A conta das medalhas
José Cruz
Em crise financeira e técnica, Botafogo, Flamengo e Vasco têm outro detalhe em comum: os três clubes foram criados com influência da prática do remo.
Agora, o vexame desses times e a desordem em suas finanças no futebol nos remetem e essa memória histórica. Estamos a dois anos dos Jogos Rio 2016, e qual a iniciativa de massificação no remo – e outros esportes, claro – para evitar que o “barco vire”, como ocorreu com o futebol?
Enquanto isso…
… na falta de talentos para formar uma delegação altamente competitiva, o Comitê Olímpico Brasileiro e o Ministério do Esporte fazem contas e projetam o número de medalhas em 2016. A proposta é colocar o frágil Brasil esportivo entre os 10 primeiros campeões países olímpicos. Precisamos evitar, em casa, o vexame da Seleção Brasileira no recente Mundial. Então, na falta de planejamento, vamos às contas. Mas será que estão conversando com os adversários?
Esse contraste entre a carência de atletas para uma boa seleção e a projeção de pódios, a dois anos da Olimpíada, escancara nosso atraso. Vivemos de “expectativas”, em vez de planejamento de longo prazo.
Em recente entrevista, nossa maior expressão no remo, a flamenguista Fabiana Beltrame, declarou:
“A renovação do remo no Brasil praticamente não existe. Eu percebo isso quando chego nas competições e noto que nunca vi os atletas argentinos antes. Enquanto nós brasileiros somos sempre os mesmos. Só agora que a Confederação Brasileira está começando a se planejar”.
Negócio suspeito
É nesse panorama que volto ao Estádio de Remo da Lagoa. Desde 1997, numa ação suspeita de ilegalidade, essa valorizada área transformou-se no “Shopping Lagoon”, um centro de consumo administrado pela Glen Entertainment. O negócio, fechado pelo governo do Estado, é contestado na Justiça.
Certo é que, o lucro comercial sufocou atletas e clubes, que perderam privilegiado espaço público. E sabe-se lá que benefícios tiveram os políticos que autorizaram essa ação predadora ao esporte em geral e ao remo em particular.
O interessante é que esse “desmanche” continuou quando acabaram com o Velódromo, com o Estádio de Atletismo Célio de Barros, o fechamento do Engenhão, a perda de credenciamento para exames antidoping e por aí vai.
Pior:
Mesmo nas mãos da iniciativa privada, que ali obtém lucro fácil e facilitado, por que o Estado bancou a reforma do Estádio do Remo – R$ 13,2 milhões – para receber regatas dos Pan 2007? Quem está levando quanto nesse negócio?
Comparativamente à fundação de Botafogo, Flamengo e Vasco, há mais de 100 anos, regredimos na prática e na gestão esportiva. E o Estado, incapaz, implode, sem contestação, espaços esportivos valiosos.
Talvez, por isso, Carlos Nuzman e o ministro Aldo Rebelo estejam fazendo a conta das medalhas para 2016…