Pan 2007: a versão oficial
José Cruz
Com quatro anos e seis meses de atraso começo, enfim, a leitura do relatório oficial dos Jogos Pan-Americanos, três enormes e bem produzidas publicações, de 300 páginas cada uma. Os documentos me foram enviados recentemente por Ricardo Leyser Gonçalves, representante do Ministério do Esporte no Pan 2007 e atual secretário nacional de Esporte de Alto Rendimento.
Não é possível resumir todos os assuntos em uma, duas, três mensagens. Por isso, vou escrever quantas forem necessárias, pois se trata da versão governamental – por isso oficial – daquele evento realizado no Rio de Janeiro.
Nestes últimos quatro anos fui crítico insistente sobre a oportunidade de realizarmos o Pan e os elevados gastos diante da nossa ausência de políticas de esporte, questão que continua prioritária, na minha avaliação. Foram investidos R$ 3.097.681,00, o orçamento oficial dos Jogos Pan Rio 2007. O orçamento original, de fevereiro de 2003, previa gastos de R$ 980.702,00.
Por isso, divulgo as informações do relatório, para que o leitor tenha, agora, a versão oficial do Pan, que reuniu 5.623 atletas de 42 países e 1.115 competidores de 25 paíes no Parapan. E uma espécie de preparação para o Rio 2016.
Auditorias
Lembro que acompanho o desfecho das auditorias realizadas pelo Tribunal de Contas da União sobre o assunto. Até aqui, são esses documentos que têm orientado minhas críticas. Foram produzidos 39 processos; nove – os mais polêmicos – ainda não foram julgados. Portanto, uma coisa é a versão oficial; outra é a análise das contas pelo órgão de fiscalização do governo, o TCU.
O que se lê no relatório de 2007 é um resumo do que nos espera para 2016: um evento gigantesco que envolve relações comerciais, políticas e institucionais em níveis federal, estadual e municipal, intercâmbios com organismos internacionais, projetos de segurança máxima etc. E tudo com hora rigorsamente marcada, pois se há um elemento fundamental neste projeto é o compromisso com a televisão internacional.
Recursos humanos
O trecho a seguir – do relatório oficial – dá a dimensão do que foi o Pan:
“O primeiro – e maior – investimento do governo federal nos recursos humanos do Comitê Organizador dos Jogos Pan-Americanos (CO-Rio) foi na ordem de R$ 23.271.932,02, através do convênio 008/2007, utilizados na contratação de 547 novos funcionários, incorporados entre janeiro e abril de 2007… Outro convênio de R$ 6.502.818,54 da União manteve 119 profissionais … e um terceiro convênio de R$ 1.845.381,06 federais garantiu a contratação de 150 pessoas para atuar na preparação dos Jogos Parapan-Americanos, em diversas áreas funcionais. Além disso, R$ 2.727,391,02 do Ministério do Esporte foram contratados 46 coordenadores técnicos para trabalhar no Pan e oito no Parapan, com a função de prestar consultoria para o planejamento técnico e organizacional das modalidades, para que as competições pudessem ser homologadas”.
Dificuldades
Duas questões: um Pan-americano corresponde á realização de 30 campeonatos continentais simultaneamente; pela falta de grandes eventos esportivos no país a dificuldades para contratar mão-de-obra especializada é um dos principais problemas, que já se observa também na preparação dos Jogos Rio 2016.
No Pan 2007 foram aplicados R$ 2.043.352,05 na contratação de mão-de-obra especializada – 164 funcionários – para a produção das cerimônicas de boas-vindas dos atletas e de premiação do Pan e do Parapan: cerimonial, produção musical, direção artística, gerentes de locução bilíngües etc.
Para a área de doping foram repassados R$ 909.034,25, destinados à contratação de 63 profissionais, entre gerentes, delegados técnicos da Organização Deportiva Pan-Americana (Odepa) e do Comitê Paraolímpicos das Américas, assessores, médicos e veterinários.
Convênios
Em 2007, o governo federal firmou seis convênios com o Comitê Olímpico e 34 com o CO-Rio. “Só entre 1º e 13 de junho, 24 convênios foram assinados. Neste período, a cada dois dias era assinado um convênio, uma demanda quase impossível de cumprir”, relembra José Mardovan Pontes, assessor do Ministério do Esporte responsável pela área.
Orçamento
Resumidamente, o orçamento foi assim constituído
Executores dos Jogos Rio 2007 (R$ milhares) | ||
Comitê Organizador | 433.383 | |
Governo Federal | 1.165.009 | |
Governo Estadual RJ | 290.331 | |
Governo Municipal | 938.575 | |
Outros | 270.384 | |
TOTAL | 3.097.682 |
“O governo federal executou diretamente 71,8% dos R$ 1,6 bilhão que investiu nos Jogos… O Comitê Organizador arrecadou R$ 162,2 milhões, dos quais R$ 41 milhões foram em produtos e serviços de patrocinadores e parceiros. Os recursos arrecadados foram investidos em recursos humanos, contratação da emissora oficial – através de convênio com a Prefeitura do Rio –, operações, instalações, comunicação e marketing e outras áreas”.
Custo total dos Jogos 2007 por área
SETORES ATENDIDOS | Em R$ milhares |
Segurança | 563.181 |
Tecnologia | 368.132 |
Recursos humanos | 213.914 |
Operações | 100.421 |
Turismo | 19.898 |
Comunicação e Marketing | 88.967 |
Jogos Parapan-americano | 62.921 |
Esporte | 48.223 |
Cultura e Educação | 12.906 |
Instalações e Vila | 1.414.819 |
Vila Pan-Americana | 204.300 |
TOTAL | 3.097.682 |
Na próxima mensagem publicarei sobre os impactos econômicos. Sob o ponto de vista oficial ocorreu o seguinte:
“Os estudos confirmam, os efeitos dos investimentos nos Jogos Pan e Parapan-Americanos de 2007 foram bons para o Rio – e ótimos para o País”.
Mais:
“A iniciativa privada injetou R$ 6,71 bilhões nas cadeias produtivas do Pan. O impacto total na economia (investimentos mais recursos injetados pela cadeia produtiva) foi de R$ 10,28 bilhões”.
Obs: o relatório completo do Pan 207 está aqui