Vôlei ensaia crise, apesar de muita verba pública
José Cruz
A transferência de Bruninho do RJX para o Modena, da Itália, não é um fato isolado no contexto do vôlei brasileiro, mas ponta de uma crise na modalidade que teve de Eike Batista promessas de investimentos de R$ 13 milhões na equipe RJX. Hoje, o conceituado senhor não consegue honrar o pagamento dos atletas. Com até três meses de salários atrasados os craques voam para outras praças.
A reportagem de Luiz Paulo Montes no UOL Esporte conta sobre isso em detalhes.
Verbas
A realidade é que temos nessa modalidade uma escola mundialmente vitoriosa, mas com fragilidade clubística interna. Os investimentos são de empresas, que usam a visibilidade do vôlei para exibir suas marcas, mas sem projetos consistentes de longo prazo e, principalmente sem investimentos na base.
Mesmo assim, a modalidade tem resultados expressivos há anos, com 14 pódios internacionais em 2012, em quadra e na praia. As campanhas são custeadas por recursos do governo federal. O próprio Centro de Treinamento de Saquarema, foi reconstruído com R$ 3,5 milhões do Ministério do Esporte, quando Carlos Melles ainda era ministro.
Em 2012 a CBV recebeu R$ 16,5 milhões do governo federal para implantar projetos esportivos, aí incluídas as atividades das seleções oficiais. Nesse valor estão R$ 3,8 milhões da Lei Piva.
Outros R$ 24,3 milhões vieram de “patrocínios”. Será esse o valor que o Banco do Brasil repassa à CBV para ser o patrocinador exclusivo? O banco não informa, mas é isso que consta no balanço de 2012 da Confederação. Além disso, a CBV recebe R$ 5,2 milhões de direitos de transmissão.
Mais:
Em 2013 foram aprovados cinco convênios, no montante de R$ 25.685.574, com o Ministério do Esporte, para custear o treinamento e participações das seleções brasileiras de vôlei de quadra e praia em eventos nacionais e internacionais, assim como, a realização de campeonatos brasileiros de seleções estaduais.
Enfim, repete-se no vôlei o que já temos no futebol: confederações ricas, mas com federações fragilizadas financeiramente e clubes desmotivados a investir, provocando limitadas participações de empresas sem tradição no esporte.
E ficam questões suspeitas. Por exemplo, quanto custa a transferência de atletas do Brasil para clubes estrangeiros? Quem recebe esses valores dos negócios com jogadores profissionais. São operações realizadas no câmbio oficial? Tenho relato de atletas e ex-atletas sobre este assunto que colocam tais transações sobre suspeitas, mas estou investigando sobre isso para informar corretamente.
Estamos diante de um fato real: o dinheiro do Estado financiando uma atividade profissional com negócios valiosos mas sem a participação ou fiscalização do governo, via Ministério do Esporte. Isso é comum em todas as modalidades e até confederações que passaram calote, como a de Basquete, é ''salva'' pelo dinheiro oficial.
Desabafo
É nesse panorama que o campeão olímpico (2004) Gustavo, hoje defendendo o Canoas, desabafou, na rede social:
“Enquanto não tivermos uma preocupação maior por parte da nossa entidade, a CBV (Confederação Brasileira de Vôlei), em prol dos investidores, a situação tende a piorar. Estamos implorando por uma liberdade em prol da divulgação e visibilidade de nossas marcas. O atual regulamento não permite várias formas de divulgação de nossas marcas, inclusive, nos foi tirado todas essas formas de visibilidade e o resultado se vê. Equipes com problemas financeiros, reduções de contratos, falta de investimento, etc…
De que adianta termos uma quadra ''limpa'' se daqui a pouco não teremos equipes pra participar da Superliga? Até quando os próprios clubes aceitarão? Será que não temos a capacidade e união de formarmos algo realmente interessante para nós?”
Colaborou: Lívia Mendonça