Blog do José Cruz

A influência da CBF na Comissão do Proforte

José Cruz

É explícita a influência da CBF na Comissão Especial da Câmara dos Deputados que debate sobre a dívida fiscal de R$ 4 bilhões dos clubes de futebol, o Proforte. Mas o trabalho não é articulado, e predominam os interesses dos deputados na defesa dos clubes de suas regiões.

O destaque é o deputado federal Vicente Cândido, vice-presidente da Federação Paulista de Futebol, íntimo Marco Polo Del Nero, que brevemente assumirá a CBF. Mais “em casa”, impossível. O deputado, que é vice-presidente da Comissão Especial do Proforte, é assessorado pelo lobista da CBF em Brasília, Vandenberg Machado.

Vicente Cândido é o mentor intelectual do projeto de lei do Proforte. Ele sugeria trocar 90% da dívida por serviços que seriam prestados pelos clubes. Uma anistia disfarçada. Mas o relator do projeto, Otavio Leite, do PSDB do Rio de Janeiro, não aceitou essa proposta, e Cândido quer, agora, que 50% da dívida de cada clube vá para um Fundo que deverá ser criado para ''formação de atletas''.

Ocorre que esses ''atletas'' serão garimpados das escolas públicas e clubes sociais onde Cândido quer aplicar o dinheiro. Ou seja, além de o Estado não recuperar o calote da dívida fiscal ainda vai financiar a formação de jogadores para empresários e cartolas ganharem muito dinheiro. É o Estado investindo na iniciativa privada de negócios altamente suspeitos, como lavagem de dinheiro, inclusive.

Já o presidente da Comissão Especial do Proforte, deputado Jovair Arantes, é vice-presidente do Clube Atlético Goianense. No mesmo plenário estava o amigo de Jovair, deputado Valdivino de Oliveira, presidente do Atlético-GO, que se afastou da Comissão.

Prejuízos

Na sessão de quarta-feira, Jovair narrou como seu clube é prejudicado na transação de jogadores, e sugeriu a mudança na legislação (Lei Pelé, n.9615/91), reformulada em 2011 e aprovada pelo próprio Jovair.

Em outra manifestação de evidente interesse clubístico-eleitoral, o deputado Guilherme Campos (PSD/SP), ex-vice-presidente da Ponte Preta, fez uma estranha sugestão para pagar a dívida dos clubes. ''Vinte por cento do valor de patrocínio da Caixa aos clubes seriam destinados ao abatimento da dívida fiscal dos clubes''.

Como a Caixa é uma instituição federal, isso significa que o próprio governo pagaria a dívida que não é sua. Ou, em vez de o governo ser ressarcido do calote, ele usaria parte da verba de patrocínio de uma de suas empresas para pagar dívida alheia. Fenomenal!

Finalmente: 

A  Comissão Especial está sem o primeiro vice-presidente, Asdubral Bentes, ex-presidente do Paysandu, de Belém. Há duas semanas Asdubral recebeu ordem de prisão e renunciou ao mandato parlamentar.