Criador da Camisa Canarinho vibra com vitória da Celeste
José Cruz
“Foi um sofrimento do começo ao fim. Depois do empate da Inglaterra, eu não esperava mais a vitória. Só conseguimos porque tem esse jogador extraordinário, Luis Suárez. Que loucura esse cara. Ele operou o joelho há um mês e hoje faz esse jogo? Não tirou o pé nunca! Bah!”
Aldyr Garcia Schlee, criador da camisa Canarinho (1953) e torcedor da Celeste, sobre a vitória do Uruguai contra a Inglaterra – 2 x 1
Entrevista
Estive em Montevidéu três vezes. Belas visitas e, pelas boas lembranças, torci pela Celeste, contra a Inglaterra. Que vitória! Mas, principalmente, para homenagear o amigo e companheiro jornalista, Aldyr Garcia Schlee, criador da camisa Canarinho, verde-amarela, em 1953, ardoroso torcedor da Seleção Uruguaia.
Os desenhos que Schlee criou, até chegar à arte final da camisa da Seleção Brasileira, ilustram a capa do excelente livro “Futebol, o Brasil em Campo”, do inglês Alex Bellos.
“As camisas amarelas de Aldyr tiveram tanto sucesso que são, possivelmente, o mais reconhecível uniforme esportivo do mundo. É difícil imaginar o futebol brasileiro sem elas”, escreveu Bellos em seu livro.
E o que achas do atual modelo do uniforme da Seleção Brasileira?
– Uma coisa horrível. Recuperaram o velho “pijaminha”, como aquela golinha horrorosa. Desmoralizaram a camisa Canarinho, – disse Schlee.
Torcedor do Brasil de Pelotas, Schlee, um exímio jogador de futebol de mesa, veste a camisa Celeste. Ele nasceu na cidade de Jaguarão (RS), fronteira com o Uruguai, onde também se criou, quando guri. Daí surgiu essa identidade de torcedor pela Seleção Uruguaia.
Jornalista, escritor premiado, tradutor, professor universitário, Schlee, 79 anos, acompanhou o jogo desta quinta-feira contra a Inglaterra como todos os outros das demais Copas, desde 1950: “Com um caderninho, fazendo anotações”, disse ele.
Apaixonado por futebol e bom de debates sobre esquemas táticos, esse “caderninho” é histórico. “Anoto tudo: escalação dos times, substituições, árbitros, bandeirinhas, técnicos, gols, local do evento, esquemas táticos, enfim”, disse Schlee.
E a vitória sobre a Inglaterra?
– Foi um grande jogo., mas um sofrimento do começo ao fim. Depois do empate da Inglaterra, eu não esperava mais a vitória. Só conseguimos porque tem esse jogador extraordinário, Luis Suárez. Ele ganhou o jogo, sem dúvida! Que loucura esse cara. Ele operou o joelho há um mês e hoje faz esse jogo. Não tirou o pé nunca! Bah!
E agora? Qual a expectativa? O fantasma de 1950 …
– Não sei, não sei. Agora não sei mais nada. Vamos para o próximo – encerrou Schlee, lá no interior do Rio Grande, numa rápida conversa por telefone.