Blog do José Cruz

A bola da paz: isso é possível?

José Cruz

A recente aproximação entre Pelé, Ricardo Teixeira, Ronaldo e outros especialistas do jogo da bola é a repetição de acertos de ocasião, pura ilusão, coisa de “faz de conta” para incentivar o torcedor acreditar que “agora vai”.

Tais personagens são, antes de tudo, especialistas dos negócios da bola e, por isso, apertar as mãos e sorrir para os fotógrafos faz parte da falsidade do momento, do tal “jogo das ilusões”.

Da bola da paz

Este comentário vem a propósito do livro que releio – “A bola da paz e o mea-culpa de Ricardo Teixeira”  – Publit Soluções Editoriais, 2006, de Emile P.J. Boudens.

Para que não fiquem dúvidas sobre o teatro que está aí, transcrevo partes do histórico livro de Boudens, que começa assim:

Lembram? Em 14 de março de 2001, Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, e Ricardo Teixeira, presidente da CBF, que não se falavam há mais de oito anos, decidiram pôr fim a suas divergências e unir  as forças para “reestruturar o futebol”. O acordo foi selado no gabinete do então Ministro do Esporte e Turismo, Carlos Melles, deputado federal por Minas Gerais. Como prova de que estava tudo bem entre os dois desafetos históricos, Melles exibiu uma bola de futebol autografada por todos os presentes, entre os quais o Advogado Geral da União (Gilmar Mendes) o presidente de Honra da Fifa (João Havelange) e o presidente do Clube dos 13 (Fábio Koff).

A despeito dos sorrisos competentemente flagrados pela imprensa, o clima da reunião deve ter sido um tanto quanto constrangedor, pois, pelo relato de um repórter do Jornal do Brasil, encerrado o encontro, todos saíram estrategicamente pela garagem, sem dar maiores detalhes sobre as promessas do dia. Quem saiu pela portaria central foi João Havelange, que, lacônico, como dizem que sempre é, teria dito, segundo uns, “Não houve reaproximação, pois nunca houve desentendimento. Os dois sempre foram amigos”, segundo outros.
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“Menos de trinta dias depois desse episódio, Ricardo Teixeira compareceu à CPI da CBF Bike para dar a sua contribuição ao processo de apuração da regularidade do contrato firmado, em 1996, entre a CBF  e a multinacional Nike. Ricardo Teixeira iniciou seu depoimento de quase de horas de duração com a leitura de um longo e emocionante mea-culpa.”

Hilário depoimento de Ricardo Teixeira à CPI da CBF Nike – Memória

Deputado – Senhor Presidente, o senhor diz que recebe proventos da CBF, recebe a partir de 1998, é isso?

Ricardo Teixeira – Não sei o mês exato, mas a partir de 1998.

Deputado – A que título o senhor recebe esses proventos? O senhor é funcionário? Isso é pró labore? São honorários? São rendimentos de atividade? Qual é o título do seu rendimento?

Ricardo Teixeira – Eu trabalho como presidente da CBF, me dedicando quase que mais da metade do meu dia à CBF.

Deputado – Eu reconheço que isso pode ser possível. Eu queria saber a que título. São salários? O senhor é funcionário da CBF?

Ricardo Teixeira – Carteira assinada, não, senhor.

Deputado – A que título seria?

Ricardo Teixeira – Vou consultar minha auditoria para lhe mandar…

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Deputado – Quantos carros a CBF tem?

Ricardo Teixeira – Excelência, confesso que tenho que levantar na CBF. A CBF tem um, dois, deve ter vários carros. Tem ônibus, tem transportadora de material. Isso tudo eu lhe forneço tão logo tenha o balanço da CBF. O senhor deve tê-lo aí, o senhor sabe quais são os caros. Eu chego no Rio e lhe envio um fax com todos os carros…

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Deputado – Sr Presidente, quanto tempo falta para terminar o mandato de V.Sa. na CBF?

Ricardo Teixeira – Dezembro de… na realidade, primeira quinzena de janeiro de 2004.

Deputado – Janeiro de 2004. V.Sa. acabou de dizer, respondendo uma pergunta bem anterior, que não é candidato à reeleição.

Ricardo Teixeira – A eleição da CBF, Excelência, ela acontece seis meses antes do término do mandato. Isso é estatutário. E eu já disse isso publicamente, já disse no depoimento da CPI do Senado, já disse em entrevistas que eu não sou candidato à reeleição.

Conclusão
E por aí vai.

Mudou alguma coisa?
Pois é com essa gente, com histórias fantasiosas e de falsidades, que estamos nos preparando para um megaevento chamado “Copa do Mundo”.  Gente que o atual ministro do esporte, Aldo Rebelo, conhece muito bem, pois ele era o presidente da CPI da CBF Nike, quando tais depoimentos foram prestados.

Diante de tudo que está aí, anos afora com os mesmos personagens, não é sem motivo que o jornalista escocês, Andrew Jennigs, escreveu “Jogo Sujo – o mundo secreto da Fifa – que envolve, por extensão, os bastidores da CBF.

E bota sujo nisso…