Copa e omissão: os conflitos voltaram
José Cruz
Voltaram os protestos e invasões públicas. Agora, em outras frentes dos excluídos da Copa, a ponto de sensibilizar a presidente Dilma ao “diálogo”….
E excluídos não são apenas os sem ingresso para os jogos, que renderão R$ 8 bilhões à poderosa Fifa. Mas os sem casa, os sem trabalho, os sem água, os sem energia elétrica, os sem justiça, que aumenta o número dos sem esperança. Isso é real.
Esqueçam o cansativo debate sobre recursos para saúde, educação, segurança, transportes, mobilidade…, comparativamente aos gastos públicos para a Copa. Como dissemos, no orçamento federal há dinheiro para tudo e, com certeza, não seriam R$ 28 bilhões gastos na preparação do Mundial que influenciariam nos projetos gerais do governo. Até porque boa parte desse dinheiro é de financiamento e outro tanto desaparece em propinas.
Mas o que falta – e isso também já se disse – é decisão política para dar rumo e executar o orçamento, enquanto sobram benefícios de governo com retorno social duvidoso e suspeitos acordos partidários de ocasião.
Mais: alguém poderia imaginar que nessa mixórdia de políticos um deputado do próprio partido do governo, André Vargas, seria flagrado em trambiques bilionários, usando o cargo de vice-presidente da Câmara dos Deputados? Isso também é real, e agrava a fragilidade da instituição, tão agressiva e perigosa quanto os movimentos de rua.
A Copa festiva que Lula idealizou não é a que Dilma está executando e odiando, porque o resultado desse megaevento, no campo e fora dele, influenciará na campanha da reeleição.
Nessa mistura de futebol e protestos, o Brasil perdeu a Copa ao não ter um comando central interministerial confiável e respeitável, que soubesse planejar, principalmente, como tirar dividendos de evento tão rico de oportunidades. Tivemos um ministro só, Aldo Rebelo, “especialista” em esportes, dando explicações sobre engenharia de estádios de futebol e mobilidade em aeroportos! Só isso sintetiza a seriedade como a Copa no Brasil foi tratada.
Essa omissão política, ignorando o conflito social real, e as disputas partidárias no Planalto Central foram decisivas para que chegássemos a um mês da Copa em clima de terror urbano e fragilidade das instituições, contrastando com a festa pública que o governo esperava ter, mas não planejou.