Blog do José Cruz

Dinheiro do esporte olímpico: cada um por si

José Cruz

Encaminhei à Confederação de Desportos Aquáticos (CBDA) pedido de esclarecimento sobre o uso dos R$ 158 milhões de patrocínios dos Correios, assunto que tratei na semana passada.

Em seguida, o presidente Coaracy Nunes me telefonou avisando que enviaria as informações e tudo o mais que pudesse para que não ficassem dúvidas sobre o bom uso do dinheiro.

Mas por que essas informações não estão na Internet, na página da CBDA para que toda a comunidade conheça sobre o assunto? Transparência é por aí.

Pesquisa

Além do patrocínio dos Correios, a CBDA recebeu R$ 13 milhões da Lei de Incentivo ao Esporte,  entre 2009 e 2012, segundo o Ministério do Esporte.

Os relatórios de ''cumprimento de objertivos'' estão na página da CBDA

Porém, desses relatórios ''não constam os valores captados em cada projeto nem como a grana foi gasta. Nada!

Os documentos falam sobre viagens, número de atletas, locais de eventos etc. Valores? nenhum!

São relatórios burocráticos. E, aí sim, provocam dúvidas, inclusive da própria comunidade, atletas e opositores ao presidente Coaracy. Essa questão em particular não está transparente como de resto em outras confederações.

Estarrecedor

Porém, da conversa com o experiente dirigente, o que mais me preocupou foi a seguinte declaração de Coaracy Nunes:

“Eu não tenho nada a ver com clubes”

Coaracy estava indignado com a afirmação do presidente do Fluminense, que não recebe nada da CBDA para suas equipes aquáticas.

Ora, se a principal entidade dos desportos aquáticos “não tem nada a ver” com os clubes, a quem compete essa relação, já que as federações estão falidas, na miséria, sem estrutura administrativa ou financeira?

Quem dá suporte aos clubes em seus projetos, já que é neles que surgem e se formam atletas?

A declaração de Coaracy Nunes dá a dimensão de como estamos perdidos e sem rumo no desporto em geral, pois o mesmo ocorre nas demais modalidades olímpicas ou não.

Na prática, o que Coaracy afirmou é a extensão da política do presidente do COB, Carlos Nuzman. Ele declara, com frequência, que não tem nada a ver com as federações. Sua relação esgota-se nas confederações.

Está explicado

A cúpula diretiva do esporte reúne-se numa elite e se isola.

As confederações enviam migalhas mensais às federações como prêmio de compensação. E assim o presidente da confederação garante o voto na próxima eleição.

É a lei do “cada um por si”. E a turma de baixo que se lixe.

O Brasil olímpico é isso aí. Sobra dinheiro, mas faltam gestão e relação institucional.