Dilma quer ajudar a mudar o futebol. Agora vai…
José Cruz
Em jantar com jornalistas esportivos, na quinta-feira, a presidente Dilma Rousseff disse que “esta é a hora de o governo ajudar a mudar o futebol brasileiro”, como revela o companheiro Paulo Vinicius Coelho, em seu blog. Mas, o que significa “ajudar a mudar”?
Essa manifestação ocorreu no momento em que três livros chegam ao mercado escancarando a corrupção no futebol. E todos envolvendo, também, a fina flor da cartolagem brasileira.
Até agora, o “best seller” dessas publicações de denúncias era o livro do escocês Andrew Jennings, “Jogo Sujo – O mundo secreto da Fifa. Não satisfeito, Jennings mergulhou em novas investigações e escreveu “Um jogo cada vez mais sujo''.
Em 2001, o inglês David Yallop já havia revelado sobre os subterrânos da Fifa em “Como eles roubaram o jogo”, um livro que mostra como o esporte foi descaracterizado, a partir da eleição de João Havelange para a Fifa.
Literatura à parte, a Câmara dos Deputados votará projeto de lei que trata do “fortalecimento do futebol”, aí incluído a renegociação do calote fiscal de R$ 4 bilhões dos clubes de futebol.
Na discussão desse projeto foi explícita a interferência da CBF e assessoria do Ministério do Esporte, a ponto de o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, determinar a retirada do texto de todos os artigos que envolviam a Confederação Brasileira de Futebol. Foi vergonhosa a forma como deputados e governo se dobraram obedientemente ao poder de José Maria Marin. Será essa a “ajuda” que a presidente Dilma se refere?
Já em 2006, relatório de um grupo de estudos da ONU identificou que o futebol profissional tornou-se “a maior lavanderia a céu aberto do mundo”, escondendo negociatas de jogadores, evasão de divisas, sonegação fiscal, tráfico de menores, de drogas, de armas e por aí vai.
Portanto, qualquer discussão sobre “ajudar” o futebol brasileiro precisa ter o apoio da Polícia Federal na investigação dos gestores em geral. Lembram o fim dos dois maiores expoentes que negociaram a Copa do Mundo para o Brasil, João Havelange e Ricardo Teixeira? Por que desapareceram, aparentemente, do circuito futebolístico?
Mas, como dizem os especialistas em marketing, “o futebol provoca emoções e emoções vendem”. Quem sabe, embalada por essa máxima e na expectativa dos resultados da Seleção Brasileira, que poderão influenciar na campanha pela reeleição, a presidente Dilma faça a promessa para “ajudar a ajudar o futebol”.
Desinformada – ou, quem sabe, informada pelo ministro Aldo Rebelo – Dilma vai na contramão da economia do esporte de alto rendimento e contradiz, inclusive, pareceres dos ministérios da Fazenda e do Planejamento sobre o projeto de lei em questão, que beneficia o futebol.
É uma péssima notícia, principalmente porque o governo quer oferecer isenções, benefícios e privilégios a um negócio que se revela altamente suspeito na sua gestão, mas está, cada vez mais, intimamente vinculado aos movimentos políticos. Não é estranho? não, não é. Faz sentido, sim.