Olimpíada? eu?
José Cruz
Ótimo artigo de José Henrique Mariante, publicado na Folha de S.Paulo, em 7 de janeiro, sintetizando a indicação do deputado George Hilton para o Ministério do Esporte. O autor é secretário-assistente de Redação da Folha
Acuado por atletas e críticos de ocasião, o novo ministro do Esporte adotou a estratégia do ignorante: não sei, prometo que vou aprender e me cercar de quem sabe. Nenhuma novidade na pasta. Aldo Rebelo, o ocupante anterior, tampouco sabia de esporte e enfrentou a Copa como um ignorante faria –frases de efeito e, em não surtindo o mesmo, de pura arrogância.
Dilma Rousseff, pela reincidência, também parece fingir que não sabe o que vai acontecer daqui a 18 meses no Rio. Se soubesse, não arriscaria tanto a reputação do país. Ou, se sabe, confirma o que há muito se desconfia, o Ministério do Esporte não serve para nada. Pelo menos para nada que se refira a esporte.
Se a presidente prefere ignorar a magnitude do problema que tem pela frente, talvez o leitor e seu bolso prefiram saber que a Rio-2016 está no limite do atraso. E que, em agosto, a um ano dos Jogos, essa régua será ainda mais evidente. As últimas quatro edições dos Jogos contam boas histórias, bastará ver com qual a do Rio mais se parece.
A um ano das competições, Sydney-2000 tinha suas instalações prontas e funcionando. Crianças nadavam na piscina pública que meses depois coroaria o surpreendente Peter van den Hoogenband. Londres-2012 finalizava os jardins de seu Parque Olímpico, com o requinte de monitorar insetos e abelhas e garantir a polinização de uma floração mais abundante para dali um ano.
Atenas-2004 era um canteiro de obras e passava o chapéu pelos colegas de União Europeia para evitar vexame histórico. Pequim-2008 também contabilizava atrasos, provocados pelo gigantismo das obras, como aeroporto em formato de dragão de 3 km de extensão e a implantação de uma gigantesca floresta, a partir do nada, ao lado da cidade.
Claro, o Rio parece mais próximo desse segundo grupo pelo cronograma. Mas algo fundamental também o afasta do competente primeiro bloco: o envolvimento real, cotidiano e executivo do ente federal.
Tanto australianos como britânicos moldaram a própria burocracia para dar conta do evento. Ministros para a Olimpíada, com amplo acesso às diversas esferas de governo, foram empossados para fazer a coisa andar. Enfrentaram licitações, greves, ameaças, politicagem e quebra-quebra. Em igual medida, enfrentaram o COI e suas próprias autoridades nacionais esportivas, que, em qualquer lugar, pedem muito e fazem pouco.
O Rio até ensaiou esse movimento. O pouco que saiu do papel foi para cartões de visitas de ''autoridades''.
Restará ao novo ministro parafrasear o antecessor e dizer que Olimpíada é como Carnaval, em que tudo se apronta na última hora? Caro ministro, aceite uma primeira lição, Olimpíada é diferente de Copa. A norma é perder de 7 a 1.