Deputados querem novo “fundo” para “salvar” o esporte…
José Cruz
O projeto de lei para resolver a dívida fiscal de R$ 4 bilhões do futebol (aqui e aqui) é mais um remendo na já esfarrapada legislação esportiva brasileira. Prevê, inacreditavelmente, a criação de um “Fundo Nacional para a Iniciação Esportiva”. Ou seja, mais dinheiro público nas mãos de espertos gestores.
As excelências, que hoje vão discutir a frágil proposta do deputado Otávio Leite (PSDB/RJ), desconhecem quantos milhões de reais o esporte recebe de verbas públicas anualmente, nas mãos de dezenas de gestores, a maioria irresponsável, entre eles o próprio Ministério do Esporte.
Só no último ciclo olímpico (2008 a 2012) o governo injetou R$ 6 bilhões de reais no esporte de alto rendimento.
Detalhe:
30% desse dinheiro vai para “administração”, aí incluído o salário da cartolagem esperta, cujo valor do que recebem é “segredo”….
Mais:
As excelências querem criar um Fundo de Iniciação do Esporte, quando o Comitê Olímpico Brasileiro, que realiza os Jogos Escolares, tem um “fundo olímpico” para emergências. Mas não se questiona sobre isso.
Mais de R$ 130 milhões para “iniciação esportiva” estão há dois anos parados na Confederação Brasileira de Clubes, devido à burocracia imposta pelo próprio Estado.
Milhões de reais de dinheiro público se perdem em comprovada corrupção no esporte, cujo carro-chefe foi o Pan 2007. Esqueceram? Instalações esportivas foram destruídas e o principal estádio, o Engenhão, está em reformas em plena Copa do Mundo… Passamos pelo vexame de perder o credenciamento para a realização de exames antidoping, mas somos um país olímpico!
Não adianta dinheiro e mais dinheiro. Não temos estrutura nas escolas nem fora delas, não tempos professores qualificados para essa empreitada. Iniciação esportiva não se faz apenas com recursos financeiros, pois o recurso humano também é fundamental. Temos isso?
Mas tudo passa ao largo da Comissão Especial da Dívida Fiscal, conhecida por Proforte, que prefere discutir sobre a criação de mais um fundo que, quem sabe, será fundo de campanha eleitoral. E a criação de mais uma “loteria exclusiva” – sem que se discuta sobre o quanto o esporte já é beneficiado pela Caixa Econômica.
Pior:
O projeto substitutivo de Otavio Leite prevê que os recursos da nova loteria terão, também, verbas do Imposto de Renda, através de deduções, como já ocorre com a Lei de Incentivo ao Esporte. E que resultados efetivos a lei de Incentivo ofereceu em sete anos de desmandos e projetos suspeitos de corrupção?
E o governo, que precisa de dinheiro diante da evidente falência de seu caixa, sabe que as excelências querem reduzir mais a arrecadação da Receita Federal a pretexto de ''incentivar a iniciação esportiva''?
O projeto substitutivo em questão falha, ainda, em não indicar quem será o gestor dessa ''nova grana''. prefeitos? governadores? cartolas? E é assim que se resolva o gravíssimo problema da falta de uma política de esportes, injetando-se mais dinheiro, sem destino garantindo e, por isso, solto no já viciado rumo da corrupção pública.
Por tudo isso, é oportuna a entrevista do professor Lamartine Pereira da Costa ao “Esporte Essencial”. Trata-se de um especialista em gestão do esporte, que um dia criou com sua equipe os hoje falidos Jogos Escolares Brasileiros.
E que cada um tire as conclusões do buraco onde o esporte está metido.