Planalto tenta corrigir trapalhada olímpica
José Cruz
Ricardo Leyser foi “rebaixado” porque perdeu o status de segundo homem na hierarquia do Ministério do Esporte. Mas retorna à Secretaria de Alto Rendimento prestigiado, pois levará o que tinha de mais valioso na Secretaria Executiva, o comando dos assuntos olímpicos, sua equipe, e a caneta para movimentar o principal orçamento da pasta
O retorno de Ricardo Leyser ao Ministério do Esporte, demitido na terça-feira da Secretaria Executiva, não é ato de compensação do governo federal, mas reparo de uma trapalhada de interesses políticos-partidários.
O pedido de “porteira aberta” do ministro George Hilton, isto é, liberdade para nomear parceiros do seu partido, o PRB, para os cargos mais valorizados do Ministério, colocou Leyser no olho da rua. Afinal, o secretário executivo é o substituto imediato do ministro. E como ter neste cargo um filiado ao PCdoB numa pasta dominada pelos religiosos do PRB?
A demissão de Leyser estava assinada pela presidente Dilma, e seria usada para mostrar ao ministro Hilton e ao PRB a determinação do Planalto em “abrir a porteira”. Mas com exigências, pois os vinte deputados da legenda não têm sido muito fieis ao governo nas votações da Câmara. Seria exigida das excelências a devida contrapartida: votos com o governo. Porém, antes dessa conversa, “alguém…” mandou a demissão para publicação no Diário Oficial, e o estrago apareceu.
Leyser, desde 2003 no Ministério do Esporte, é reconhecido pela totalidade dos cartolas, principalmente porque eles são beneficiados com fartura de dinheiro público, mesmo as confederações envolvidas em denúncias de corrução e péssima gestão da verba oficial, como a de Basquete, tênis etc.
Mais: ele é, principalmente, um dos interlocutores do governo junto às autoridades internacionais que preparam os Jogos Rio 2016. Leyser domina a máquina administrativa e financeira do esporte de alto rendimento, e tirá-lo da Secretaria Executiva para ali colocar o desconhecido Marcos Jorge Lima, especialista em pesca artesanal, a duzentos e poucos dias da abertura da Olimpíada, não cheirou bem entre os exigentes senhores dos anéis. A trapalhada pegou muito mal para a diplomacia olímpica do Palácio do Planalto.
Era preciso corrigir sem ofender o parceiro PRB, mas sem deixar a porteira totalmente aberta. Então, ficamos assim: Leyser é “rebaixado”, porque perde o status de segundo homem na hierarquia do ministério, para onde foi nomeado Marcos Lima. Mas retornará à Secretaria de Alto Rendimento prestigiado, pois levará o que tinha de mais valioso na Secretaria Executiva, o comando dos assuntos olímpicos, sua equipe e a caneta para movimentar o principal orçamento do ministério.
Que venha a tocha olímpica…