Blog do José Cruz

CPI, CBF e o valor “astronômico” da Copa 2014

José Cruz

Os R$ 9,5 bilhões projetados pela CPI do Futebol (e não por este blogueiro) sugerindo possíveis ganhos da CBF na Copa 2014 é, de fato, exorbitante. É algo perto de outro tanto de estádios recentemente construídos para o Mundial da Fifa, e é difícil imaginar resultado assim para apenas uma entidade no contexto do Mundial de Futebol. Para que se tenha ideia, R$ 9,5 bilhões correspondem ao lucro acumulado de apenas sete meses de um dos principais bancos particulares do país.

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Por ser “astronômico” os R$ 9,5 bilhões tornaram-se estratégicos na CPI do Futebol, uma forma de alertar o judiciário quanto à necessidade de novas quebras de sigilos, como ocorreu com Marin, buscando esclarecer, sem extravagâncias, sobre o real resultado financeiro da Copa 2014.

Cálculo

Calculada pela área técnica da CPI, a projeção não é aleatória. Ocorreu com base no recolhimento de imposto de renda do ex-presidente da CBF, José Maria Marin –  sócio minoritário (0,01%) no COL (Comitê Organizador Local). O imposto sobre R$ 985.201,95 foi por “participação em lucros ou resultados”, conforme declarado.

Diante desse ganho, entre outros declarados pelo ex-cartola, atualmente preso pela Justiça norte-americana, acusado de sonegação fiscal, quanto teria ido – e a que título –  para a CBF, majoritária no COL (99,99%)? Para esclarecer, o Blog enviou ontem à noite perguntas à assessoria da CBF.

Dribles no campo político

Nesse raciocínio, os técnicos da CPI chegaram ao estupendo valor que provocou longa discussão, mas que evidencia uma estratégia nessa disputa no campo político, liderada por um ex-jogador campeão do mundo e tradicionais cartolas do nosso futebol.

Ontem, por exemplo, a CBF avançou no primeiro tempo, quando seu assessor parlamentar, Vandemberg Machado, conseguiu esvaziar o plenário da CPI. Sem quórum, evitou a votação de pedidos de quebra de sigilos. Foi mais uma evidente demonstração de longa influência da CBF sobre senadores da República.

Reação

Indignado com o drible, Romário voltou ao jogo, reforçado pelo apoio do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP). Em poucas horas, a dupla conseguiu 34 assinaturas de senadores (sete a mais que o necessário) para prorrogar os trabalhos da CPI por mais seis meses. Havia o risco de alguns senadores retirarem a assinatura, o que é normal, e impor nova derrota à CPI. Espertamente, Romário aproveitou a sessão noturna e de plenário cheio para que o pedido fosse lido e aprovado em tempo recorde.

A CPI que encerraria seus trabalhos em dezembro, depois de um semestre de sabotagens, inclusive com o relator, Romero Jucá, contribuindo para a falta de quórum,  vai até julho de 2016.

Ao dispor

O espaço deste Blog está à disposição da CBF para esclarecer sobre os temas aqui tratados.

A ilustração deste artigo foi publicada originalmente na editoria de Economia do uol.com.br