Governo aplica R$ 3,9 milhões em diagnóstico do esporte
José Cruz
Ao custo de R$ 3,9 milhões, o Ministério do Esporte encomendou uma pesquisa nacional para ''consolidar uma política de Estado'' para o setor. O trabalho tem recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e a primeira versão será apresentada entre agosto e dezembro deste ano.
Sob a coordenação da Universidade Federal da Bahia, outras cinco universidades participam da investigação, que abrange infraestrutura do esporte, legislação, financiamentos públicos federal, estadual e municipal, recursos humanos e contribuições científicas disponíveis para o setor.
O professor Ailton Oliveira, da Universidade Federal de Sergipe é o coordenador executivo da pesquisa, com autoridade de ser um mestre e doutor em diagnósticos esportivos.
Qual o objetivo específico desse projeto?
Ailton Oliveira – Esse projeto, de abrangência nacional, realizará um diagnóstico do Esporte, o “Diesporte”. Visa conhecer o grau de desenvolvimento do sistema esportivo brasileiro, a fim de oferecer uma metodologia de avaliação permanente e uma cultura de estatísticas básicas para o setor, buscando a universalização das práticas esportivas, a democratização do acesso à prática esportiva, elevação do padrão esportivo dos brasileiros e melhores resultados em competições. ]
O que a pesquisa indicará, especificamente?
Ailton – Através desse trabalho vamos conhecer o grau de desenvolvimento dos elementos do sistema esportivo: o Sujeito que pratica esporte ou não (qualitativamente e quantitativamente); o financiamento existente para o setor; a legislação esportiva anteriores e atual no âmbito federal, estadual e municipal; a Infraestrutura esportiva existente e a gestão.
Quais as instituições estão envolvidas no trabalho?
Ailton – A pesquisa está sendo realizada em rede por universidades públicas federais. A da Bahia faz a coordenação geral. As coexecutoras são as universidades federais de Sergipe (coordenadora executivo), do Rio de Janeiro (coordenação do sudeste), do Rio Grande do Sul (coordenação do Sul), de Goiás (coordenação do Centro-Oeste) e Universidade Federal do Amazonas (coordenação do Norte). O comitê gestor tem representantes do Ministério do Esporte, CNPq, IBGE e do Colégio Brasileiro da Ciência do Esporte (CBCE).
Em quanto tempo o trabalho será realizado e quando sairá a primeira versão?
Ailton – As primeiras reuniões preparatórias do pré-projeto foram em 2010. O projeto foi aprovado pela FINEP em 2011 e prazo para encerrar em 2014. A partir de agosto sairá a primeira versão.
Em que esse projeto difere do Atlas do Esporte, lançado em 2005, sob a coordenação do Professor Lamartine Pereira da Costa, também a pedido do Ministério do Esporte?
Ailton – A visão do Atlas foi de buscar uma fotografia do que existia de esporte no Brasil, não houve uma metodologia que pudesse ser aplicada no tempo e no espaço e percebêssemos o movimento. Analisando a tradição de estudos que objetivaram conhecer as práticas, os praticantes, a infraestrutura esportiva e o desenvolvimento esportivo no Brasil, em particular, nesses últimos 40 anos, verifica-se que foram realizados sete importantes estudos em escala nacional:
a) Diagnóstico da educação física e desporto no Brasil (DACOSTA, 1971), primeira análise abrangente sobre o esporte feito no Brasil;
b) Inventário da infraestrutura desportiva brasileira, realizado em 2.602 municípios (IBGE, 2000);
c) Atlas do Esporte do Brasil (DACOSTA, 2005);
d) Perfil dos municípios brasileiros (IBGE, 2006a);
e) Pesquisa do Esporte 2003 (IBGE, 2006b);
f) Dossiê Esporte – um estudo sobre o esporte na vida do brasileiro (IPSOS MARPLAN, 2006);
g) Análise Técnica de Estatística do Esporte: perfil dos brasileiros ao praticarem lazer (KASZNAR, 2010).
Esses estudos revelam fotografias, de olhar de um determinando momento, ainda assim, fragmentados e superficiais, sem fazer nexos e relações entre elementos que integram o sistema esportivo (praticante, infraestrutura, financiamento, legislação); apresentam abordagem teórica-metodologica diversificada, que não permite avaliações no tempo e espaço. O que mais aprofunda e tenta fazer essa relação foi o Diagnóstico de 1971, de autoria do professor Lamartine da Costa. O Diesporte traz a experiências adquiridas com esses estudos e mais as experiências europeias como:
a) Compass European Network – Coordinated Monitoring of Participation in Sports (COMPASS), quando em 1996 vários países da Europa, iniciando com a Itália e a Inglaterra, depois envolvendo a Finlândia, Irlanda, Países Baixos, Espanha, Suécia e o Reino Unido, realizaram um projeto que visava monitorar a participação nos esportes de maneira coordenada entre esses países;
b) Participation in Exercise, Recreation and Sport Survey 2009 (ERASS), este estudo teve início em 2001, sendo desenvolvido pela comissão de esportes Australiana, em conjunto com agências governamentais estaduais e territoriais, responsáveis pelo desporto e recreação;
c) Sport and Physical Activity (SPECIAL EUROBAROMETER 334), este estudo foi realizado em 2009, envolvendo 27 países da comunidade europeia e foi encomendado pela Direção-Geral da Educação e Cultura (DG EAC) da Comissão Europeia. Nesses estudos europeu observa-se o avanço da unidade metodológica que permite acompanha o movimento no decorrer do tempo e espaço.
Assim, o Diesporte adota uma nova perspectiva diagnóstica que não produz fotografia estanque, mais um filme, que pode ser analisado, seu desenvolvimento no tempo e no espaço em que as políticas esportivas são aplicadas. Com relações as variáveis pesquisadas, a ideia é que nesse primeiro momento serão analisados e captados os elementos básicos que permitam estatísticas básicas sobre os praticantes, a infraestrutura, o financiamento e a legislação. Assim, escolas públicas e privadas, clubes serão captados a partir do sujeito praticante ou não do esporte, bem como da infraestrutura esportiva.
Como o Ministério do Esporte aplicará os resultados desse diagnóstico?
Ailton – O Diesporte não tem como objetivo só apresentar as informações captadas, ele tem como objetivo estabelecer uma política de estatísticas básicas para o setor e um sistema de avaliação permanente das políticas públicas de esporte. Assim, os resultados dirão o grau de desenvolvimento atual que estamos, apontará os entraves para universalização das práticas e oferecerá uma metodologia que pode ser aplicada a cada período, podendo o ministério do Esporte realizar avaliação das mudanças acorridas ou não a partir das políticas aplicadas, além de servir como ponto de comparação com as políticas esportivas na Europa, pois o Diesporte segue uma lógica metodológica internacional. Os resultados e os encaminhamentos serão de grande valor ao Ministério do Esporte, bem como as secretarias estaduais de Esporte, porque oferecerá o que temos, como temos e permite avaliar as mudanças que ocorrerão. Ofereceremos indicadores de desenvolvimentos para cada elemento investigado, assim, o Ministério poderá acompanhar essas modificações.
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