Blog do José Cruz

O futebol em tempos de fogos de artifício

José Cruz

Logo no segundo dia da reabertura do Congresso Nacional, na quarta-feira, reuniram-se os deputados da Comissão Especial que debate sobre o projeto de lei do Profote, envolvendo dívida fiscal dos clubes de futebol.

A turma está com pressa para votar o projeto que, em resumo, anistia 90% do calote de R$ 4 bilhões, segundo o Ministério do Esporte, como já escrevi neste espaço.

Surpreende que os deputados não tenham qualquer receio – nem falo em “pudor” –  de tratar desse assunto, uma semana depois de se saber que o rombo na Previdência social saltou de R$ 42 bilhões, em 2012, para R$ 50 bilhões em 2013. E aí está embutida a divida promovida pela cartolagem, ao longo dos anos.

Na quarta-feira, o deputado Jovair Arantes, do Atlético Goianense, teve a coragem de criticar a imprensa que cobre esse assunto, como se ele e tantos outros deputados tivessem isenção nesse tema, pois legislam em causa própria. Abuso de poder ou falta de ética?

Essa é a questão: além da esdrúxula proposta de perdão de dívida fiscal, quem está discutindo, defendendo e votando o projeto de lei são cartolas, donos de clubes, ou representantes disfarçados dessas instituições suspeitas em suas contas!

Novidade

A novidade nessa Comissão foi o pedido do deputado Romário: afinal, qual é o valor total da dívida? Porque, até agora, não se tem esse valor. O Ministério do Esporte já disse que é em torno de R$ 4 bilhões. Certo é que o passivo com a Receita e INSS bate em R$ 2,8 bilhões. Falta o FGTS.

Finalmente

Torcedores apaixonados não gostam de ler críticas contra seus clubes, mesmo quando o prejuízo está prestes a bater em seus bolsos. Sempre foi assim, e ontem voltei a ser apedrejado quando escrevi sobre a confusa obra no estádio do Atlético do Paraná.

O pau quebrou no debate, mas enquanto muitos preferem criticar a imprensa a enxergar a realidade dos cartolas, a festa evolui por conta do dinheiro público, do contribuinte, por extensão.

Mais uma vez, obrigado aos companheiros da Editoria de Esportes do jornal Gazeta do Povo pelas informações atualizadas. Estamos juntos nessa empreitada para denunciar mais um abuso da cartolagem esperta.

Em frente. Mas desviando, também, dos fogos de artifício… enquanto torço pela recuperação do companheiro Santiago Andrade, cinegrafista atingido por um rojão, em manifestação no Rio de Janeiro. O abuso é dos poderosos, mas o alvo é a imprensa.