A omissão dos atletas fortalece a corrupção no esporte
José Cruz
Com dívida de R$ 5,4 milhões a Confederação de Basquete da Argentina está pelas tabelas, a ponto de os cartolas pedirem o boné e sumirem em disparada, pressionados por atletas.
Lá, jogadores se posicionam, mostram a cara e deixam bem claro: sem atleta não há competição, não há clube, não há cartola, televisão, patrocínios, nada! Portanto, senhores, tomem vergonha ou não se joga, o esporte vai à falência.
Utopia? Quem sabe! Mas, aqui, pela falta de liderança, o esporte olímpico patina na mesmice, os cartolas se perpetuam como ditadores insubstituíveis, agora com “salários públicos”; fazem ameaças e silenciam o principal ator, o atleta.
Essa prática que foge ao princípio democrático, é fortalecida pela omissão do Ministério do Esporte. A própria Confederação de Basquete serve de exemplo. Na atual gestão, os deslizes financeiros são frequentes. No entanto, o Ministério se curva e sai em socorro do mau gestor, apoia o incompetente e ali coloca mais dinheiro público. Que tal?
E isso ocorre em outras confederações, como a de Tênis – ainda sob investigação da polícia e Ministério Público paulistas – Taekwondo etc. E como age o nosso atleta? Silencia! Vergonhosamente se omite!
Cartolas fazem gato e sapato nas finanças porque ninguém os incomoda. E o Judiciário, lerdo, contribui para que o ciclo se feche, ao contrário dos argentinos, onde os atletas gritam e dão um “basta”!
Cartolas no Brasil administram o que não lhes pertence, o dinheiro público, quer da estatal patrocinadora, da Lei de Incentivo, do próprio orçamento do Ministério do Esporte, enfim. E quem fiscaliza isso? O próprio ministério não tem em seus quadros meia dúzia de bons agentes de análise de prestação de contas para varreduras em milhares de processos. Logo, o convite para a “festa” é permanente.
Vejam o exemplo da “poderosa” Confederação Brasileira de Vôlei. Por 40 anos teve apenas dois presidentes! Carlos Nuzman e Ary Graça. Está certo que tornaram a modalidade vitoriosa, mas sem espaço para novos gestores, para que os critérios ficassem sempre escondidos.
Hoje, estão aí as denúncias de corrupção, porque a perpetuação nos cargos vicia os cartolas, os torna relaxados e desinteressados na gestão de verbas, principalmente se não devem explicações a ninguém.
Quais atletas do vôlei irão à sede da CBV exigir transparência aos resultados da auditoria ali realizada? Esse documento será engavetado ou irá ao Ministério Público? Teremos aqui o exemplo que vem da Argentina ou continuaremos com vergonhosa omissão, e os atletas se tornando cúmplices da ilegalidade?