O gesto olímpico do ano e a omissão do COB
José Cruz
Na festa dos melhores atletas do ano, ontem, no Rio, o COB (Comitê Olímpico do Brasil) fez homenagens e valorizou esporte, “uma aula de cidadania”. Disse mais: “A adrenalina do esporte olímpico eterniza a ética, a esportividade e companheirismo”.
Porém, o COB, que difunde a teoria, deixou de exaltar justamente que teve esse comportamento na prática, Guilherme Forman Murray.
O maior feito desse esgrimista paulista de 12 anos foi na luta pelas oitavas de final do Panamericano de Esgrima, no Caribe, quando ele alertou o árbitro que não havia tocado o adversário com o florete, anulando o ponto que poderia lhe representar a vitória e o avanço às quartas-de-final. O pódio, quem sabe.
“Não fiz nada de mais, apenas o correto”, disse o jovem esgrimista.
Caráter, ética e educação mostram o verdadeiro “espírito olímpico”, é uma das máximas divulgadas.
Mas quando o COB poderia exibir um atleta com esse perfil e de raríssimo comportamento, não o fez. Foi egoísta na homenagem a quem escancarou, na prática, o que os cartolas difundem na teoria.
Parabéns a todos os atletas que conquistaram importantes pódios internacionais nesta temporada. Mas, não tenho dúvidas, o gesto olímpico deste ano é de quem deu uma aula espontânea de fair play e educação desportivas, contrastando com o momento de corrupção e falcatruas em que o país e o desporto em geral estão envolvidos. Guilherme não entrou no jogo do “ganhar a qualquer custo”.
Guilherme Murray – bisneto de Sylvio de Magalhães Padilha, que foi competidor olímpico no atletismo – encerrou esta temporada com o maior número de medalhas de ouro na esgrima, entre os atletas do Club Athletico Paulistano.