamas não tem nenhuma de suas quatro jogadoras sequer ranqueadas pela WTA, a Associação de Tênis Feminino. O Paraguai, que derrotou o Brasil na primeira rodada, também tem uma de suas jogadoras sem ranking, e utilizou, tanto em um dos jogos de simples como no encontro de duplas, a jogadora Montserrat Gonzalez, número 1.114º do mundo.

Ranking das Jogadoras – Fed Cup: http://web.me.com/wrvg/tenis/fedcup.html

Dúvidas

Com resultados pífios, fica no ar questões sobre o contrato de patrocínio entre CBT e os Correios. Teriam sido estabelecidas metas de evolução técnica dos atletas, além do retorno de imagem de cada lado envolvido?

Está mais do que na hora de correr atrás das explicações de como a Rússia coloca 11 e a República Tcheca coloca sete jogadoras entre as 100 melhores do mundo. Isto sem falar na Romênia, com cinco tenistas neste grupo. Detalhe: a República Tcheca tem um pouco mais de 10 milhões de habitantes. Menos que a capital São Paulo…

100 melhores tenistas por país: http://web.me.com/wrvg/tenis/rank100.html

Outro ponto para se destacar é o papel da imprensa na cobertura de eventos como a Fed Cup. O “ufanismo contratual” entre jornalistas e CBT assusta. Pontos que devem ser debatidos, além dos jogados em quadra, não são nem tocados nas transmissões. Quem não conhece a modalidade, pode pensar que somos uma potência do tênis mundial.

Para não parecer que tenho uma visão apocalíptica, parabenizo a escolha de terem colocado a Beatriz Haddad, de 15 anos, para jogar na competição.

Quem sabe ela será a responsável pela volta de uma tenista brasileira em torneios do Grand Slam, que não acontece desde 1993, quando a Andrea “Dadá” Vieira caiu na primeira rodada do US Open.

Até parece um sonho lembrar de Roland Garros-1989, quando a Dadá ganhou da Hana Mandlikova na primeira rodada, caindo apenas na terceira, ao mesmo tempo que a gaúcha Niége Dias também chegava na terceira rodada, perdendo para a americana Mary Joe Fernandez. Será mesmo que isto aconteceu… ??? Não duvidem, pois aconteceu !!! E, naquele tempo, sem patrocínio dos Correios…

Walter Guimarães é jornalista, pesquisador sobre assuntos do esporte e colaborador deste blog

 


País olímpico, Brasil ainda convive com a ditadura dos cartolas
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José Cruz

O companheiro Gustavo Franceschini, do UOL Esporte, revela que Carlos Arhur Nuzman ficará à frente do Comitê Olímpico Brasileiro até 2016. Serão 21 anos de poder, cinco ciclos olímpicos.

Se nesse tempo tivemos o orgulho de ver gerações de atletas se renovando, o mesmo não ocorre com os gestores do esporte. Na maioria são os mesmos nomes e as mesmas caras do século passado, o que significa ação repetida, desmotivadora, cansativa e, por isso, ultrapassada.

É a segunda vez que Nuzman barra movimentos da oposição, demonstrando a força que o poder do COB lhe confere. E, mais uma vez, a decisão é tomada de forma escondida, revelando, quem sabe, a vergonha do ato.

A notícia torna-se pública justamente no dia em que outro cartola, Jorge Rosa, tentará mudar o estatuto da CBT para – só assim – conseguir um terceiro mandato, ilegal pelo texto das regras atuais.

Lembro que Jorge entrou no olimpismo justamente com discurso de mudanças, de renovações. Mas é reprovado vergonhosamente, pois, mesmo com pouco tempo de convivência, já se comporta como um profissional da ditadura dos cartolas

E porque isso ocorre?

No caso de Jorge Rosa, com o apoio dos presidentes de federações, com voto casuístico, como no regime militar, de tristes lembranças. A dúvida é: a que custo esses senhores sacodem a cabeça afirmativamente para tornar legal a burla, a farsa?

Já em nível superior, com Carlos Nuzman, são os presidentes das confederações, ungidos pelos cartolas menores – das federações – que se curvam ao poder maior.

Assim, as decisões de interesses ocasionais e antidemocráticos ocorrem em cascata invertida, de baixo para cima, e demonstram como é frágil e suspeita a estrutura que comanda o esporte olímpico nacional.

Lamentavelmente, tudo isso é um péssimo exemplo de educação aos jovens – e não foi esse o espírito que originou a histórica competição olímpica, nem é esse o princípio que norteia o desgastado binômio “esporte e educação”.

Pior: estamos falando de uma instituição milenar que, como tempo, ganhou forma e ordenamento. Mais: no caso brasileiro, ganhou sustentação financeira milionária, pois a economia do esporte de rendimento é totalmente estatizada nas mãos de instituições privadas.

Por tudo isso, vejo como afronta à democracia e aos direitos gerais o comportamento ditatorial dos cartolas. Agem sustentados pelo dinheiro público, mas excluem do debate maior o ente principal da prática esportiva – o atleta. Sem ele, o competidor, não há esporte, campeonato, olimpíada, nada! No entanto, a evolução democrática encontra barreiras na gestão do esporte, sem oportunidade de muitos se manifestarem, opinar, sugerir, votar neste ou naquele dirigente.

Além da vergonha que isso representa constata-se a agressão ao espírito constitucional da convivência em sociedade. Neste aspecto o esporte olímpico brasileiro é um exemplo triste e negativo.

E toda essa perpetuação casuística – que demonstra a tal desordem na gestão do esporte e, daí, as suspeitas de corrupção que surgem com freqüência – ocorre com outra afronta: acomodam-se sucessivamente nos cargos como se não houvesse, além dos escaldados cartolas, outro ser capacitado para substituí-lo.

São os sábios exclusivos e, assim, tornam-se intocáveis, “imexíveis”. Agem como os soberanos, se sustentando no poder com a vergonhosa concordância de poucos, inofensivos de ocasião, incapazes de se opor à agressão que se perpetua à ordem normal da renovação dos poderes da sociedade.

Não é demais lembrar que do alto de sua popularidade, o então presidente Lula da Silva proibiu que se falasse em mudança constitucional para beneficiá-lo, permitindo disputar uma terceira eleição. Resignado, cumpriu seus dois mandatos e se retirou do Palácio.

Lula deu exemplo de dignidade, maturidade política e respeito às leis, ao povo, aos adversários, justamente o que falta ao esporte nacional. Nele, a elite, sustentada pelo dinheiro público, ignora e afronta a ordem natural do Estado de direito e governa com portas fechadas e casuísmos, como no triste período da ditadura.

 


Tênis: no rumo da ditadura
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José Cruz

Jorge Rosa pretende se perpetuar na presidência da Confederação Brasileira de Tênis (CBT), conforme se conclui na reportagem da Folha de S.Paulo desta terça-feira.

A convocação para a assembléia geral, hoje, em Curitiba, indica para mudança no estatuto, permitindo que Jorge Rosa dispute a terceira eleição, o que não é possível pelo texto em vigor.

Memória
Conheci Jorge em 2003, quando começou campanha para derrubar o então presidente, Jorge Nastás, que caiu em 2004, investigado por denúncias de corrupção.

Jorge foi várias vezes à redação do Correio Braziliense, onde eu trabalhava, divulgar sobre os processos contra Nastás, enquanto pregava renovação, mudanças no estatuto, moralidade, transparência, mandatos limitados a dois períodos etc e tal.

Prestigiado por colegas de federações com o mesmo pensamento e apoio de vários tenistas, Jorge chegou ao cargo. E mudou o estatuto, permitindo apenas uma reeleição, coisa rara entre as confederações.

A partir daí, Jorge precisava recuperar a credibilidade da CBT, que estava no buraco e nas páginas policiais. Logo a instituição que tinha como expoente nosso histórico tenista, Guga Kuerten. Aos poucos, Jorge  foi conseguindo dar novo perfil à entidade, até chegar à parceria com os Correios, que rendeu R$ 4,2 milhões, em 2010.

Além disso, a CBT foi contemplada com outros R$ 2,3milhões do Ministério do Esporte, em vários projetos, assim como R$ 1,8 milhões da Lei Piva em 2011 e R$ 2,1 milhões prometidos para este ano.

Mudanças
Hoje, o cartola é investigado pela Polícia Federal, denúncias de corrupção. Mas, enquanto o processo tramita, o mais grave está na radical mudança de comportamento, a ponto de tentar alterar casuística e interessadamente o estatuto da CBT para dele se beneficiar.

É decepcionante – e revoltante – ver mais um cartola romper com a dignidade que anunciou e expor o autoritarismo que antes reprimia e contra ele se impôs.

A credibilidade que Jorge buscou construir nesses dois mandatos  desabam com o golpe que articula, igualando-se a Nelson Nastás, que combateu com discurso de moral e ética, mas do qual se tornou discípulo, quer no continuísmo quer nas investigações policiais que enfrenta

Pior:
Jorge Rosa escreve, como personagem ativo e efetivo, mais um lamentável   capítulo da história da gestão esportiva nacional, impregnada de continuísmos.

Repito: até na Ilha dos “Comandantes Castro” já se pavimenta o caminho da democracia, fixando-se prazos de mandatos, próprio das civilizações modernas e da competitividade às claras.

A se confirmar a mudança do estatuto na assembléia de hoje, teremos um golpe da minoria – formada pelos presidentes de federações. A traição aos que acreditaram que a democracia havia se instalado no tênis nacional será escancarada. Será um retrocesso, de repercussões negativas no país olímpico. É um comportamento debochado de quem deveria dar lições de respeito e democracia.

Não é demais lembrar que do alto de sua popularidade, o então presidente Lula da Silva proibiu que se falasse em mudança constitucional para beneficiá-lo, permitindo disputar uma terceira eleição. Resignado, cumpriu seus dois mandatos e se retirou do Palácio.

Preferências partidárias de lado, Lula deu exemplo de dignidade e respeito às leis,  justamente o que falta ao esporte nacional, onde a elite ainda governa com  a caneta, nos reportando ao triste período da ditadura.

Enfim,  qual terá sido o valioso argumento de Jorge Rosa para conquistar  –  se é que isso ocorrerá – os votos dos presidentes de federações?  Em caso positivo, valioso argumento, muito valioso, para se perpetuar como o novo Nastás do tênis