Campo de pelada: Mané Garrincha vira alojamento e recebe até rachão
José Cruz
NO CORREIO BRAZILIENSE
Douglas Carvalho
O estádio mais caro da Copa do Mundo de 2014 — orçado em em R$ 1,8 bilhão — virou uma espécie de centro de convenções. Palco de apenas sete jogos de futebol neste ano, o Mané Garrincha recebe mais um evento inusitado: a 5ª Marcha das Margaridas. O encontro é vinculado ao Movimento Sindical dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (MSTTR) e reúne gente do Brasil e do exterior. Incapaz de atrair os principais times do país, a arena recebeu, na terça-feira (11/8), uma “pelada” de futebol feminino e alojará moradoras do campo e barracas de artesanato até esta sexta-feira (14/8).
A agenda do Mané Garrincha esteve vazia no primeiro semestre deste ano. O estádio sediou apenas duas partidas do torneio amistoso Granada Cup, as duas partidas da decisão do Candangão e três das Séries A e B do Campeonato Brasileiro. Na segunda metade do ano, o calendário parecia promissor. O Flamengo mandaria o duelo com o Santos na arena candanga, mas desistiu. O rubro-negro recebeu o Peixe no Maracanã e bateu recorde de público pagante: 61.421.
O Avaí rejeitou proposta de R$ 700 mil para jogar contra o Fluminense no Mané Garrincha. Recebeu o tricolor carioca na Ressacada e conquistou uma importante vitória na fuga contra o rebaixamento. Nem mesmo o Gama deseja mandar partidas no maior estádio do DF. O alviverde receberá os adversários da Série D no Bezerrão.
Fora do foco dos principais times do Brasil, o Mané Garrincha se torna alvo de eventos que destoam do objetivo primordial de sediar partidas de futebol. O setor de bares do estádio serve como alojamento para centenas de participantes da Marcha das Margaridas. Amontoados em colchonetes, eles dividem espaço com barracas de artesanato, roupas e comida. No local, também foi montado um palanque onde integrantes do movimento e até o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursaram sobre a marcha.
Enquanto o petista falava, centenas de pessoas ignoraram a presença dele para fazer um tour por parte da estrutura do Mané Garrincha, especialmente as arquibancadas. “Deve ser lindo ver o Flamengo jogar aqui”, imaginou o paraense Osvaldir Moreira no momento em que fitava as cadeiras inferiores da arena. Ele visita o estádio — e a capital do país — pela primeira vez.
O caríssimo gramado do estádio, retocado há pouco tempo, quando recebeu sementes de inverno vindas de navio da Dinamarca, foi palco de uma pelada feminina organizada pela marcha. Loteado em quatro partes, o campo, que custa R$ 95 mil mensais por mês ao Governo do Distrito Federal (GDF), teve apenas uma exigência: que as jogadoras usassem chuteiras a fim de evitar danos piores ao gramado.
“Não foi um torneio. Apenas um jogo simples com mulheres da marcha”, explicou a secretária executiva da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Monica Maria Guimarães. No círculo central do gramado, um palco em forma de margarida foi erguido para receber, nesta quarta-feira (12/8), a presidente da República, Dilma Rousseff.
Fotos: Carlos Vieira e Antônio Cunha (CB/D.A Press)