A “Copa das Copas” e a fidelidade política
José Cruz
Quando o Congresso faz isso (recesso) só reforça a percepção da sociedade de que o Legislativo faz pouca diferença na vida do cidadão” (deputado Domingos Dutra)
Que me perdoem os contrários, mas esse casamento fiel entre esporte e política tem tudo a ver. A Copa do Mundo não é evento isolado a cada quatro anos, mas uma parceria política-empresarial, liderada pela poderosa Fifa. Futebol e capital agem assim, nos mostrou Andrew Jennings, o jornalista escocês que escancarou a corrupção na Fifa. Enquanto isso, os especialistas em marketing alertam: “Esporte provoca emoções e emoções vendem”.
Querem saber mais? Leiam este livro, “Brasil em Jogo”, uma coletânea de oportunos artigos sobre o que fica da Copa e das Olimpíadas. A publicação é uma aula de esportes & negócios, cravejada por outro tanto de corrupção no submundo do esporte.
Ao recebermos a “Copa das Copas” – sem dúvida com jogos, hinos, choros e prorrogações emocionantes – fica mais fácil entender como a máfia do esporte age, desde que João Havelange expandiu os poderes do jogo da bola mundo afora. Tudo cria o clima. Da peregrinação da Copa até a fan fest para acalmar os sem ingresso, com patrocínio de poderosas marcas.
A cerimônia se repete dois anos depois com o desfile da tocha olímpica, símbolo de emoções e também para “criar o clima”… Novamente os feriados se sucedem e, embalados por boa música, muita alegria e confraternização universal esquecemos o país real.
Essa é a realidade do casamento feliz. Neste ano, de agosto até as eleições, serão apenas quatro sessões de votação na Câmara dos Deputados. E a pauta das próximas semanas dependerá dos resultados da Seleção Brasileira. A política, atrelada ao futebol, define seus passos pelas jogadas e choros de nossos craques.
“Quando o Congresso faz isso (recesso) só reforça a percepção da sociedade de que o Legislativo faz pouca diferença na vida do cidadão”, sintetizou o deputado Domingos Dutra, como publica o Correio Braziliense em sua edição de hoje.
Foi nesse contexto, por exemplo, que Brasília encerrou as convenções partidárias no domingo passado. Aproveitando o momento de extrema alegria provocada pelo futebol, as excelências apresentaram suas credenciais para a eleição de outubro.
José Roberto Arruda (PR) – candidato a governador do DF, foi condenado por improbidade administrativa na primeira instância, mas salvaguarda do Superior Tribunal de Justiça permite a candidatura. Arruda, envolvido no “escândalo do DEM”, foi o primeiro governador a ser preso, em fevereiro de 2010. Ele tem o apoio de Jaqueline Roriz, também flagrada recebendo dinheiro, no mesmo escândalo.
Na chapa de Arruda estará Gim Argelo, candidato á reeleição ao Senado. Recentemente, Gim foi vetado para uma cadeira no TCU, porque está envolvido em oito inquéritos na Justiça. A suplente de Gim Argelo é Weslian, mulher do ex-governador Joaquim Roriz, político que renunciou ao mandato de senador, em 2007, para escapar de cassação.
O principal apoio a essa chapa é do ex-senador Luiz Estevão, cassado e preso por duas vezes, acusado de participar do superfaturamento da obra do Tribunal Regional do Trabalho em São Paulo.
Outro candidato é o atual governador, Agnelo Queiroz. Ele comandou a construção do estádio Mané Garrincha, orçado em R$ 675 milhões, mas que custou R$ 1,9 bi, segundo o Tribunal de Contas do Distrito Federal.
Parcerias
Os estádios para a Copa foram construídos por decisões políticas e com recursos liberados também por influência política. Sobre isso, a ex-deputada Luciana Genro (PSOL), candidata a presidente da República, escreveu hoje, na Folha de S.Paulo:
“Não é casual que as mesmas empreiteiras que executam as obras superfaturadas da Copa sejam as financiadoras do PT, PMDB, PSDB e PSB”?
Entenderem o que significa o feliz casamento? A “Copa das Copas” também é isso.