Jogos Universitários Brasileiros: falência anunciada?
José Cruz
Sem a força política e a grife do COB, aumentaram as dúvidas e inquietações sobre o futuro dos JUBs. Situação recorrente é a superioridade das instituições particulares de ensino. Poucas universidades federais e estaduais se fazem representar. A impressão é que não há prática esportiva no ensino público
Por Mário Medaglia
Fiquei dois anos sem participar como jornalista dos Jogos Universitários Brasileiros. Voltei agora, em Goiânia, para trabalhar na cobertura das equipes da Fundação Catarinense do Desporto Universitário, e fiquei preocupado com o que constatei nos onze dias em que estive ao lado da delegação do meu estado.
A partir de 2011, em Campinas, acabou a parceria entre a CBDU (Confederação Brasileira do Desporto Universitário) e o COB (Comitê Olímpico Brasileiro). O acordo era renovado a cada ciclo olímpico, e a partir de 2012 a CBDU optou por retomar a organização dos JUBs.
Segundo a CBDU, o COB não repassa o valor correspondente a 5% da Lei Piva (em torno de R$ 8 milhões, em 2012), destinados ao desporto universitário. Mas paga as despesas dos Jogos mediante prestação de contas.
A primeira consequência foi a diminuição de recursos e da visibilidade do evento, com o fim da cobertura da Globo e da Sportv. O centro de imprensa, montado em uma sala diminuta, sem equipamentos e coordenado por jornalistas inexperientes, não ofereceu condições de trabalho para os profissionais e para atendimento da grande demanda na busca por informações atualizadas. O site da CBDU esteve sempre atrasado, inconcebível com os recursos hoje disponibilizados
Felizmente para os atletas – muitos de seleções brasileiras -, não houve grandes transtornos no desenvolvimento da maioria das dez modalidades, a não ser para a natação, com a etapa final disputada simultaneamente com uma competição local, o handebol e o basquete masculino, programados para locais inadequados.
O complexo esportivo do Sesi supriu bem as necessidades da natação, judô, futsal e voleibol, basquete 3×3 e o vôlei de praia. O atletismo contou com uma pista sintética na PUC.
Os conflitos e obstáculos estão na concepção dos Jogos. A maioria das federações universitárias sobrevive de doações e patrocínios escassos. Sem a força política e a grife do COB, aumentaram as dúvidas e inquietações sobre o futuro dos JUBs.
Situação recorrente é a superioridade das instituições particulares de ensino. Poucas universidades federais e estaduais se fazem representar. A impressão é que não há prática esportiva no ensino público.
Também é danosa e limitadora para as equipes, a concorrência com competições estaduais e de ligas, e a má vontade de alguns dirigentes de federações. A prioridade é determinada por eles, por eventuais patrocinadores ou pelas próprias universidades, que sustentam com bolsas parciais ou integrais atletas de diversas modalidades.
Na sua próxima realização de avaliação a CBDU terá que encarar essa realidade se quiser evitar o esvaziamento gradual do seu maior evento.
Mário Medaglia é jornalista esportivo em Florianópolis