Legado olímpico, a estratégia dos espertos
José Cruz
Por Alberto Murray Neto
Especialista e estudioso dos assuntos olímpicos, Lamartine da Costa informa que já são sete as cidades que rejeitaram receber os próximos Jogos Olímpicos. E apresentou, também, um oportuno estudo sobre legados desse megaevento esportivo.
De fato, a história de que Jogos Olímpicos deixam legado é um grande engodo, que agora está sendo descoberta pelo povo e aonde a vontade popular, nos países democráticos, é respeitada.
Após o fracasso financeiro dos Jogos de Montreal, em 1976, que até pouco tempo atrás a Cidade ainda pagava o déficit, só mesmo uma ditadura como a da URSS para assumir o evento em 1980. Para 1984 não havia nenhuma cidade disposta a sediar o evento.
Nessa situação, o COI (Comitê Olímpico Internacional) teve que flexibilizar o amadorismo, privatizar os Jogos e o departamento de marketing inventou a palavrinha mágica ''legado olímpico'', para insistir que valeria a pena candidatar-se a sediar a competição.
Foi nessa ocasião que também começou a compra de votos no COI, quando os tais patrocinadores privados entraram de sola. Até então, nunca se tinha ouvido falar na palavra ''legado''. Isso foi criado pela agência de marketing contratada pelo COI para revolucionar a imagem dos Jogos. E a estratégia foi tão correta que as discussões sobre ''legado'' tomam tempo valioso.
É ingenuidade achar que Jogos Olímpicos deixam legado. O que deixa legado são políticas públicas consistentes e de longo prazo. E sediar Jogos Olímpicos pode vir ao final de um processo de evolução. Nenhuma cidade muda porque sedia Jogos Olímpicos.
Costumo ouvir bobagens como ''Barcelona mudou por causa dos Jogos Olímpicos''. Besteira! Com, ou sem, Olimpíada a Espanha redemocratizada vinha passando por transformações positivas concretas, e Barcelona, Madrid etc já vinham mostrando expressivas melhorias.
Após anos de ditadura franquista, a Espanha vinha sendo remodelada e o plano diretor da Cidade de Barcelona já contemplava profundas alterações neste sentido. Os Jogos Olímpicos apenas fizeram parte de um projeto de Nação muito maior.
Como digo e escrevo frequentemente, o Rio sairá dessa “aventura olímpica” pior do que entrou. Esse projeto Rio 2016 não passa de uma intenção de um grupo de espertos de promover, a partir das obras indispensáveis, uma grande especulação imobiliária. Não é demais lembrar que sete anos depois dos Jogos Pan-Americanos não conhecemos o balanço financeiro oficial dos órgãos de fiscalização.
Basta ver o pedigree de quem está envolvido com isso para se ter a certeza de que será, junto com a Copa do Mundo de futebol, de um dos maiores escândalos financeiros da República.
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