Apesar da fartura financeira, ministro quer “fundo” para o esporte
José Cruz
Sem saber onde está metido, o ministro George Hilton fala na criação de nova fonte para o esporte, um “fundo”. O interessante é que a ideia surgiu em menos de um mês à frente de uma pasta cujo assunto ele não entende, como já revelou. Mas, além de “gente”, parece que o ministro também entende de dinheiro.
O dinheiro do tal “fundo” virá do Orçamento da União, recursos privados, oriundos de incentivos fiscais, verbas de loterias etc”.
Em primeiro lugar, o orçamento da União é peça fictícia. O deste ano nem foi aprovado. O do Ministério do Esporte é um mistério. O do ano passado teve apenas 44,8% de execução. Isto é, não gastaram nem 50% dos R$ 3,1 bilhões aprovados, aí incluída a verba dos parlamentares, as “emendas”…
Realidade
Desde 2003 o dinheiro deixou de ser problema para o alto rendimento. De tal forma que os dirigentes olímpicos e paraolímpicos recebem salários, pagos com verbas públicas, atualizados periodicamente!
A S F O N T E S
Lei Piva – é dinheiro sagrado e crescente. Incremento em torno de 20% ao ano, devido ao aumento nas apostas. Foram R$ 200 milhões só em 2014.
Lei de Incentivo – São R$ 400 milhões anuais disponíveis. Mas faltam bons projetos e há pouca participação do mercado. Dos R$ 3 bilhões em projetos aprovados entre 2007 e 2014 houve captação de apenas R$ 1,1 bilhão. A maior parte dessa grana foi para o futebol profissional. Em sete anos tivemos um desperdício de R$ 2 bilhões.
Estatais – Banco do Brasil, Caixa, Petrobras, Infraero e Correios são as principais. Estimam-se aplicações de R$ 300 milhões anuais. Lembrando que a Caixa patrocina 14 clubes de futebol, com investimentos de R$ 111 milhões, em 2013.
Orçamento e Convênios – São verbas para projetos específicos das confederações e construções de CTs, principalmente nesse ciclo olímpico rumo a 2016. No Orçamento 2014, o projeto “Esporte e Grandes Eventos Esportivos” tinha R$ 2 bilhões disponíveis. Aplicou em torno de 30%, R$650 milhões.
Bolsa Atleta – Foram R$ 183 milhões em 2014, para sete mil contemplados. É projeto expressivo, mas sem fiscalização, sujeito a falcatruas e pagamentos indevidos, como o TCU já constatou.
Forças Armadas – São 700 atletas que integram os quadros das Forças Armadas. Os valores aplicados não estão disponíveis, mas a maioria recebe Bolsa Atleta e patrocínio de estatais.
Confederação Brasileira de Clubes – é beneficiada com 0,5% dos 4,5% que o Ministério do Esporte recebe das Loterias Federais, para projetos de iniciação. Não tenho os valores atualizados, mas o tema merecerá artigo específico.
Enquanto isso…
O ministro fala na criação de um “fundo”. Com o devido respeito, isso é debochar dos que estão na parte de baixo dessa fartura, como as federações, falidas, mas indispensáveis para manter os cartolas da parte de cima, com ótima saúde financeira.
Repeteco
Nenhum dos três ministros que passou pelo Esporte fez um balanço de nossa realidade e propôs rumos de longo prazo para o desporto escolar, para a iniciação, para o alto rendimento. Principalmente porque há dúvidas de que essa grandiosidade financeira continuará depois de 2016. Agora, o ministro George Hilton vai no mesmo rumo: o negócio é dinheiro!
Nesse entrevero da já superada estrutura do nosso esporte e falta de planejamento desperdício de talentos e de dinheiro é real. Estamos com o foco em 2016 e só!
Esse quadro favorece a corrupção, como constatou o Tribunal de Contas da União em auditorias na Lei de Incentivo ao Esporte e na Bolsa Atleta e no próprio Ministério.
Estranho, muito estranho, mas vou continuar neste assunto, porque tenho lá minhas suspeitas. Já vimos este filme…