Deputados armam perdão ao calote de R$ 4 bilhões
José Cruz
Coincidentemente, enquanto o torcedor brasileiro se emociona com o sorteio das chaves da Copa do Mundo, sexta-feira, na Câmara dos Deputados uma comissão especial começa a discutir sobre as dívida de R$ 4 bilhões dos clubes de futebol para com o INSS e o Imposto de Renda. O momento para desviar a atenção sobre o calote histórico é oportuníssimo.
A Comissão Especial que trata desse assunto, presidida pelo deputado Jovair Arantes (PTB/GO), começa hoje uma série de mais de 20 audiências públicas, que vão invadir o primeiro semestre de 2014. O assunto está no Projeto de Lei 6.753/13, denominado de “Proforte”, apresentado porque as finanças dos clubes é “desesperadora e debilitada”, como disse Jovair.
Mas, afinal, qual o valor da dívida? Nem os próprios deputados sabem. O governo trata do assunto em “sigilo” e não revela valores. Portanto, o debate será com informações fictícias. Certo é que, nos dois refinanciamentos já realizados nos últimos anos para tentar resolver o calote não foram honrados. Agora vem o Proforte, espécie de perdão da dívida, um projeto escandaloso e ofensivo ao contribuinte comum, como já comentei.
Pior:
Além da dívida fiscal, há outra, também de valores desconhecidos, para com o FGTS. Este assunto não estava na ordem do dia dos debates, até que o deputado Romário (PSB/RJ), questionou a Mesa da Comissão sobre o assunto. Alvoroço geral, e o calote no Fundo de Garantia pelos cartolas espertos também entrará na ordem do dia das discussões.
Extremos
Os debates sobre a fragilidade financeira do nosso futebol começam na Comissão Especial, enquanto a Fifa projeta lucro de R$ 4 bilhões na Copa 2014, graças, também às isenções fiscais concedidas pelo governo federal. A miséria, a fartura e a irresponsabilidade pública convivem harmoniosamente sob aplausos dos cartolas e incentivo dos torcedores.
A gestão do futebol é frágil de propósito. Quanto pior o controle das contas melhor para armar falcatruas, promover evasão de divisas, sonegação fiscal etc, que se perpetuam na história do esporte.
Foi essa desordem que propiciou esse roubo escandaloso de R$ 4 bilhões ao longo dos anos – a maior parte da dívida devido aos juros e correções.
Recentemente, numa declaração espantosa, o ex-presidente do Vasco, Eurico Miranda, também ex-deputado federal, declarou que os valores descontados dos jogadores não eram repassados ao INSS e Receita. Foi o atestado claro de apropriação indébita de quem também participou do esquema. Agora, com o apoio do Ministério do Esporte, Câmara e Senado se unem para inocentar o ladrão de ontem – muitos até já fora do futebol –, com prejuízo para o credor e desmoralização do contribuinte que honra seus compromissos para com o fisco.
As audiências públicas que a Comissão Especial promoverá é conversa tola. O esquema está armado e o perdão virá.