Mário Cantarino, o poeta do esporte
José Cruz
O professor Mário Ribeiro Cantarino Filho morreu nesta madrugada, em Brasília, aos 81 anos. Completaria 82 no dia 5 de setembro. Era casado com Dona Helena, parceira também em seu trabalho de orientação aos atletas.
Ex-técnico de Aída dos Santos – quarto lugar no salto em altura na Olimpíada de Tóquio, 1964 – e um dos primeiros orientadores do medalhista olímpico Joaquim Cruz, no início de sua carreira, em Brasília, o “Velho”, apelido carinhoso respondido com um sorriso, foi referência nacional e internacional na educação física, na educação, no atletismo e na pesquisa sobre o esporte em geral.
Ao longo da carreira – que incluiu estudos na Alemanha e Espanha – Cantarino colecionou mais de cinco mil volumes de valiosas publicações, a maioria de esportes, inclusive raríssimos relatórios olímpicos. Há três anos, vendeu o acervo para a biblioteca da Universidade Federal do Espírito Santo.
Poeta do esporte
“Uma vez disseram que eu sou um poeta, porque critiquei o desporto profissional. Hoje, ninguém mais compete pela camisa, compete pelo dinheiro que vai ganhar. Essa turma toda que vai para a olimpíada, que vai correr em rua, está olhando o prêmio. Hoje está muito comercializado o esporte, muito capitalista. Vejo a coisa muito pelo aspecto amadorista, ainda sou um poeta e hoje é muito profissional. Vi uma reportagem de um nadador americano que provavelmente vai ganhar oito medalhas de ouro na olimpíada e que cada medalha representa um milhão de dólares, não sei se é mais importante as 8 medalhas olímpicas ou os milhões de dólares. Qual é a visão que ele tem nesse sentido, não sei” – disse Cantarino numa entrevista à Associação Brasiliense de Corredores.
A entrevista em dois blocos, está aqui:
http://www.abc.esp.br/index.php?conteudo=9&id=662
http://www.abc.esp.br/index.php?conteudo=9&id=732
Pesquisa
Sua última grande contribuição à história do esporte foi por ocasião do centenário da imigração japonesa, ocorrida em 2008. Dois anos depois, em parceria com Hiromi Miura, Cantarino lançou o livro “Japão e Brasília – Imigração e Esporte” (Ed.Thesaurus), que eu tive a honra de prefaciar.
Foi uma minuciosa pesquisa, que resgatou a contribuição japonesa e de seus descendentes para o esporte do Distrito Federal, aqui introduzindo modalidades típicas do oriente, como as artes marciais e suas filosofias originadas no Japão.
O Velho deixa saudades. Mas, como dizia João Saldanha: “Vida que segue
Para saber mais:
Entrevista de Mário Cantarino ao Jornal Nacional, em 2009, ao se desfazer de sua valiosa biblioteca: