Rio 2016, a Baía de Guanabara e a manifestação de Lars Grael
José Cruz
Do velejador e medalhista olímpico Lars Grael, patrimônio ético do nosso esporte, recebi a seguinte mensagem, a propósito do eterno debate e indecisão governamental sobre a limpeza-despoluição da Baía de Guanabara, local das regatas dos Jogos Rio 2016
“Cabe esclarecimento quanto à noticia veiculada de que o Instituto Rumo Náutico (Projeto Grael) “irá” receber recursos da Secretaria de Estado de Ambiente – SEA do Governo do Estado do Rio de Janeiro.
O regime de contratação anunciado seria “de caráter emergencial e sem necessidade de licitação”. Primeiramente quero afirmar que fiquei surpreso ao tomar conhecimento da possível parceria pela mídia.
Nosso irmão Axel é um ambientalista; Engenheiro Florestal; ex Presidente do Instituto Estadual de Florestas – IEF; ex Presidente da FEEMA (atual INEA) e ex Secretário Adjunto do Estado de RJ de Meio Ambiente. Atualmente Axel é Vice Prefeito de Niterói e foi presidente do Instituto Rumo Náutico que é a Organização Social responsável pelo Projeto Grael (fundado em 1998).
Axel é um dos mais respeitados profissionais que dedica-se ao aos estudos dos problemas da Baía de Guanabara.
O projeto apresentado nesta 4ª Feira à SEA, é um dos mais completos e tecnicamente embasados projetos de contenção, e ainda, captura de lixo flutuante da Baía de Guanabara.
Pessoalmente sou tecnicamente favorável a execução do projeto. A tecnologia proposta, foi implementada com sucesso por exemplo em: Baltimore tem ecobarreiras e ecobarco no Waterfront, Os canais de Amsterdam têm sistemas de retirada de lixo, O Tamisa tem, Roterdam tem, os canais da França tem…
Temos que deixar claro que a despoluição é diretamente relacionada aos índices de saneamentos da região metropolitana do Rio de Janeiro. A meta de 80% era sabidamente utópica. Assumir o não cumprimento da meta, chega a ser uma virtude no sentido de os governos buscarem uma solução real e factível para a bela, porém, poluída Baía de Guanabara.
O que está em discussão não é a despoluição, das águas, mas a captura de lixo nas águas da Baía.
A proposta da SEA neste caso, é um plano chamado por muitos de “paliativo”, porém, fundamental na redução de detritos flutuantes nas raias olímpicas da Vela de 2016. O eventual êxito deste projeto, gerará efeito positivo em 2 outras modalidades olímpicas: a Maratona Aquática e a parte da natação do Triatlo, ambos realizados em Copacabana e sob efeito das águas da Baía de Guanabara.
O Instituto Rumo Náutico – IRN é uma organização social que tem suas origens no Projeto Grael, concebido em 1996 e implantado em 1998.
Mais de 13 mil jovens tiveram acesso ao Projeto Grael. Mais que uma escola de Vela, é um projeto de inclusão social através da Vela, o Projeto Grael especializou-se na educação ambiental, início a Natação e no ensino técnico profissionalizante.
O que está em discussão no Conselho Diretor do IRN, é se a entidade seria capaz de assumir obrigações e responsabilidades, originalmente do Estado do RJ.
1503 dias se passaram e praticamente nada foi feito no sentido de solucionar o risco ambiental previamente conhecido da Baía de Guanabara.
O Projeto de Despoluição da Baía de Guanabara – PDBG tardou mais de 2 décadas e poucos resultados são perceptíveis.
Faltam menos de 500 dias para os Jogos Olímpicos Rio 2016 e nossa pergunta é: Dá tempo de despoluir? Provavelmente a resposta será NÃO, porém é possível reduzir o desgaste, se houver prioridade e vontade política nas obras de saneamento. É possível evitar a presença de lixo na raia Olímpica? Provavelmente não, mas é possível reduzir substancialmente a quantidade deste lixo.
Nossa razão de ser (Core Business) do Instituto Rumo Náutico, é educar e capacitar para a mentalidade marítima e cidadania através da Vela.
Seríamos capazes de solucionar a questão do lixo flutuante nas raias Olímpicas? Provavelmente não.
O IRN não possui interesse e nem fica motivado por uma contratação emergencial sem a necessidade de licitação. Outras ONG`s; OSCIP`s ou empresas privadas podem fazê-lo com maior agilidade, conhecimento técnico, operacional e estrutura para tal.
Como disse, sou favorável ao mérito, mas contra o IRN ser o gestor direto do referido projeto. Não é nossa vocação substituir o papel do Estado, mais ainda sob o risco institucional de uma dispensa de licitação.
Podemos ajudar agregando conhecimento técnico e capacitando mão de obra.
Gerir? Sou pessoalmente contra. O Conselho Diretor definirá nesta 2ª Feira. À partir de 2ª Feira, teremos uma posição definitiva se o IRN será gestor, ou, meramente apoiador do projeto.”
Bons Ventos,
Lars Grael
Idealizador e fundador do Projeto Grael e atualmente e conselheiro do Instituto Rumo Náutico.