Fifa admite fraudes no mercado da bola
José Cruz
A partir da obscura venda de Neymar para o Barcelona, comentei na semana passada sobre a lavagem de dinheiro no futebol.
Polícia Federal, Interpol, Banco Central, Ministério da Justiça, o governo brasileiro, enfim, sabem sobre isso. Todos têm acesso a relatórios atualizados revelando que boa parte desses negócios suspeitos passa ao largo do fisco, sem reação oficial para conter o jogo dos espertos.
Oficial
Agora, é a Fifa que admite o drible suspeito nas transações, a voltinha no fisco:
“Cerca de R$ 4,8 bilhões por ano jamais aparece nas contas oficiais dos clubes, nos contratos dos jogadores nem nos revelados ao s fiscos dos países.” Quem conta essa história é o repórter Jamil Chade, no jornal O Estado de S.Paulo. Essa informação confirma o relatório do Banco Central sobre o assunto, aqui comentado há uma semana.
Mais
''… 40% de todo movimento de dinheiro nas transferências de jogadores de futebol jamais são declarados, transformando o mercado mundial de craques num dos maiores canais de fluxo ilegal de dinheiro do mundo” … “Apenas em 2011, a Fifa registrou mais de 5 mil vendas e compras de jogadores, com uma movimentação de US$ 2,3 bilhões. Mas isso, segundo a Fifa, seria apenas parte da história e quatro de cada dez dólares negociados nunca aparecem nas contas oficiais”, escreveu Jamil Chade.
Contexto global
É nesse contexto que o futebol profissional e a Copa do Mundo, por extensão, precisam ser entendidos. Torcedores vibram com as jogadas dos craques, com os gols espetaculares, envolve-se com a discussão sobre a arbitragem, o gol anulado, o impedimento que não existiu etc. Enquanto isso, os negócios milionários e suspeitos correm soltos. As vendas de Neymar e outros craques e a confusão sobre a queda da Portuguesa etc confirmam a tese.
O relatório do doutor em economia, Mauro Salvo, do Banco Central, mostra que esse mercado da bola se desenvolve no submundo da economia dos países com clubes famosos ou não.
Diz Mauro Salvo:
“As técnicas utilizadas para lavagem de dinheiro variam desde o básico até técnicas complexas, incluindo a utilização de dinheiro em espécie, transferências transfronteiriças, paraísos fiscais, empresas de fachada, profissionais não-financeiros e PEP´s, que são pessoas expostas politicamente.”
No Brasil
Esse último elemento é facilmente identificado no Brasil. Por exemplo, a Comissão Especial da Câmara dos Deputados, que analisa o projeto de lei para anistiar R$ 4 bilhões de dívida fiscal dos clubes, o ''Proforte'', é formada por bom número de deputados-cartolas. São as tais “pessoas expostas politicamente”, que utilizam a influência e imunidade de parlamentares em benefício de seus clubes sonegadores de impostos.
O deputado Jovair Arantes, que é o vice-presidente do Atlético Clube Goianense, preside a Comissão Especial. Já o presidente desse clube, deputado Valdivino de Oliveira, também integra a Comissão Especial do Proforte, com voz influente. O autor de fato do projeto de lei do Proforte é o deputado Vicente Cândido, vice-presidente da Federação Paulista de Futebol. E por aí vai. Tudo com o apoio e consultoria escancaradas de assessores da CBF.
Enfim, é apenas mais um capítulo para entender a força e o apelo do futebol e os trambiques daí decorrentes. Este assunto continuará na pauta do blog, pois a Comissão Especial do Proforte voltará a se reunir já em fevereiro.