Blog do José Cruz

Auditoria chega ao vôlei com 17 anos de atraso

José Cruz

 “Em relação às denúncias envolvendo a Confederação Brasileira de Vôlei, o Banco do Brasil esclarece que não irá compactuar com qualquer prática ilegal, ou que seja prejudicial ao esporte, eventualmente cometida pelas entidades com quem mantém contratos de patrocínio.”

A nota acima, distribuída ontem, é de praxe, normal em qualquer crise de parcerias com denúncias de irregularidades.  Da mesma forma que a CBV anunciou “auditoria independente”. Bobagem! “Auditoria independente” é conversa para boi dormir, não vai constatar nada contra aquele que está pagando o trabalho.

As denúncias que avançam sobre a gestão do ex-presidente Ary Graça já eram reveladas no distante 1997, quando o técnico Bebeto de Freitas afirmou que “só a CBV ganha com o vôlei”, no tempo em que Carlos Arthur Nuzman presidia a Confederação. A entrevista, publicada em O Globo, em 23 de janeiro de 1997, foi assinada por Renato Maurício Prado.

Contribuição

As revelações de Bebeto, recuperadas por Juca Kfouri, são contribuições valiosas aos auditores da Controladoria Geral da União (CGU) que analisarão os contratos da CBV com órgãos públicos, entre eles o Banco do Brasil, parceiro do vôlei desde 1991. Confira:

Gestão:

“Os dirigentes da CBV nunca se interessaram levar para os clubes a estrutura profissional que tem lá. Aqui tudo é para a CBV e umas migalhas para os clubes.”

Contratos:

“Todos os contratos (de parcerias) são feitos por uma agência que trabalha para a CBV (SportMidia). E ela cobra um percentual absurdo por isso (especula-se em torno de 40%). Do que sobra, a CBV fica com a maior parte e as migalhas são divididas entre os clubes. No ano passado (1996), teve clube que recebeu R$ 13 mil, R$ 20 mil por uma temporada. No ano anterior (1995), teve clube que não recebeu nada! E a CBV está cada vez mais rica.”

(Qualquer semelhança da CBV com a CBF não é mera coincidência. É a mesma escola de gestão do esporte, em que o Estado é o doador, mas sem ser o fiscalizador, como deveria.)

Imagem

É verdade que a CBV não paga direito de arena aos jogadores, pelos jogos que transmite pela TV?indagou Renato Maurício Prado.

''Não paga. E aí, de quem reclamar? E, no entanto, é lei: 20% do que for paga pelos direito de transmissão tem que ser repassado aos atletas. Quem entrar na Justiça ganha mole. O problema é que os atletas tem medo. O Nuzman não teve coragem de dizer na TV que, como advogado, desaconselhava os jogadores assinarem carteira como profissionais?''

Portanto, a preocupação do Banco do Brasil e a auditoria da CGU chegam à CBV com quase duas décadas de atraso. Nesse tempo, rolou a festa.

As seleções estão sempre em alta, prestigiadas, vitoriosas. O próprio Banco do Brasil ganhou com o fortalecimento de imagem, numa estratégia de marketing espetacular. Já as agremiações e competições internas …