DIESPORTE – Como, onde e porque (não) se pratica esporte no Brasil
José Cruz
Aldemir Teles
Professor da Escola Superior de Educação Física da Universidade de Pernambuco
O DIESPORTE, Diagnóstico Nacional do Esporte, divulgado na última segunda-feira, reproduz alguns dados já conhecidos. Outros, embora inéditos, não surpreendem, a não ser pelos valores percentuais encontrados.
Entre outros equívocos cometidos no Diagnóstico, um dos mais evidentes e que chamou atenção de especialistas, foi não categorizar adequadamente esporte e atividade física. Assim, “academia”, que não é nem esporte nem atividade física, entrou nas duas categorias como dos mais “praticados”.
Esportes como o futsal é menos praticado do que “academia”, mas não tem vez na lista entre as atividades físicas mais praticadas, como o voleibol, por exemplo. A pesquisa falha, ainda, por não ter apresentado detalhadamente a metodologia, além dos dados sobre infraestrutura e financiamento, como prometido.
Sedentarismo
O número de sedentários apresentado no documento não representa novidade, por isso não deveria causar surpresa ao ministro George Hilton. Segundo a pesquisa VIGITEL 2014, (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico) do Ministério da Saúde, são 48,7% de sedentários. O Diesporte aponta para 45,9% de sedentários.
Embora confusos e, por isso, pouco esclarecedores, alguns dados do diagnóstico, e outros estudos, sugerem que a origem dos problemas apresentados, como sedentarismo, obesidade etc. estão na escola. Devem-se ao fracasso das propostas pedagógicas para a disciplina de educação física e a forma como o conteúdo esporte passou a ser conceituado e tratado pedagogicamente, após o final da década de 1980.
Isso ocorreu com o surgimento da corrente marxista, nesse período, formada por professores de várias universidades do país. O movimento propunha uma “teoria crítico-superadora” para a educação física e para o esporte. “A criança que pratica esporte respeita as regras do jogo… capitalista” foi um dos motes. O movimento influenciou e ainda influencia, fortemente, milhares de acadêmicos de educação física Brasil afora. Os agora ex-acadêmicos são os atuais professores que, de alguma forma, reproduzem as tais teorias.
Os números apontam para os argumentos defendidos aqui. Vejamos alguns deles:
1 – Na Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE 2012), 63,1% dos alunos adolescentes avaliados foram considerados insuficientemente ativos (menos de 300 minutos de atividade física acumulada nos sete dias anteriores à avaliação).
2 – O Diesporte aponta que 69,3% tiveram iniciação no esporte entre os 6 e 14 anos. O dado demonstra que ao menos 30% de jovens nessa faixa, em idade escolar, não tiveram acesso à prática esportiva.
3 – O início da prática esportiva ocorreu na Escola/Universidade para 48% dos pesquisados. Isso significa que mais da metade dos sujeitos não tiveram oportunidade de aprender esportes na escola; e que outros só tiveram acesso ao esporte ao chegar à universidade. Como se explica isso no país que pretende ser potência olímpica?
4 – A pesquisa informa que 45% das pessoas abandonam a prática de atividade física e esporte entre 16 e 24 anos. Mas eles mal começaram…
Estou cada vez mais convicto de que a tarefa de mudar os hábitos dos brasileiros em relação à prática regular da atividade física e do esporte não é do Ministério do Esporte e sim do Ministério da Educação.
É na escola, onde se universaliza a cultura e o conhecimento, que o aluno pode aprender sobre a importância da prática da atividade física e do esporte, o conhecimento de como, quando e porque praticar, além do prazer pelo movimento.
Mais do que se tornar uma potência esportiva, é preciso desenvolver no país a cultura em torno do esporte. E esse é um papel, especialmente, da escola. A figura ilustra as consequências, para qualquer sistema esportivo, da falta de investimento no esporte escolar. O professor Gustavo Pires chama de teoria da “Causalidade circular”.