Com dinheiro, boxe evolui, mas estrutura do esporte ainda é frágil
José Cruz
O presidente da Confederação Brasileira de Boxe, Mauro José da Silva, fez um apelo para que a Câmara dos Deputados analise a situação caótica das federações esportivas. “Não sei como conseguem sobreviver”, disse ele, revelando que é no trabalho das federações – sediadas nas capitais – que se revelam novos talentos.
A realidade das federações de boxe (uma em cada estado) é a mesma de todas outras modalidades, esportivas, olímpicas ou não: totalmente abandonadas, desprezadas na estrutura do esporte.
Com o passar dos anos, COB, confederações e clubes foram atendidos por legislações verbas públicas sempre atualizadas, mas em nenhum ato do governo as federações foram incluídas para que, bem estruturadas, se integrassem efetivamente ao sistema esportivo. Muitas estão falidas, outras foram fechadas e boa parte precisou trocar de nome para fugir da responsabilidade do trambique dos bingos. Há federações que hoje devem mais de R$ 1 milhão ao fisco!
Ausências
O apelo de Mauro José da Silva foi durante audiência pública na CTD (Comissão de Turismo e Desporto) da Câmara dos Deputados.
Porém, a mensagem não encontrou um só deputado em plenário, afora dois que estavam na mesa, o presidente da Comissão, Valadares Filho, e o ex-lutador Acelino Popó. Não é novidade, pois o desinteresse da maioria dos parlamentares por assuntos fora do futebol é comum na CTD.
Previsão
O boxe está cotado para conquistar pódio nos Jogos Rio 2016. Faz sentido a aposta: depois das medalhas de prata e dois bronze nos Jogos de Londres, neste ano o Brasil esteve no pódio de todos os 14 torneios internacionais que disputou.
“Foram torneios importantes, para os quais mandamos a primeira equipe. Para os torneios menores quem viaja é o segundo time, que está sendo preparado para os Jogos de 2020”, explicou Mauro José da Silva.
Mais: entre 2010 e 2013, só o Comitê Olímpico investiu R$ 10 milhões na modalidade, recursos da Lei Piva, segundo Jorge Bichara, gerente geral de Performance Esportiva do COB.
Além disso, a Confederação de Boxe tem o patrocínio da Petrobras, recurso que tem o Instituto Passe de Mágica como gestor. Mas os investimentos são em projetos distintos.
“A gerência de Planejamento do COB analisa os projetos que serão contemplados com recursos da Lei Piva e identifica a origem de outros recursos públicos naquela confederação”, explicou Bichara. “Dessa forma, não há duplicação de recursos num mesmo projeto”.
O boxe, enfim, segue a estratégia do judô, colocando seus melhores lutadores em importantes eventos internacionais, onde enfrentam alguns de seus possíveis adversários olímpicos. Conhecem seus estilos e melhor armam suas estratégias nas competições mais valorizadas.
As audiências públicas deste ano, na Comissão de Turismo e Desporto, têm sido riquíssimas em informações. Mas, lamentavelmente, sem a presença das excelências que, partir dos depoimentos, poderiam sugerir as mudanças de rumo necessárias nos assuntos que já foram apresentados.