Blog do José Cruz

A festa saiu pela culatra

José Cruz

A Copa no Brasil era projeto político-esportivo de Lula para ganhar prestígio internacional e apoiar Ricardo Teixeira à presidência da Fifa

Quando entregar a Taça Fifa ao campeão do mundo, no domingo a presidente Dilma encerrará o ciclo de um projeto do PT para o futebol que começou em abril de 2003. Esse projeto previa um “final feliz”, com a conquista do título, numa Copa que já se projetava para o nosso país.

Quatro meses depois de ter assumido a presidência da República, em 2003, o então presidente Lula da Silva determinou que o ministro do Esporte, Agnelo Queiroz, reabrisse o diálogo com Ricardo Teixeira, que presidia a CBF.

Com a podridão revelada pelas CPIs do Futebol e da CBF Nike, em 2001, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso havia fechado as portas do governo à CBF. Mais tarde, no Rio, Agnelo e o ainda prestigiado João Havelange acertaram o aperto de mãos entre Lula e Ricardo Teixeira.

Ex-torcedor de arquibancada e peladeiro convicto, Lula via no esporte, no futebol e na Seleção Brasileira potenciais recursos para fortalecer as ações de governo. E começou criando o Ministério do Esporte, mas que teve condução política e se revelou corrupto, como em outras pastas. Depois, editou o Estatuto do Torcedor, documento hoje ineficiente.

Em 2005, Lula criou a tão esperada Bolsa Atleta e, em seguida, a Lei de Incentivo ao Esporte, que disponibiliza em torno de R$ 300 milhões anuais no setor. As estatais – Banco do Brasil, Caixa, Petrobras, Inferaero, Correios, Eletrobras – aumentaram seus patrocínios para o vôlei, natação, atletismo, etc. Mais recentemente, até uma “Secretaria do Futebol” passou a integrar a estrutura do Ministério do Esporte.

Nesse contexto, a aproximação entre Lula e Ricardo Teixeira evoluiu para uma estratégia maior. Usando a Seleção Brasileira para promover “jogos da paz”, como ocorreu no Haiti, em 2004, e a imagem do nosso futebol no exterior, Lula ganharia prestígio internacional. E Ricardo Teixeira, por sua vez, teria o apoio político indispensável e de peso para se candidatar à presidência da Fifa.

Apoio

A ação palaciana foi desencadeada e teve valiosa sustentação: o projeto “Pintando a Liberdade” distribuía material esportivo a países pobres, nas visitas presidenciais. Bolas, redes, bolsas, agasalhos, etc eram produzidos por presidiários, projeto que evoluiu para o “Pintando a Cidadania”, pois presos não votam. Logo…

Paralelamente, o governo conquistou eventos esportivos: Pan-Americano de 2007, Copa das Confederações, Jogos Mundiais Militares, Jogos Estudantis Mundiais, Copa do Mundo, Olimpíada, Paraolimpíada e Universíade. Foi nesse período que escândalos internacionais também se sucederam, a ponto de varrer João Havelange e Ricardo Teixeira do mapa dos gestores do esporte. E a própria Fifa, de “modelos invejáveis” é citada com frequência no noticiário policial internacional, como ocorre no Brasil.

Já o Brasil esportivo não se preparou à altura para todas as festas. Faltaram políticas reais, e ainda hoje o Ministério do Esporte e o Comitê Olímpico Brasileiro batem cabeça na aplicação de verbas milionárias, numa disputa que demonstra falta de comando central. Para culminar, até a tão prestigiada e valorizada Seleção Brasileira fracassou na sua tentativa de conquistar o título no segundo Mundial realizado no Brasil, escancarando que a CBF de José Maria Marin é a extensão da farsa que foi Ricardo Teixeira.

É nesse circuito histórico, esportivo e partidário que caberá a presidente Dilma entregar a taça ao campeão do mundo, mas sem que o seu partido possa festejar o ciclo vitorioso do esporte, como havia sido projetado por Lula da Silva.