Blog do José Cruz

Mané Garrincha: quem pagará a conta?

José Cruz

O governo do Distrito Federal deverá enviar à Câmara Legislativa – onde controla a maioria dos deputados – projeto de lei criando uma empresa estatal para administrar as principais áreas esportivas da cidade. A informação foi passada por um político da base aliada, confirmada por burocrata do Palácio do Buriti, sede do governo. O assunto está sento tratado pelo gerente da Copa em Brasília, Cláudio Monteiro.  A assessoria de imprensa do governo nada respondeu sobre as perguntas encaminhadas a respeito.

Além do Mané Garrincha, construído ao custo de R$ 1,9 bilhão, segundo o Tribunal de Contas do DF, os estádios Nilson Nelson, para vôlei e basquete e capacidade para 25 mil pessoas, o ginásio “Cláudio Coutinho”, para 10 mil torcedores, uma piscina olímpica e um autódromo integram o parque esportivo na capital da República, inaugurado nos anos 1970, mas com precária conservação e algumas áreas em fase de deterioração.

A possibilidade de criar um novo órgão estatal para administrar estádios ocorre um ano depois de o próprio GDF ter administrado o Mané Garrincha, cujos dados oficiais de ocupação são suspeitos. A assessoria do governo também não forneceu os borderôs dos eventos ali realizados nem as guias de recolhimentos de alugueis, solicitadas há três meses, para que se realize, de forma transparente, um balanço real da nova arena esportiva. Afinal, quem ganhou quanto nesses aluguéis? Quem contratou e quanto custaram os serviços de segurança nesse um ano, já que não foram realizadas licitações para tanto? Como foram feitas as concessões para os serviços de bares? quem são os beneficiados e quanto estão pagando pelo aluguel? Afinal, quem vai pagar a conta da Copa em Brasília?

Interesse

No final do ano passado, o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, afirmou que uma equipe de advogados trabalhava no texto de licitação para terceirizar o estádio Mané Garrincha, pois três empresas estrangeiras estavam interessadas na gestão do local. Essa seria a forma de o governo se ressarcir dos R$ 1,9 bilhão gastos na construção do estádio. O dinheiro saiu da venda de terrenos públicos e R$ 300 milhões do orçamento do Distrito Federal, em 2013 e 2014. Mas, até agora, o edital de licitação não foi publicado.

Fórmula Indy

Copa do Mundo à parte, o governo do Distrito Federal anuncia reformas no autódromo Nelson Piquet para receber uma prova de Fórmula Indy, em 2015. Uma equipe de funcionários viajou a Indianápolis (EUA) para conhecer o circuito oval e promover as adaptações no autódromo de Brasília. Até agora não foi divulgado o contrato com a empresa promotora da Indy para se conhecer que outros compromissos assumidos para receber o gigantesco empreendimento.

Enquanto isso …

No domingo, foi encerrado o Campeonato Brasiliense de futebol e, ironicamente, o campeão é um time do interior de Goiás, o Luziânia, o que confirma a fragilidade do esporte na capital da República. A decisão foi contra o Brasília.

Um ano depois de sua reabertura, o estádio Mané Garrincha, a propaganda oficial informa que foram realizados 41 eventos, sendo 30 jogos de futebol, totalizando público de 807 mil pessoas. Há controvérsias na fidelidade desses números. No primeiro jogo entre Brasília e Luziânia, cerca de cinco mil pessoas foram ao Mané Garrincha. No entanto, uma semana depois do jogo, o borderô liberado pela Federação Brasiliense de Futebol anunciava público de inacreditáveis 53 mil pessoas.

A proposta de manter a administração do novo estádio no GDF ocorre no momento em que o Mané Garrincha deixa de ser “a casa do Flamengo”, como anuncia a propaganda oficial. Flamengo x Figueirense, em 29 de maio, por exemplo, será no Morumbi e não em Brasília onde é numerosa a torcida rubro-negra. Porém, o elevado custo dos ingressos tem afugentado o público do estádio da capital da República.

 Candidato e herança

O governador Agnelo Queiroz é candidato do PT à reeleição, mas as pesquisas mostram alto índice de rejeição ao nome dele, o que poderá frustrar sua campanha para um novo período à frente do governo, ficando para o futuro mandatário uma pesada herança de débito esportivo.

Reportagem

A reportagem que ontem assinei com o companheiro Aiuri Rebello, do UOL Esporte, sobre o desleixo no estádio Mané Garrincha e atraso na conclusão da urbanização da área externa, é o reflexo das demais instalações esportivas em Brasília, onde se observa relaxamento na conservação de quadras e ginásios, conforme as fotos publicadas. Tudo no mesmo complexo onde está o estádio Mané Garrincha, de R$ 1,9 bilhão.