Blog do José Cruz

Família Grael coloca projeto náutico brasileiro no topo do mundo

José Cruz

Há duas semanas, a “saga de um campeão” continuou, quando Lars Grael sagrou-se campeão mundial da Classe Star, na Argentina, tendo como proeiro Samuel Gonçalves, o Samuca, ex-aluno do projeto náutico da família Grael, às margens da Baía de Guanabara, em Niterói

Samuca

Em 2001, Lars Grael escreveu “A saga de um campeão”, livro em que narra a sua trajetória de atleta e o acidente de 6 de setembro de 1998, quando uma lancha atropelou o seu barco, no litoral de Vitória. Lars teve a perna direita decepada. Chegava ao fim o sonho de conquistar a terceira medalha olímpica, nos Jogos de Sidney-2000, mas surgia nova trajetória de conquistas de títulos internacionais e ensinamentos às novas gerações, através de um projeto social criado em 1998

Previsão

“… Enquanto atuava como sparing (após se recuperar do acidente), analisava minhas chances de disputar os Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004, na classe Star, de barcos com quilha, que exigem menos movimentação e por isso permitem que o condutor seja um amputado de perna” – escreveu Lars Grael em seu livro, há 14 anos, o que motivou a seguinte entrevista:

BlogNo momento dessa narrativa havia esperança de voltares a ser destaque mundial, como agora, conquistando o Mundial na Classe Star?

Lars: Mínima sim, mesmo que fosse uma meta ambiciosa. A vitória do primeiro título Sul-Americano (após o acidente) em 2005 e o Troféu Benetti na Itália, em 2006, me deram a dimensão do possível. A medalha de bronze no Campeonato Mundial de 2009, alimentou este sonho.

Aos 51 anos, como avalias teu preparo físico para as constantes cambadas numa competição?

As cambadas (mudar a vela de lado) no Star não são tão simples, dado altura cruelmente reduzida da retranca deste barco desenhado em 1911. Por outro lado, por ter um cockpit estreito, permite que minha deficiência seja menos relevante do que em outras classes internacionais de veleiros de competição. Uma regata de campeonato mundial, gira em torno de 15 a 40 cambadas por regata, fora as manobras de Gybe (quando a cambada ocorre com Vento de Popa), e ainda, as manobras de deslocamento para raia e pré-largada. Preparo físico está adequado, mas pode melhorar… (sempre). Este esforço com 51 anos e considerando a deficiência, é questão de raça e muita força de vontade!!!

A conquista do Mundial teve significado maior por ter sido com um proeiro (Samuel Gonçalves), ex-aluno do Projeto Grael?  Como isso pode alertar o governo para a importância desse tipo de projetos?

Só a mídia pode contribuir com esta conscientização. O fato do proeiro campeão mundial ser oriundo de um projeto sócio/esportivo, é algo muito simbólico. Samuel tornou-se um grande velejador e acumula títulos na classe Star (Brasileiro; Sul Americano e Bacardi Cup), assim como, em 2011 conquistou a regata Cape Town to Rio como tripulante (e outros 3 alunos do Projeto Grael) do veleiro sul-africano “City of Capetown”

Você foi o idealizador e primeiro gestor do “Projeto Navegar”, no Ministério do Esporte. Quantos núcleos do Navegar ainda temos?

O Projeto Grael deu início às suas atividades práticas em agosto de 1998, um mês antes do meu acidente. O Projeto Navegar teve seu inicio no segundo semestre de 1999, com a implantação dos núcleos de Santarém (PA) e Brasília (DF). 19 núcleos foram instalados, mas infelizmente poucos mantem atividades, como, por exemplo, o núcleo de Ilhabela (SP) que é uma usina de novos velejadores, dos quais vários já consagrados na Vela.

Leia amanhã:

Quem é Samuel Gonçalves, o Samuca, que aprendeu a velejar no projeto náutico da Família Grael, e se tornou campeão mundial, como proeiro de Lars

Para saber mais:

http://www.projetograel.org.br/institucional/index.php