Crise financeira obrigará Brasília abrir mão da sede da Universíade 2019
José Cruz
Um dos primeiros atos do governador eleito do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg, ao assumir em 1º de janeiro, será informar oficialmente à Federação Internacional de Esporte Universitário (FISU) que Brasília declinará da realização dos Jogos Mundiais Universitários, as tradicionais Universíades, em 2019.
Motivo da desistência: o contrato de 23 milhões de euros (R$ 75 milhões), que seriam pagos à FISU pelo governo de Agnelo Queiroz, encerrando o mandato, não foi honrado. A informação, obtida pelo blog, foi confirmada pelo jornalista Hélio Doyle, chefe da Casa Civil do futuro governador.
“Lamentamos tomar esta decisão, pois sabemos sobre a importância desses Jogos e o que isso poderia significar para a cidade. Mas enfrentamos uma situação financeira muito grave. Os problemas do Distrito Federal são muito sérios e merecem outras prioridades”, disse Doyle.
A direção da FISU foi informada, extraoficialmente, sobre a futura decisão. Porém, na página da entidade Brasília ainda aparece como cidade-sede para 2019.
A sede
Em 9 de novembro de 2013, Brasília conquistou a sede da Universíade. O anúncio foi na Bélgica, na presença do governador Agnelo Queiroz e do ministro do Esporte, Aldo Rebelo. A cidade não teve concorrente, pois Baku, no Azerbaijão, e Budapeste, na Hungria, retiraram suas candidaturas.
A dívida
Conforme a reportagem apurou, na data do anúncio a cidade-sede o governo do Distrito Federal deveria depositar 23 milhões de euros em favor da Fisu. O governador Agnelo Queiroz negociou para atender a essa exigência tão logo retornasse a Brasília, o que não ocorreu. No início deste ano houve novo acerto e o valor foi parcelado: 8 milhões de euros (R$26 milhões) este ano e 15 milhões de euros (R$ 16,3 milhões) no ano que vem, já sob novo governo.
Segundo uma fonte da área financeira do Governo do Distrito Federal, os 8 milhões de euros foram disponibilizados, mas o valor não chegou a ser repassado à Fisu, porque não havia garantias no orçamento de 2015 para pagar o saldo de 15 milhões de euros. Se o repasse fosse realizado, o gestor responsável pela operação poderia ser enquadrado na Lei de Responsabilidade Fiscal, disse a mesma fonte.
O tempo passou e a dívida foi consagrada. Na eleição de outubro, Agnelo não chegou ao segundo turno, e os problemas financeiros do Governo do Distrito Federal se agravaram.
Desabafo
“Mais uma vez o esporte será sacrificado, e quem perde são os atletas, professores e a sociedade do Distrito Federal. Porém, temos que ter consciência de que o senhor Rollemberg está recebendo um governo com déficit de R$ 3,8 bilhões, e que não será fácil administrar a cidade sem dinheiro”, disse, a presidente do CREF 7 (Conselho Regional de Educação Física), Cristina Calegaro. Ela também vice-preside o Conselho de Educação Física e Desporto do Distrito Federal, órgão da Secretaria de Esportes.
Descontrole
A situação financeira de Brasília é de “descontrole”, afirmou o Ministério Público do Distrito Federal, e até a festa de réveillon, na Esplanada dos Ministérios, foi cancelada.
Conforme a imprensa tem noticiado, Rollemberg herdará de Agnelo um déficit de R$ 3,8 bilhões e gravíssimos problemas nas áreas de saúde, educação e transportes, principalmente. Há um mês a capital da República tem manifestações diárias de servidores que estão com salários atrasados até três meses. Faltam médicos, remédios e materiais básicos para cirurgias nos hospitais.
Os Jogos
Realizadas desde 1923, a Universíade é disputada a cada dois anos por até 12 mil atletas, inscritos em 16 modalidades. Nas edições mais recentes, 166 países enviaram delegações. O Brasil recebeu o evento apenas uma vez, em 1963, em Porto Alegre.
A reportagem tentou contato com autoridades do GDF, com o presidente da Confederação de Desporto Universitário e com o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, para comentarem sobre o assunto, mas não obteve retorno.