Sem sofrimento não há resultados
José Cruz
Por Wilson Teixeira
A legislação brasileira é farta, próspera. Na verdade, excessiva. Há diplomas legais para todo gosto. Que se cruzam, chocam-se, atropelam-se. E infernizam a vida do cidadão. Até mesmo do que teve a má ideia, em péssima hora, de inventá-lo.
O esporte, no Brasil, conta com diplomas vários. A fúria legiferante das autoridades eventualmente de plantão legou posturas inúmeras. Mas esqueceu-se de tornar obrigatória a prática do esporte na escola. E sem esporte na escola é impossível, a qualquer país, dispor de atletas de alto nível.
Um importante segmento de especialista em educação é, no Brasil, avesso à prática do esporte competitivo na escola. Defende a prática de atividade física, o esporte educacional, o esporte de lazer. Esporte, no entanto, nada tem a ver com exercitar-se, fazer polichinelos ou agachamentos.
Antes de chegar ao ponto nevrálgico, conto um fato da vida real: certo domingo, cinco pessoas saíram para um treino de ciclismo. E optaram por realizar um rendez-vous.
Explico: não se trata de frequentar um lupanar. Um rendez-vous é quando um ciclista puxa o grupeto por um determinado período de tempo, deriva e o que está imediatamente atrás passa a puxar, e assim consecutivamente, mantendo-se sempre alta a cadência e constante a velocidade.
Pedalamos, pelas vias de Brasília, com método, com disciplina, com força, com rigor. Mantendo a velocidade sempre alta. E sempre quer dizer no mínimo a 33 km/h, chegando a 45km/h em certos momentos.
Nem todo esporte é como ciclismo, maratona, maratona aquática, triatlo, iron man. Tiro com arco é esporte, modalidade que integra o programa dos Jogos Olímpicos. Mas igualmente como os esportes que exigem grande esforço físico, requer disciplina. Sob todos os aspectos. O que implica entrega.
Quem pratica esporte de alta intensidade tem a obrigação de treinar. De se submeter a uma disciplina exigente. Treinar com método e intensidade. Como fazia o maior corredor de todos os tempos, o tchecoeslovaco Emil Zatopek, o ''Locomotiva''.
O objetivo de quem pratica esporte de alta intensidade tem de ser apenas um: sair da zona de conforto. Essa busca, esse compromisso, é o que diferencia praticar esporte de frequentar academia para realizar atividade física. Como diria o Barão de Itararé, ''uma coisa é uma coisa; outra coisa é outra coisa''.
Quem se entrega ao esporte treina sempre. E quer sempre treinar mais. E com mais força. O que exige, além de método, entrega. Quando se bota a bicicleta na rua – ou sentamos na bicicleta ao rolo – é ida sem volta. A não ser que, por alguma razão inesperada, a pessoa ''quebre''. Esporte é uma coisa. Lazer, outra. Sintetizemos: NO PAIN NO GAIN (sem sofrimento não há resultados).
Praticar esporte nesse sentido acima citado resulta em educação. O esportista que busca o alto rendimento, independentemente da idade, aprende que sem disciplina e método não vai a lugar nenhum. E sem alimentação e suplementação, também não.
Crianças que, na escola, têm a possibilidade de serem iniciadas em atividades físicas – do velho polichinelo às flexões abdominais – poderão, um dia, tornar-se atletas de alto rendimento. Mas para que isso seja possível, só tem uma saída: praticar esporte.
O problema é que neste país inexiste a iniciação esportiva na escola. E por inexistir, quando aparece um Guga, uma Maria Esther, um Cielo, um Zanetti, um Adhemar Ferreira da Siulva, Marilson dos Santos, Manoel dos Santos e outros, que se tornam campeões em modalidade solitárias, é por singelo motivo: apesar de não terem sido incentivados quando crianças, decidiram, por conta e risco, saírem da zona de conforto.
Wilson Teixeira é jornalista e dedica este texto aos amigos de pedal Ivam, Maurício, Bob, Gaúcho e Leandro