O Corinthians paga o pato, mas…
José Cruz
“Pagar dívida e cair não adianta nada. É melhor dever e não cair. Paga depois.”
(Kleber Leite, ex-presidente do Flamengo, em entrevista ao UOL Esporte)
Interessante que todo esse barulho sobre a cobrança da dívida fiscal do Corinthians ocorre enquanto clubes, jogadores e governo negociam um projeto de lei justamente para isso, parcelar a dívida e dar fôlego financeiro aos devedores.
Essa cobrança pública da dívida corintiana indica que a proposta do governo, em elaboração no Ministério do Esporte, será dura e sem vantagens exageradas, como queriam os cartolas e deputados, com apoio do próprio ministro Aldo Rebelo?
Essa é a questão: enquanto o ministro quer ser bonzinho, a Fazenda e o Planejamento querem receber o que lhes foi surripiado.
Durante toda o debate sobre a dívida fiscal dos clubes, desde o ano passado, o Ministério do Esporte se alinhou aos cartolas, enquanto o Ministério da Fazenda, principalmente, alertava que não facilitaria na redução dos juros nem em prazos exagerados.
Fato real
Não é só o Corinthians que desconta os percentuais fiscais de atletas e funcionários e embolsa a grana, em vez de recolher ao fisco, promovendo a tal “apropriação indébita” ou calote. A maioria dos clubes age assim.
Hoje, em entrevista ao UOL Esporte, o ex-presidente do Flamengo, Kleber Leite, incentiva essa prática fraudulenta aos cofres públicos. Referindo-se à péssima campanha do clube carioca e a iminência do rebaixamento, vejam o que sugeriu o ex-cartola:
“Pagar dívida e cair não adianta nada. É melhor dever e não cair. Paga depois.”
Vasco
Nessa questão de “calote fiscal”, Kléber é da mesma escola de Eurico Miranda, ex-presidente do Vasco.
Em 6 de outubro de 2013, numa audiência pública na Câmara dos Deputados e presença de várias autoridades, Eurico disse o seguinte:
“Todos nós aqui sabemos como essa dívida (fiscal) foi criada e cresceu. Os clubes não recolheram (aos cofres públicos) os valores retidos dos jogadores e funcionários. É sempre assim”.
Esses depoimentos de Eurico Miranda e Kléber Leite são declarações oficiais da fraude e de incentivo para que continuem fazendo o mesmo. Não há mais vergonha nem constrangimento e agir assim, e todos continuam soltos.
Botafogo
E o que dizer do Botafogo, cujo presidente, Maurício Assumpção, não pagou a dívida negociada, mesmo tendo dinheiro em caixa?
Na memória:
Ao sair da presidência do clube, em 2008, o então presidente, Bebeto de Freitas, deixou todas as dívidas fiscais negociadas e parceladas. O dinheiro que o clube receberia nos anos seguintes era suficiente para honrar o parcelamento.
Além disso, Maurício Assumpção herdou um bem valioso: Bebeto deixou no clube todas as certidões negativas, fato raro na maioria das agremiações esportivas, pois a direção do Botafogo poderia captar recursos públicos.
No entanto, Assumpção, mesmo com caixa positivo, optou pelo calote, pelo drible ilegal, e perdeu todas as certidões negativas. Agora, de joelhos, pede apoio ao governo, enquanto a Justiça não bate à sua porta.
São esses, presidente Dilma Rousseff, os personagens que vão ao seu gabinete pedir benefícios para pagar o calote fiscal.
Para saber mais:
http://josecruz.blogosfera.uol.com.br/2013/10/eurico-miranda-explica-como-ocorreu-calote-dos-clubes/
http://sportv.globo.com/site/programas/redacao-sportv/noticia/2014/08/bebeto-de-freitas-seu-estivesse-no-bota-teria-pago-100-de-sua-divida.html