Com atletas e técnicos estrangeiros Brasil faz contas para Jogos Rio 2016
José Cruz
A 500 dias dos Jogos Rio 2016 o Brasil esportivo está como nos eventos anteriores: fazendo contas. Contam-se os dias que faltam, os metros que avançam nas obras, os atletas com chances de medalhas, os pódios ainda possíveis, o saldo bancário sem fim… Cálculos, contas, faturas.
Há outras contas: são 46 técnicos estrangeiros atuando no Brasil. Somos um país olímpico com 1.500 faculdades de educação física, mas fracassamos na política esportiva – temos isso? – e precisamos importar técnicos, porque a mão de obra interna é frágil. Assim, se o Brasil for top 10, será com reforço de fora.
São 22 atletas estrangeiros – americanos, cubanos, italianos, alemães, canadenses, ingleses, croatas… – prontos para competir pelo Brasil em nove modalidades “estranhas” às nossas chances de pódio: esgrima, hóquei sobre grama, luta olímpica, polo aquático, rúgbi, tênis de mesa, remo…
Imagino a jovem chinesa Gui Lin no pódio do tênis de mesa, exibindo o uniforme verde e amarelo. Nada a estranhar. Afinal, também temos um ministro do Esporte “estrangeiro”.
Contas financeiras
Quanto custa esse reforço internacional? Quem revela esses valores? Quem está pagando? Bueno, essa última é possível responder. Quem paga a conta do gasto olímpico é o governo.
Paga obras também. Depois da destruição do velódromo, – destruição, mesmo! – que custou R$ 16 milhões, os Jogos Rio 2016 exigem outro monumento circular, agora dez vezes mais: R$ 158 milhões!
A pista der atletismo do estádio Nilton Santos, inaugurada em 2007, também foi destruída. Mas o “espírito olímpico” consumirá mais R$ 52 milhões nessa reforma ….
Não há dúvidas de que estamos preparando uma grande Olimpíada. E o Brasil poderá chegar ao top 10 dos países medalhistas. Até porque é na elite do esporte que o governo está investindo o dinheiro há muito tempo.
Mas, temos um espírito esportivo implantado, uma prática rotineira desde nossas escolas, passando pelas universidades, pelas associações de bairro, com estrutura para formar atletas. Somos frágeis nas relações institucionais entre clubes, federações e confederações. Que exemplo nos orgulha do pós-Pan 2007 em termos de ocupação dos espaços esportivos ou projetos de longo prazo ali desenvolvidos para a comunidade carioca?
Em Brasília, o estádio Mané Garrincha, de R$ 1,7 bilhão, está sem conservação, sem uso, com infiltrações, áreas depredadas (fotos), servindo de estacionamento para mais de 200 ônibus e, agora, sede de secretarias do governo do Distrito Federal …
É a realidade do esporte nacional como política de Estado. Há fartura de verbas e obras, como se observa no canteiro Rio 2016. É o casamento político com empreiteiras, muitas vinculadas ao Pan 2007, no foco da corrupção pública que está na rua. Mas o espírito olímpico que domina o discurso oficial esconde esses fatos, que são chatos, sei disso, mas reais.Mesmo assim, não tenho dúvidas, teremos os “Jogos dos Jogos”, como tivemos a “Copa das Copas”.
Sugiro a leitura dos dados oficiais do Ministério do Esporte, em forma de reportagem, sobre a preparação do Jogos Rio 2016, com destaque para a manifestação do ministro George Hilton:
“O Sistema Nacional do Esporte é o que há de mais real em termos de legado de um período que estamos vivendo desde 2007 com eventos mundiais”.
O link das reportagens do Ministério do Esporte está aqui