Blog do José Cruz

15 de Maio: abertura oficial da Copa das Manifestações

José Cruz

Rodolfo Mohr

Jornalista

Exatamente 11 meses atrás, o Estádio Nacional Mané Garrincha, em Brasília, sediava a abertura da Copa das Confederações. Um dia antes, 14 de maio, o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) fechou o Eixo Monumental, via de acesso ao Mané, na luta por moradia. No dia do jogo, no embalo das passeatas pela redução das tarifas de ônibus que sacudiam o país, realizamos uma passeata, antes do jogo Brasil x Japão.

Hoje, 15 de maio, vivemos ainda sob a situação política gerada em junho de 2013. Daqueles dias que o gigante acordou, conquistou a redução das tarifas de ônibus e protestou contra os abusos cometidos na organização da Copa.

A Copa do Mundo no Brasil produziu um efeito contrário do planejado. Em 2007, foi pensada pelo governo para ser a cereja do bolo, o triunfo ufanista, ao organizar os dois maiores megaeventos esportivos, o Mundial de Futebol e a Olimpíada. O que vemos é um desânimo popular sem precedentes.

Eu tinha 7 anos em 1994. Lembro de cada detalhe. Do Tetra. Da festa. Das aulas que terminavam mais cedo para vermos a Seleção. Nessa época, eu morava em Porto Alegre, agora resido em Brasília. Aqui, há concursos das quadras mais enfeitadas para Copa. Hoje, 15 de maio, além de quase nenhuma decoração nas ruas e casas (somente a oficialista em prédios do governo federal e distrital), há um desconforto no comércio, que já prevê menos vendas que a previsão para o período.

Evidente que, com mais ou menos entusiasmo, o Brasil irá se pintar de verde e amarelo. Contudo, o povo não se restringirá a acompanhar apenas as emoções do Mundial de futebol. O megaevento comercial, essa mina de ouro que a FIFA consegue saquear de cada país que sedia os jogos, não desce na garganta dos brasileiros.

Talvez aí resida o maior legado social da Copa do Mundo FIFA no Brasil: a consciência de que o povo tem o direito de lutar contra as injustiças e por seus direitos. E não faltam injustiças cometidas em nome da Copa: nove operários mortos nas obras das Arenas, 14 cidadãos mortos em decorrência da violência policial nos protestos, milhares de pessoas desalojadas de suas casas, superfaturamento dos estádios, etc.

Como dito nas jornadas de junho, não fomos às ruas somente por 20 centavos. Estamos de novo na rua. Outra vez. O MTST, o Juntos, os Comitês Populares da Copa, tantos outros movimentos, milhares de brasileiros.

Hoje, nos protestos do 15M, declaramos oficialmente aberta a Copa das Manifestações.

Rodolfo Mohr é jornalista e atua no Movimento Juntos

 rodolfo@juntos.org.br