Ao “padrão Fifa” ainda falta o embalo brasileiro
José Cruz
De passagem rápida por Florianópolis e Porto Alegre e, agora, no interior do Rio Grande do Sul, observo uma realidade igual a de Brasília: desmotivação com o futebol, mesmo a seis dias da abertura da badalada e polêmica Copa do Mundo. Nada de verde-amarelo, apenas algumas vitrines com decorações, mesmo assim inexpressivas, calçadas sem as clássicas pinturas de artistas populares, nada! Converso com os motoristas de táxi e eles também não transmitem entusiasmo com a “festa” que vem por aí. Com a Seleção de Felipão até que as expectativas são boas. Mesmo assim, a euforia do torcedor é limitada.
Em cinco edições fomos às ruas festejar a conquista de títulos mundiais em terras estrangeiras. Agora, jogos em casa, o desânimo se abateu. Coincidentemente, a falta de motivação cresceu na medida em que as obras dos estádios avançavam e a imprensa testemunhava que a corrupção e o superfaturamento eram reais. Mais: que há “padrões” específicos para a qualidade do futebol bilionário, mas, internamente, ainda somos frágeis em planejamento, principalmente para os atendimentos básicos e indispensáveis do povão.
Jogo de íntima paixão nacional, tão bem descrito pelos estilos insuperáveis de João Saldanha e Nelson Rodrigues, o futebol “padrão Fifa” elitizou-se e deixou de lado o torcedor de arquibancada. Quem sabe esse é um dos motivos de tanta frieza e desmotivação. Temos estádios arquitetonicamente lindos. O do Internacional, às margens do Rio Guaíba, é um show. Iluminado, à noite, coloca a Arena do arquirrival Grêmio no chinelo.
Mesmo antes do primeiro jogo da Copa do Mundo, já se pode garantir que um dos principais legados desse evento, de R$ 8 bilhões de faturamento pela Fifa, é a conscientização do torcedor em geral. O governo em todos os níveis se mobilizou para atender exigências que, antes, eram só do contribuinte. Agora, sabe-se que pela pressão e alguns “chutes no traseiro” o Planalto Central reage e, mesmo lenta e precariamente, vai cumprindo acordos para dar padrão internacional ao jogo da bola.
E não há mais como esconder que o futebol provoca emoções e emoções vendem, muito. E nesse jogo de interesses comerciais e de faturamentos bilionários há falcatruas e roubos, como as confirmadas por Joana Havelange que conviveu intimamente com os bastidores da organização.
“O que tinha que ser roubado já foi”, compartilhou Joana, herdeira do DNA da família João Havelange e Ricardo Teixeira. Não há como ter dúvidas de tanta credibilidade. É a confirmação oficial da farsa financeira da Copa. E isso, com certeza, também ajudou a tirar o entusiasmo que ainda restava do torcedor iludido.