Os negócios suspeitos do futebol e o apoio oficial
José Cruz
Notícia extra-oficial: Depois de uma reunião com o ministro do Esporte, Aldo Rabelo, o secretário nacional de Futebol, Alcino Reis Rocha, teria apresentado o pedido de demissão “irrevogável”, me contaram.
Alcino era um dos remanescentes da turma do ex-ministro Orlando Silva. Foi ele que assinou o contrato com a Federação Paulista de Futebol, no polêmico episódio para cadastrar torcedores.
Pelo serviço, que não foi realizado, o Ministério do Esporte desembolsou R$ 6,5 milhões. Logo que assumiu, há 50 dias, o ministro Aldo Rebelo determinou a devolução da grana. Não sei se o dinheiro já retornou às origens.
Negócio privado
Independentemente da confirmação da saída de Alcino Reis, a questão principal é: qual o motivo para o Ministério do Esporte, um órgão do Poder Executivo Federal, se envolver com um negócio privado como o futebol? Um negócio suspeito de falcatruas milionárias? Um negócio que, explorando as emoções que oferece ao torcedor, aproveita-se para promover a lavagem de dinheiro, como foi mostrado em investigações da Polícia Federal?
O ministro Aldo Rebelo sabe muito bem o que é o bastidor dessa instituição bilionária. Ele presidiu a histórica CPI da CBF Nike , em 2001, e escreveu um livro contando sobre as trapaças que encontrou. À época, suas entrevistas eram indignadas, quando se referia às dezenas de irregularidades encontradas com as quebras de sigilo bancário e fiscal da CBF e de vários clubes.
Pois é essa instituição, suspeita de encobrir crimes financeiros, como relataram autoridades fiscais, recentemente, em Brasília, que o governo dá cobertura financeira. Primeiro, criando uma loteria – a Timemania – para que os clubes paguem o calote ao Imposto de Renda, INSS e Fundo de Garantia. A dívida supera os R$ 2 bilhões. Porém, entre 2008, quando começou a funcionar, e 2010, a Timemania repassou miseráveis R$ 68,4 milhões aos cofres públicos. A cartolagem ri à vontade.
Além disso, o Ministério do Esporte privilegia a instituição “futebol” com recursos públicos da Lei de Incentivo ao Esporte. Só em 2010 foram destinados R$ 29,7 milhões. Boa parte do dinheiro para os tais negócios suspeitos denunciados pelos fiscais do governo. Outro tanto vai para a formação de jogadores que, depois, são negociados no exterior, enriquecendo o bolso dos agentes internacionais. Em resumo, é o Estado financiando um negócio rentável e altamente suspeito em sua legalidade.
O Brasil sagrou-se pentacampeão mundial sem que o Estado ou os governos se envolvessem com a gestão do futebol. Quando muito recepcionava os campeões no Palácio do Planalto. Agora, apóia um negócio que deveria ser fiscalizado por ele, Estado. Mas não é. Ao contrário, tornaram-se parceiros íntimos.