Blog do José Cruz

Coerente, Guga revela país atrasado em políticas para o esporte

José Cruz

“Temos que continuar vendo algumas estrelas brilhando por conta de um trabalho próprio, deles mesmo. O brasileiro tem talento e luta pelas coisas que quer alcançar”

gguggaDeslumbrado com a inauguração da quadra central do complexo do tênis para os Jogos Rio 2016, que custou R$ 201 milhões, o tricampeão de Roland Garros, Gustavo Kuerten, dividiu a euforia com a realidade de recebermos mais um megaevento esportivo sem deixar à população o legado maior. Sua manifestação de agora é a mesma que manifestou há 15 anos, na Olimpíada de Sidney 2000.

''Nosso país ainda não está preparado para algumas ocasiões fantásticas. Ele espreme grandiosas oportunidades para extrair poucos benefícios. Claro que para o tênis vai ser maravilhoso e que essa estrutura pode transformar alguns esportes, mas de certo aspecto é pouco se pensarmos como uma nação inteira”

ANTES

Nos Jogos de Sidney, 2000, perguntei a Gustavo Kuerten:

Sem políticas de massificação para o esporte, o que falta para o Brasil se tornar um país olimpicamente vitorioso?

“É difícil falar desse assunto num país que ainda tem problemas de educação e pobreza. Acho que antes de resolver as questões do esporte tem que se resolver esses dois, principalmente”.

Disse mais, registrado em reportagem no Correio Brasiliense, em 27 de setembro de 2000:

“As dificuldades existem. Por isso temos que curtir o que temos no esporte. E temos grandes valores. Porque, se for para trabalhar em cima de um assunto maior, acho que, primeiro, viriam esses pontos que a gente tem mais necessidade, onde se tem deficiências mais graves: educação e pobreza”

AGORA

No sábado, em coletiva, no estádio olímpico de tênis, no Rio de Janeiro, Guga declarou:

… ''A estrutura (da arena de tênis) é igual ao que encontramos nos maiores torneios do mundo. É uma alma de Grand Slam''.

Mas… 

''Temos de buscar aspectos transformadores nas Olimpíadas. Se servir para acreditar mais no povo e para buscar soluções, melhor. Reclamar também acaba não ajudando nada''.

… ''Para as pessoas, o simbolismo de receber as Olimpíadas é importante. Mas na atual situação do Brasil, isso não é suficiente. O Brasil precisa de respostas maiores. O Brasil precisa de atendimento básico, e nisso nós sofremos em todos os aspectos. Não apenas nas Olimpíadas. As expectativas nunca vão ser correspondidas no nosso país, infelizmente. Em todos os quesitos'', disse Kuerten.

''Não vale a pena investir R$ 1 errado aqui sabendo que as pessoas estão sofrendo com situações básicas do dia a dia. Isso não pode acontecer''.

Memória

Em 2011, Gustavo Kuerten foi o padrinho do Projeto Olímpico de Tênis Rio 2016, sob a supervisão do técnico Larri Passos, mas descontinuado um ano depois, após consumir R$ 2 milhões do governo federal, com denúncias de irregularidades na aplicação dos recursos, por parte da Confederação Brasileira de Tênis.