Blog do José Cruz

Arquivo : julho 2014

Colombianos, tenham orgulho de James, não de Zuñiga
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José Cruz

Por Fabiana Bentes

Não existe máfia a favor do Brasil vencer a Copa do Mundo, muito menos necessidade de explicar como o Brasil ganhou cinco títulos mundiais. O Brasil não precisa mostrar quem é no futebol. É uma besteira ficarem dizendo que a Copa foi vendida, isso é coisa de gente que não sabe perder ou de jornalistas que não tem o que falar. Como ex-atleta aprendi que perder com dignidade fortalece. Como jornalista, aprendi a escrever com o objetivo de fazer as pessoas pensarem, não necessariamente concordarem comigo.

A Seleção da Colômbia jogou muito bem, e eu fui uma das grandes entusiastas desta equipe por razões óbvias: marido colombiano, filho colombiano e quase três anos vivendo nesse país maravilhoso.

Posso dizer com propriedade. Se os colombianos querem ter orgulho de alguém, que tenham de James. Ele é uma pessoa que representa o que há de melhor nesse país. Tem força, talento, carisma e sabe que, no futebol, mesmo em uma Copa do Mundo, brigar pela sua pátria é brigar com dignidade, com a alma de uma boa pessoa, porque assim são os colombianos: guerreiros do bem.

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Zuñiga extrapolou. Não importam as faltas que os brasileiros cometeram, muito menos a qualidade do árbitro. Ninguém dá um chute no joelho de um jogador, como ele fez com Hulk, e tampouco “para defender” seu país, dá uma joelhada nas costas de outro jogador, a ponto de quebrar uma vértebra, como fez com Neymar.

Zuñiga tirou de um dos melhores jogadores do mundo a continuidade de um sonho, e isso não se faz com nenhum atleta. Neymar é nosso James, e é de James que o povo colombiano deve se orgulhar. Esqueçam Zuñiga.

David Luiz reconheceu o herói de vocês, Zuñiga tirou o nosso da Copa.

Fabiana Bentes é Diretora do Esporte Essencial
fabianabentes@esporteessencial.com.br


A dor de um craque e a real tragédia brasileira
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José Cruz

Os principais jornais destacam o que já se sabia ontem à noite: “Neymar está fora da Copa”. Mas há muito pouco de repercussão sobre a queda de um viaduto em Belo Horizonte, com morte de duas pessoas, na quinta-feira, e as relações da construtora Cowan com políticos e suas doações para campanhas eleitorais. Ou sobre a morte de dezenas, vítimas de enchentes no Sul do país.

A força do futebol é estupenda e coloca a corrupção e outras tragédias no chinelo.

O Correio Braziliense tenta sensibilizar o leitor-torcedor: “A dor que calou nossa alegria”, diz a manchete, com Neymar ao fundo se contorcendo de dor.

Impressiona a solidariedade do Jornal de Brasília: “Neymar, sua dor é nossa”!

Folha de S.Paulo, Estadão e o Globo deram pequeno espaço, na parte inferior da capa, à legitima tragédia nesta Copa, o desabamento de uma passarela em construção, em Belo Horizonte, com morte de duas pessoas e vários feridos.

Reparem que um “legado da Copa” desaba, mata e entra no esquecimento. Já a dor de um craque, agredido covardemente pelas costas, mas que em um mês voltará a correr pelos campos de futebol, “nos une em comoção nacional”, como escrevia Nelson Rodrigues. Esse sim, que falta nos faz!

Tragédias

Essa tragédia de Belo Horizonte esconde outras gravíssimas, que agridem o contribuinte. A direção da Cowan, construtora da passarela, tem íntimas relações com políticos, inclusive o vice-presidente Michel Temer, que já usou o jatinho dessa empresa para suas viagens Brasil afora.

E construtoras, que executam obras superfaturadas, como afirma o Tribunal de Contas da União, são as principais financiadoras de campanhas políticas. Segundo reportagem da Associação Contas Abertas, a Cowan, por exemplo, destinou R$ 2,8 milhões para a campanha eleitoral de 2012. Desse total, R$ 1,8 milhão foi para o PMDB, R$ 500 mil para o PCdoB e R$ 500 mil para o PSDB.

Nessa mesma campanha de 2012, quem mais destinou grana para os políticos foi a Andrade Gutierrez, R$ 81,2 milhões, seguida da Queiroz Galvão, R$ 52,1 milhões e OAS, R$ 44,1 milhões.

Paralelamente, auditorias do TCU em obras públicas identificam centenas de superfaturamento nessas obras, Brasil afora. Não é difícil relacionar os motivos. E facilita entender a íntima relação de empreiteiros e políticos e o porquê de o estádio de Brasília ter custado espetacular R$ 1,8 bilhão, numa cidade sem clubes nas três principais divisões do futebol brasileiro!

Porém, esse tipo de noticiário passa ao largo do debate do torcedor-eleitor. Mas, pela agressão natural de quem disputa uma valorizada Copa das Copas, ficamos sem o craque e isso poderá representar, contra Alemanha, uma “catastrófica tragédia nacional” – novamente apelando à memória Rodrigueana.


Mais um feriado garantido… Agora vai!
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José Cruz

Depois da classificação para a semifinal, está claro que a liderança da Seleção do Felipão vem da retaguarda, dos zagueiros. Está respondida minha indagação na mensagem anterior.

Atuação segura e séria de Thiago Silva e, principalmente, de David Luiz, que foi zagueiro e atacante, exemplar. A dupla compensou o que faltou a Fred e a Neymar e acabou com a fama do ataque da Colômbia. O coletivo fez o diferencial, mas os gols vieram de duas bolas paradas.

Mais: Thiago Silva recuperou-se daquela virada de costas para o campo, nos pênaltis contra o Chile. Calou a boca de muitos. Minha, inclusive.

Dúvida

Thiago Silva, com cartão amarelo, está fora contra Alemanha. E se Neymar não se recuperar? Felipão acabou de dizer, na coletiva, que “acho que não dá pra ele jogar!”

Finalmente:

Está claro porque Fred queria acertar o contrato com o Fluminense antes da Copa. E agora, quanto vale Fred?


Faltam três jogos. Dará tempo?
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José Cruz

Quando a Seleção Brasileira sofreu o primeiro gol da Suécia, na final da Copa de 1958, o técnico Vicente Feola estava dormindo, no banco. Um pouco de folclore, claro, mas ele cochilava, sim, contou Nilton Santos.

Didi foi ao fundo da rede, pegou a bola e, enquanto se dirigia ao meio do campo, deu uma bronca na turma. Essa imagem é fenomenal. Deu no que deu, show de Pelé e 5 x 2 para o Brasil.

Quatro anos depois, no Chile, Pelé ficou fora da Copa, logo no segundo jogo. Amarildo, um reserva escondido do Rei, entrou e fez a festa, num ataque que tinha Garrincha, Vavá e Zagalo.

E hoje, quem é o nosso Didi? Ou nosso Amarildo?

Ainda faltam três jogos para um dos craques de Felipão se revelar. Dará tempo?


Estacionamento padrão Fifa no estádio de atletismo
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José Cruz

Aproveito o recesso dos jogos da Copa das Copas para voltar a um assunto que demonstra bem o desleixo dos governantes para com o esporte, fora o futebol, claro, onde já temos um “padrão” invejável…

Esta foto de Daniel Vasconcellos mostra no que foi transformado o Estádio de Atletismo Célio de Barros, ao lado do Maracanã, no Rio de Janeiro. O espaço de competições – pista e campo – foi asfaltado e ali se criou o estacionamento para a “frota da Fifa” e autoridades da Copa.

celiodebarros

Desde janeiro de 2013, a ano e meio, portanto, cerca de 500 atletas, professores, treinadores, alunos dos projetos sociais foram desalojados do Célio de Barros. Estão treinando na rua … Senhores do esporte! asfaltaram uma pista de atletismo para fazer estacionamento de carros de luxo?

E isso ocorre na sede dos Jogos 2016, essa é a realidade da mais prestigiada e valorizada modalidade olímpica, o atletismo.

O técnico Nelsinho Rocha informou que há um “projeto” para revitalizar a área.

“Mas, ao que parece, privilegia aqueles que agiram e agem como coveiros do desporto estadual. Portanto, continuamos convivendo com a tragédia que se abateu sobre o desporto do Rio de Janeiro”, disse Nelsinho.

Memória

Nessa “tragédia” referida por Nelsinho incluo:

A demolição do Velódromo do Pan 2007;

O Estádio de Remo da Lagoa, privatizado, com limitação de uso para os atletas;

O estádio Engenhão, fechado em plena Copa do Mundo porque a cobertura estava desabando, cinco anos depois de construído…

A poluição da Baía de Guanabara, local das competições de vela dos Jogos Rio-2016;

A perda do credenciamento do Ladetec, laboratório que realizaria os exames antidoping;

A nomeação de um interventor do Comitê Olímpico Internacional para dar um “chute no traseiro” dos que atrasam as obras para os Jogos Rio 2016;

E por ai vai…

Mas, depois do sucesso da “Copa das Copas”, acredito que os governos, competentes e sérios, resolverão todos esses e outros problemas  em menos dois anos.


A “Copa das Copas” e a fidelidade política
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José Cruz

Quando o Congresso faz isso (recesso) só reforça a percepção da sociedade de que o Legislativo faz pouca diferença na vida do cidadão” (deputado Domingos Dutra)

 

Que me perdoem os contrários, mas esse casamento fiel entre esporte e política tem tudo a ver. A Copa do Mundo não é evento isolado a cada quatro anos, mas uma parceria política-empresarial, liderada pela poderosa Fifa. Futebol e capital agem assim, nos mostrou Andrew Jennings, o jornalista escocês que escancarou a corrupção na Fifa. Enquanto isso, os especialistas em marketing alertam: “Esporte provoca emoções e emoções vendem”.

Querem saber mais? Leiam este livro, “Brasil em Jogo”, uma coletânea de oportunos artigos sobre o que fica da Copa e das Olimpíadas. A publicação é uma aula de esportes & negócios, cravejada por outro tanto de corrupção no submundo do esporte.

Ao recebermos a “Copa das Copas” – sem dúvida com jogos, hinos, choros e prorrogações emocionantes – fica mais fácil entender como a máfia do esporte age, desde que João Havelange expandiu os poderes do jogo da bola mundo afora. Tudo cria o clima. Da peregrinação da Copa até a fan fest para acalmar os sem ingresso, com patrocínio de poderosas marcas.

A cerimônia se repete dois anos depois com o desfile da tocha olímpica, símbolo de emoções e também para “criar o clima”… Novamente os feriados se sucedem e, embalados por boa música, muita alegria e confraternização universal esquecemos o país real.

Essa é a realidade do casamento feliz. Neste ano, de agosto até as eleições, serão apenas quatro sessões de votação na Câmara dos Deputados. E a pauta das próximas semanas dependerá dos resultados da Seleção Brasileira. A política, atrelada ao futebol, define seus passos pelas jogadas e choros de nossos craques.

Quando o Congresso faz isso (recesso) só reforça a percepção da sociedade de que o Legislativo faz pouca diferença na vida do cidadão”, sintetizou o deputado Domingos Dutra, como publica o Correio Braziliense em sua edição de hoje.

Foi nesse contexto, por exemplo, que Brasília encerrou as convenções partidárias no domingo passado. Aproveitando o momento de extrema alegria provocada pelo futebol, as excelências apresentaram suas credenciais para a eleição de outubro.

José Roberto Arruda (PR) – candidato a governador do DF, foi condenado por improbidade administrativa na primeira instância, mas salvaguarda do Superior Tribunal de Justiça permite a candidatura. Arruda, envolvido no “escândalo do DEM”, foi o primeiro governador a ser preso, em fevereiro de 2010. Ele tem o apoio de Jaqueline Roriz, também flagrada recebendo dinheiro, no mesmo escândalo.

Na chapa de Arruda estará Gim Argelo, candidato á reeleição ao Senado. Recentemente, Gim foi vetado para uma cadeira no TCU, porque está envolvido em oito inquéritos na Justiça. A suplente de Gim Argelo é Weslian, mulher do ex-governador Joaquim Roriz, político que renunciou ao mandato de senador, em 2007, para escapar de cassação.

O principal apoio a essa chapa é do ex-senador Luiz Estevão, cassado e preso por duas vezes, acusado de participar do superfaturamento da obra do Tribunal Regional do Trabalho em São Paulo.

Outro candidato é o atual governador, Agnelo Queiroz. Ele comandou a construção do estádio Mané Garrincha, orçado em R$ 675 milhões, mas que custou R$ 1,9 bi, segundo o Tribunal de Contas do Distrito Federal.

Parcerias

Os estádios para a Copa foram construídos por decisões políticas e com recursos liberados também por influência política. Sobre isso, a ex-deputada Luciana Genro (PSOL), candidata a presidente da República, escreveu hoje, na Folha de S.Paulo:

“Não é casual que as mesmas empreiteiras que executam as obras superfaturadas da Copa sejam as financiadoras do PT, PMDB, PSDB e PSB”?

Entenderem o que significa o feliz casamento? A “Copa das Copas” também é isso.


COB obtém na Justiça silêncio às críticas ao seu presidente
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José Cruz

O advogado paulista, Alberto Murray Neto, faz, há bom tempo, publicações em seu blog criticando ações do governo, em geral, e do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), sobre gastos de verbas públicas, a falta de políticas para desenvolver atletas da iniciação, ausência da educação física nas escolas e por aí vai.

Porém, algumas críticas desagradaram o presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman, que foi à Justiça. E, em pleno estado democrático e de liberdade de expressão, o Brasil esportivo sofreu censura olímpica por medida judicial.

Mesmo diante de constatações do TCU, como as ocorridas no Pan 2007,  uma decisão da desembargadora Mônica Maria Costa, no Rio de Janeiro, punirá com multa de R$ 1.000,00, cada vez que Alberto Murray Neto fizer “comentário ofensivo” ao presidente do COB. Mas na mesma decisão não consta o que a excelência entende por “comentário ofensivo”. Jornalistas, advogados e contribuintes em geral contribuírem com denúncias e críticas para reforçar o controle dos gastos públicos é “ofensivo”?

Com o devido respeito, mas isso me remete à censura prévia. “Naquela época”, a imprensa se sentia intimidada pela força militar reinante e recuava. Agora, quando Alberto Murray saberá se sua crítica é “ofensiva” se não há definição sobre isso na decisão judicial?

A favor

Na mesma peça judicial, o desembargador Cezar Augusto Rodrigues Costa, não viu qualquer tipo de “agressão” do autor do blog ao presidente do COB, Carlos Nuzman. Mesmo isolado, seu voto foi exemplar:

O controle social, entendido como a participação do cidadão na gestão pública, visa, dentre outros aspectos, garantir que os recursos públicos sejam destinados a atender às suas finalidades, garantindo-lhe uma boa e correta destinação. E, nesta esteira, o blog se mostra como uma ferramenta eficaz, pois alcança grande número de pessoas de forma livre, transparente e gratuita, fornecendo mais uma forma de obtenção de informações e efetivação deste controle pelos cidadãos.”

Enquanto isso…

Em recente relatório de auditoria, o TCU reportou-se a despesas realizadas em 2007 e 2008, e quer saber do COB sobre o pagamento der R$ 593 mil com pizzas, para alimentar atletas numa competição, alugueis etc e tal. A despesa foi realizada com verba pública e, no período, o COB recebeu R$ 87 milhões das loterias federais.

O relatório mostra que o TCU está atento aos desmandos com verbas públicas. Mas, seis anos depois da despesa? Poderemos ter surpresas com as prestações de contas de 2009, 2010, 2011….? Isso sem falar nos exorbitantes R$ 4 bilhões dos Jogos Pan-Americanos de 2007, quando foram constatados vários deslizes do Ministério do Esporte.

Diante dessa realidade, fica muito claro que a fiscalização intensa, de todos e da imprensa, principalmente, é indispensável. Com críticas, inclusive. Essa recente decisão do TCU de pedir explicações ao COB, mesmo sete anos depois da despesa, demonstra como foi equivocada a decisão judicial acima, à qual cabe recurso. Ainda restam esperanças.