Um chute olímpico no traseiro
José Cruz
Depois da Fifa, são os olímpicos que dão um chute no traseiro dos brasileiros.
O presidente do Comitê Olímpico Internacional, Thomas Bach, nomeou um interventor para tentar recuperar o atraso nas obras para os Jogos Rio 2016.
Elegantemente, como requer o protocolo olímpico, Bach mandou o recado. Algo como, “vão trabalhar, vagabundos!”
A medida extrema, que expõe o Brasil a mais um vexame internacional, reflete a estupidez de o governo ter se aventurado na candidatura de eventos tão gigantescos como Copa do Mundo e Jogos Olímpicos. Claro que somos capazes desses desafios. E deles poderíamos tirar lições e legados valiosos. Mas estamos lidando, antes de tudo, com políticos e empreiteiros, parceiros de históricos episódios de corrupção, cujo caminho da malandragem para ganhar muito já conhecemos.
O atraso nas obras é uma dessas estratégias mais manjadas. O Pan 2007 é o triste exemplo neste sentido. É a lamentável “obra-prima” do desmando da gestão pública-esportiva, fartamente documentado pelos auditores do Tribunal de Contas da União. Mas, tais testemunhos, foram solenemente ignorados pelo ex-ministro Marcos Vilaça, autor do relatório final, que fechou os olhos à corrupção escancarada, isentando os envolvidos. Estava assinado o convite para a festa sem controle dos próximos megaeventos.
Quando o presidente do Comitê Olímpico Internacional diz que “faremos o possível para que os Jogos sejam bem-sucedidos” é porque a situação está feia.
O que espanta é o silêncio do Ministério do Esporte e, pior, a omissão do Conselho Nacional do Esporte diante dessa realidade. Assim como a falta de planejamento para o Pan, não se sabe qual o grande projeto para a pós-Olimpíada. O que fazer com as estruturas? Como foram aproveitadas as instalações dos Jogos Rio 2007? Como a comunidade usou aqueles espaços? Como a juventude – escolar, principalmente – se beneficiou de projetos esportivos de longo prazo? Qual o envolvimento das escolas na proposta dos Jogo? e das Universidades? Temos isso? Não temos nem agência antidoping credenciada!!!
Há poucos meses, Brasília recebeu os Jogos Escolares Mundiais. E daí? Quantas escolas e quantos estudantes da cidade se envolveram no evento? Que lições ficaram para construir uma capital esportiva? Nada!
A preocupação é com o concreto, com o edifício, com o ginásio, com a instalação física, com a compra de equipamentos. Mas nada se sabe, até porque nada se tem, de construção efetiva para aproveitar os talentos humanos para a prática de diferentes modalidades. Nesse caso, de irresponsabilidade e omissão dos governos, nosso atraso é bem maior que as obras olímpicas.