Obrigado pelo convite, deputado, mas não vou
José Cruz
O deputado Romário foi gentil ao me convidar para a audiência pública de amanhã, na Comissão Especial que discute sobre o projeto de lei 6.753/2013, tratando, prioritariamente, da renegociação da dívida dos clubes de futebol junto ao fisco, o chamado Proforte.
Fico honrado, mas não vou comparecer, e já fiz o comunicado oficial. O que penso sobre essa dívida de R$ 4 bilhões (INSS, Imposto de Renda e FGTS) expresso neste blog há quatro anos. Além disso, os problemas do esporte em geral são infinitamente maiores que esse calote dos clubes, mas as excelências estão ignorando o terrível drama que vivemos, a três anos e pouco dos Jogos Rio 2016.
Mais: o debate sobre o Proforte está dominado por deputados intimamente ligados ao futebol e, por isso, legalizando em causa própria. Que isenção têm esses senhores para, representando seus clubes ou colegas cartolas, analisarem uma proposta que prevê perdão de dívida – embora não gostem de usar essa expressão?
A presidência da Comissão Especial está com o deputado Jovair Arantes, que é o vice-presidente do Atlético Clube Goianense. Já o presidente desse clube, deputado Valdivino de Oliveira, também integra a Comissão Especial do Proforte. O autor de fato do projeto de lei para driblar o fisco é o deputado Vicente Cândido, vice-presidente da Federação Paulista de Futebol. E por aí vai.
Por isso, se aceitasse tal convite de Romário eu estaria homologando um ato que considero imoral e altamente suspeito, pois está contaminado por pessoas que têm interesse nos resultados dessa discussão. Além disso, está claro que o acerto para o “perdão” dessa dívida – disfarçado por prestação de serviços pelos clubes – já está muito bem articulado com o poder Executivo, via Ministério do Esporte. O governo tem interesse em abrir mão dessa grana e pronto.
O esporte de alto rendimento no Brasil, fartamente subsidiado por verbas públicas, vive uma desordem institucional enorme com corrupção já comprovada. As federações esportivas de todas as modalidades, importantíssimas no sistema, estão falidas, mas os deputados nem sabem o que é isso e preferem debater sobre perdão ao calote de cartolas. Não temos um plano integrado de esporte; falta educação física para os estudantes; não temos, enfim, modelo algum para desenvolver nosso esporte de alto rendimento. Nada!
Como disse o companheiro Paulinho em seu blog, o Ministério do Esporte não consegue pagar a Bolsa Atleta de 2012 !!! – mas a Câmara dos Deputados discute sobre anistia fiscal a reconhecidos caloteiros. Tudo isso com o surpreendente apoio do próprio ministro Aldo Rebelo, que deveria ser o primeiro a cobrar os devedores, preservando o princípio da lei, criada para ser igual para todos, mas não é, como se vê.