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Patrocinada pela Petrobras, esgrima não tem verbas para viagem de atletas
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José Cruz

Patrocinados pela Petrobras, mas sem apoio para representar o Brasil em eventos internacionais, esgrimistas brasileiros pagam as suas despesas de viagem, e a maioria se apresenta com agasalhos emprestados. Será que as denúncias de corrupção na Petrobras influenciam no repasse dos patrocínios ao esporte? Mesmo com dificuldades, nova geração da modalidade conquistou cinco pódios no Pan-Americano de Toronto, encerrado ontem.

 Com uma delegação de 27 competidores o Brasil disputou o Pan-Americano Cadete e Juvenil de Esgrima, em Toronto, no Canadá, encerrado ontem, com atletas de oito países, entre eles os Estados Unidos, Argentina e México.

A nova geração da modalidade –  dos 14 aos 17 anos, na categoria Cadete, e dos 18 aos 20, na Juvenil –  conquistou cinco medalhas: uma de ouro, duas de prata e duas de bronze.

esta esgrima

Espécie de “primo pobre” do esporte brasileiro, a CBE (Confederação Brasileira de Esgrima) ainda não tem dinheiro suficiente para financiar as viagens dos jovens talentos, segundo relato de atletas e técnicos. Nesse evento de Toronto, cada atleta pagou as suas despesas, com ajuda dos pais, de seus clubes, amigos e um mínimo de patrocinadores.

Pior:

Nem agasalhos fornecidos pela CBE nossa delegação tem para viagens de representações oficiais.

Há bom tempo, muitos atletas que competem no exterior pedem os agasalhos emprestados para os que ficam. Por isso, é comum, na abertura dos eventos, cada um desfilar com  modelo diferente. Chegamos ao ridículo de um  atleta emprestar o agasalho para o colega ir ao pódio. E quem quiser vestir a roupa oficial que compre, na Confederação Brasileira de Esgrima. A tabela de preços está aqui.

Mas os resultados agora obtidos no exterior deverão contribuir para melhorar a Bolsa Atleta dos esgrimistas premiados.

Nesta viagem a Toronto, os únicos que estão com as despesas pagas são o chefe da delegação, Jorge Tuffi, presidente da Federação Paranaense de Esgrima, e o técnico Mestre Kato, também do Paraná.

Ironicamente, a Confederação de Esgrima têm o patrocínio da Petrobras, que exige a exibição de sua marca, agora desvalorizada devido às denúncias de corrupção.

Verbas

Este ano, a  Confederação de Esgrima receberá R$ 1,9 milhões da Lei Piva, via Comitê Olímpico Brasileiro. Recebeu R$ 1,7 milhão, em 2014.

Em 2012 e 2013 o Ministério do Esporte repassou R$ 2,3 milhões à CBE, para a compra de equipamentos e treinamento de atletas.

Petrobras

Em sua página na Internet sobre patrocínios ao esporte a Petrobras remete para o link do Instituto Passe de Mágica, executora do projeto de esgrima, junto com os de remo, boxe, levantamento de peso e taekwondo. Chegou a ser anunciado que, em cinco anos, o executor receberia R$ 100 milhões, via Lei de Incentivo ao Esporte, para todos os projetos.

Porém, o site do Passe de Mágica foi retirado da rede e, assim, não se sabe o valor do investimento da estatal em cada uma dessas modalidades. E a Petrobras não respondeu o pedido de informações sobre os seus patrocínios.

Conquistas

No Pan-Americano de Toronto, encerrado ontem, o paranaense Alexandre Camargo, categoria Cadete, foi medalha de ouro na Espada, vencendo o mexicano Diaz. Campeão brasileiro e sul-americano Cadete, Camargo tem vencido competições adultas no Brasil. Gabriel Bonamigo, também do Paraná, ganhou bronze na mesma prova.

No feminino, a gaúcha Gabriela Cecchini, do Grêmio Náutico União, foi prata no Florete Juvenil. Gabriela já foi medalha de bronze no Mundial Cadete. Ela representou o Brasil nos Jogos Olímpicos da Juventude. Também competiu na Europa várias vezes, mas sem dinheiro do COB ou da CBE.

No florete juvenil, o Brasil ganhou prata, por equipe, com Rafael Melaragno, Henrique Marques, Pedro Marostega e Nathan Ferreira. O grupo venceu o Canadá por 45 a 42. Na semi-final, derrotou a Argentina por 45 a 44, mas perdeu para os Estados Unidos, na decisão: 45 a 32.

Já  a equipe feminina do florete ganhou a medalha de bronze, com Mariana Pistoia, Gabriela Cecchini, Nicole Camozzato e Ana Luiza Toldo.  Venceram o México por 45 a 34 e perderam dos EUA na semi-final por 45 a 42. Na disputa do bronze venceram o Chile por 45 a 19.

Espertos

Apesar dessa realidade, os cartolas sabem tirar proveito dos resultados dos atletas, quando conveniente. Em julho do ano passado, o presidente do Comitê Olímpico Internacional, Thomas Bach, visitou o Rio de Janeiro. Naquela ocasião, a CBE pagou a passagem para que Gabriela Cecchini, bronze no Mundial Cadete, estivesse na recepção, pois o homenageado, Thomas Bach, foi medalhista olímpico de … esgrima.

Foi um jogo de cena para tentar mostrar ao ilustre visitante que o país investe na modalidade e tem seus campeões. Bobagem, pois a esgrima não está entre as prioridades do COB para 2016. Por isso, são inexpressivos os valores  da Lei Piva repassados à CBE. Mas somos um país olímpico!

Tentei conversar sobre essas informações com o presidente da CBE, mas fui encaminhado ao vice-presidente, Ricardo Machado, do qual aguardo retorno.

Para saber mais:

http://sites.petrobras.com.br/PPEC/esporte-de-rendimento

https://passedemagica.wordpress.com/category/plataforma-2016-esgrima/


Esgrima revela seu jovem talento
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José Cruz

Nos últimos anos, o Brasil evoluiu em modalidades até então sem resultados expressivos em torneios internacionais. Tiro com arco, pentatlo moderno, maratona aquática e surfe são os exemplos mais recentes do potencial brasileiro

Agora, o paulista Guilherme Murray, da esgrima, ingressa nesse ranking de resultados positivos no exterior, ao conquistar a medalha de bronze no torneio Challenge, da New York Fencing Academy, nos Estados Unidos,categoria 12 anos. Melhor: logo depois do pódio, Guilherme entrou na competição de categoria superior à sua, 14 anos, e  terminou as disputas em quinto lugar, demonstrando a ótima fase técnica, pois enfrentou atletas de nível internacional acostumados a disputar fortes torneios e com frequência maior do que os brasileiros.Muray-Esgrima

Memória

Guilherme (foto) foi notícia nacional há poucos meses. Num evento internacional, ele alertou o árbitro para uma pontuação errada que lhe fora atribuída, evitando prejudicar o seu adversário. Dei destaque a este fato porque, o jovem atleta aplicou, na prática, o que os dirigentes discursam na teoria, sobre a importância do “jogo limpo”. Esporte e educação, como se discute há anos…

O torneio

No evento de Nova York, o paulista entrou na chave principal, com todos os atletas jogando entre si. Após cinco combates da categoria 12 anos, classificou-se  para a eliminação direta.

Nessa etapa, o brasileiro venceu os norte-americanos Daniel Zaretsky e, em seguida, derrotou Jack Kambeseles. Na semifinal, perdeu para o Ethen Kushnerik (EUA), POR 15 a 14, mas garantiu o bronze, assim como o adversário Jaclyn Khrol (EUA).

Guilherme é atleta do Club Athletico Paulistano, e treinará este mês em academias norte-americanas.


O gesto olímpico do ano e a omissão do COB
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José Cruz

Na festa dos melhores atletas do ano, ontem, no Rio, o COB (Comitê Olímpico do Brasil) fez homenagens e valorizou esporte, “uma aula de cidadania”.  Disse mais:  “A adrenalina do esporte olímpico eterniza a ética, a esportividade e companheirismo”.

Porém, o COB, que difunde a teoria, deixou de exaltar justamente que teve esse comportamento na prática, Guilherme Forman Murray. Murray G

O maior feito desse esgrimista paulista de 12 anos foi na luta pelas oitavas de final do Panamericano de Esgrima, no Caribe, quando ele alertou o árbitro que não havia tocado o adversário com o florete, anulando o ponto que poderia lhe representar a vitória e o avanço às quartas-de-final. O pódio, quem sabe.

“Não fiz nada de mais, apenas o correto”, disse o jovem esgrimista.

Caráter, ética e educação mostram o verdadeiro “espírito olímpico”, é uma das máximas divulgadas.

Mas quando  o COB poderia exibir um atleta com esse perfil e de raríssimo comportamento, não o fez. Foi egoísta na homenagem a quem escancarou, na prática, o que os cartolas difundem na teoria.

Parabéns a todos os atletas que conquistaram importantes pódios internacionais nesta temporada. Mas, não tenho dúvidas, o gesto olímpico deste ano é de quem deu uma aula espontânea de fair play e educação desportivas, contrastando com o momento de corrupção e falcatruas em que o país e o desporto em geral estão envolvidos.  Guilherme não entrou no jogo do “ganhar a qualquer custo”.

Guilherme Murray  –  bisneto de Sylvio de Magalhães Padilha, que foi competidor olímpico no atletismo  –  encerrou esta temporada com o maior número de medalhas de ouro na esgrima, entre os atletas do Club Athletico Paulistano.


“Golpe de valor”, o feito do ano no esporte
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José Cruz

O COB (Comitê Olímpico do Brasil) realizará a tradicional festa dos destaques do esporte em 16 de dezembro.

Há novidades, indicando renovações, como as campeãs mundiais Martine Grael e Kahena Kunze, na vela, e Ana Marcela Cunha, na maratona aquática. E a surpresa, Marcus Vinicius D’Almeida, de 16 anos, vice mundial no tiro com arco.

Independentemente de pódios, o COB deveria homenagear outro jovem talento, o paulista Guilherme Forman Murray (foto). murray

O feito

Aos 12 anos, esse esgrimista foi o autor de um dos mais belos gestos que sintetizam todos os outros resultados no esporte, pódios e medalhas, inclusive.

Como já noticiei, Guilherme disputava aos oitavas de final do Panamericano de Esgrima, em Aruba, no Caribe. Poderia avançar no certame, mas ao ter validado um toque, Guilherme alertou o árbitro que não havia tocado o adversário com o florete, arma que disputa. O árbitro acatou, Guilherme perdeu o ponto e saiu da competição.

Caráter , ética e educação mostram o verdadeiro “espírito olímpico” difundido pelo COB. Mas foram, principalmente, nos ensinamentos da família e dos técnicos, no Club Athletico Paulistano, que Guilherme aprendeu a respeitar o adversário. Guilherme é bisneto do corredor Sylvio de Magalhães Padilha, ex-presidente do COB, morto em 2002.

Guilherme Murray é campeão brasileiro e sul-americano, e por seu feito fora do pódio a Associação de “Panathlon Clubes”, que defende os valores do esporte, homenageou o jovem brasileiro.

O feito do garoto teve repercussão nacional. Discreto, ele comentou:

“O pessoal no Brasil não está muito acostumado com isso (a lisura no esporte). Não fiz nada de mais, apenas o correto”.

Na minha avaliação, o gesto de Guilherme é o “feito do ano” no esporte.


“Vaquinhas”, a modernidade no Brasil Olímpico
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José Cruz

A esgrimista paranaense Giulia Gasparin, que disputa pela Sogipa, de Porto Alegre, tem Bolsa Atleta Internacional (R$ 1.850,00). O valor não é suficiente para financiar treinos e competições na Europa, como ela deseja, para melhorar tecnicamente e crescer no ranking e na equipe brasileira.

Como outros atletas, Giulia  faz campanha de doações pela internet. Uma “vaquinha” para recolher os R$ 10 mil que faltam para ir à Europa. A notícia está aqui.

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Em seu blog, Giulia escreveu:

“A esgrima é um esporte que esteve em todos os Jogos Olímpicos desde a primeira edição. Mas infelizmente há poucos recursos para este esporte, especialmente no Brasil. E tenho que pagar por todas as minhas despesas relacionadas ao esporte, incluindo equipamento (que são caros) e campeonatos”.

 Enquanto isso…

… esta notícia contrasta com o pote de ouro da verba pública. Este ano, são R$ 2.6 bilhões disponíveis para o alto rendimento.

FONTES 2014
ORÇAMENTO R$
Lei de Incentivo ao Esporte400.000.000,00
Lei Piva (previsão)170.000.000,00
Patrocínio Estatais (estimativa)200.000.000,00
Bolsa Atleta183.000.000,00
Orçamento ME Alto Rendim.1.700.000.000,00
 TOTAL2.653.000.000,00

 

Os recursos saem de várias fontes, mas,  em muitos casos, vão para um mesmo projeto, onde se concentram os atletas prontos, a elite, para os que já recebem até R$ 70 mil mensais só de patrocínios. Além disso, recebem as bolsas mais valorizadas (R$ 15 mil mensais) e ainda têm todo seu treinamento, competições e viagens financiadas pelo governo.

Talvez por isso faltem recursos para os que estão na base, na iniciação e, principalmente, para os atletas em formação, indispensáveis para a renovação das equipes.

Nessa realidade em que contrastam fartura e desperdício, e na falta de iniciativas do Ministério do Esporte para corrigir essa distorção, a velha e fiel “vaquinha” continua sendo a “modernidade” do Brasil olímpico.