Fifa: a ditadura que persiste
José Cruz
“Ainda hoje, o mundo está dominado por uma série de regimes totalitários. E nem todos são militares. Vejam a Fifa, se não fosse uma ditadura, os jogadores não seriam tratados como coisas, mas como pessoas de respeito”
Em Brasília, para a 2ª Bienal do Livro e da Literatura, o escritor uruguaio Eduardo Galeano falou sobre “Futebol e Ditadura na América Latina”, um dos temas que ele domina há anos.
Uma amiga apaixonada por esporte e literatura me chamou atenção para a crônica “O fim da partida”, de Eduardo Galeano, em seu livro “Futebol ao sol e à sombra”. Um dos parágrafos sintetiza o fascínio, o poder e a poesia que o autor analisa no jogo da bola:
…
Uma jornalista perguntou à teóloga alemã Dorothee Sölle:
– Como a senhora explicaria a um menino o que é a felicidade?
– Não explicaria – respondeu. – Daria uma bola para que jogasse.
“O futebol profissional – continua Galeano – faz todo o possível para castrar essa energia de felicidade, mas ela sobrevive apesar de todos os pesares. … Por mais que os tecnocratas o programem até o mínimo detalhe, por muito que os poderosos o manipulem, o futebol continua querendo ser a arte do imprevisto. Onde menos se espera salta o impossível, o anão dá uma lição ao gigante, e o negro mirrado e cambaio faz de bobo o atleta esculpido na Grécia”.
Nas manifestações do autor uruguaio fica claro que o futebol é uma paixão poética sem igual, mas, sob o domínio de poderosos, tornou-se negócio valorizado onde imperam a corrupção e a influência política. Tal como na preparação da Copa no Brasil, e a eterna ditadura dos cartolas, em todos os campos do esporte, que agem à vontade, sem oposição.
“Futebol ao sol e á sombra”, boa leitura para entender o que tudo isso significa.