A regra do jogo e o aprendizado eclipsado
José Cruz
Por André Beltrame
Professor de Educação Física da Secretaria de Educação do Distrito Federal
Do pano de fundo político e econômico do esporte, comumente tratado neste blog, trago aos leitores, um exercício de reflexão pedagógica. O recorte escolhido aconteceu em um evento denominado Paralimpíadas Escolares, mais precisamente, no Congresso Técnico de uma determinada modalidade.
Esclareço, antes, para os leigos, que no movimento paralímpico as disputas são divididas por classes que, por sua vez, estão relacionadas ao tipo de deficiência e funcionalidade do participante.
A classificação funcional tem a função de dar paridade ao processo de competição, agrupando pessoas com as mesmas limitações – decorrentes da deficiência – dentro de um mesmo processo de disputa e quanto menor a classe do participante maior a sua limitação funcional.
Sendo assim, havia apenas dois alunos com a mesma funcionalidade. Eram dois jovens de classe I de estados distintos. Foi observado que, se eles competissem, apenas ganhariam medalha, sem, contudo, poder pleitear a Bolsa Atleta. Segundo as normas, para se obter a Bolsa devem competir mais representantes.
Na ausência de outros candidatos de mesma classe a sugestão foi fazer o grupamento com os participantes de outras classes com mesma deficiência, porém com grau de funcionalidade maior do que a dos dois jovens, para que acontecesse a competição. Para os professores presentes isso era algo corriqueiro nas competições adultas e, portanto, não teria problema em realizá-la com a “inclusão” desses jovens.
Eis que em tempo, um professor contraria a idéia e propõe que se abrisse mão da Bolsa Atleta, em prol dos jovens, e relatou: “Eles nem terão chance de jogar e de aprender, o grau de mobilidade de meu aluno é muito pequeno. (…) será muito frustrante para eles que se prepararam disputar com colegas que tem bem mais mobilidade. (…) e quanto à Bolsa Atleta o meu aluno não veio aqui pelo dinheiro, veio pelo prazer de viver uma disputa esportiva”.
A voz do professor, não superou o entendimento dos demais, inclusive um deles argumentou: “… e é por isso que eu nem trago jovens de classe I, sei que vai acontecer isso mesmo”.
Então, reflito que de uma situação aparentemente irrelevante para o senso comum como essa, poderíamos debater em que medida tal interesse contribui para o aprendizado esportivo da criança. Ou se seriam, de fato, as regras do esporte adulto fenômenos simbólicos intangíveis.
Por fim, mas não final de conversa, sem querer contestar a lisura do evento ou a boa índole de quem a tenha, penso ser de grande valia a compreensão da dinâmica que pode estar em curso, partindo aí tanto de quem a organiza como para quem a pratica.